SóProvas


ID
3396022
Banca
AOCP
Órgão
Prefeitura de Juiz de Fora - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  Considerações sobre a loucura

                                                                                                            Ferreira Gullar


      Ouço frequentemente pessoas opinarem sobre tratamento psiquiátrico sem na verdade conhecerem o problema. É bacana ser contra internação. Por isso mesmo traçam um retrato equivocado de como os pacientes eram tratados no passado em manicômios infernais por médicos que só pensavam em torturá-los com choques elétricos, camisas de força e metê-los em solitárias.

      Por isso mesmo exaltam o movimento antimanicomial, que se opõe à internação dos doentes mentais. Segundo eles, os pacientes são metidos em hospitais psiquiátricos porque a família quer se ver livre deles. Só pode fazer tal afirmação quem nunca teve que conviver com um doente mental e, por isso, ignora o tormento que tal situação pode implicar.

      Nada mais doloroso para uma mãe ou um pai do que ter de admitir que seu filho é esquizofrênico e ser, por isso, obrigado a interná-lo. Há certamente pais que se negam a fazê-lo, mas ao custo de ser por ele agredido ou vê-lo por fim à própria vida, jogando-se da janela do apartamento.

      Como aquelas pessoas não enfrentam tais situações, inventam que os hospitais psiquiátricos, ainda hoje, são locais de tortura. Ignoram que as clínicas atuais, em sua maioria, graças aos remédios neuroléticos, nada têm dos manicômios do passado.

      Recentemente, num desses programas de televisão, ouvi pessoas afirmarem que o verdadeiro tratamento psiquiátrico foi inventado pela médica Nise da Silveira, que curava os doentes com atividades artísticas. Trata-se de um equívoco. A terapia ocupacional, artística ou não, jamais curou algum doente.

      Trata-se, graças a Nise, de uma ocupação que lhe dá prazer e, por mantê-lo ocupado, alivia-lhe as tensões psíquicas. Quando o doente é, apesar de louco, um artista talentoso, como Emygdio de Barros ou Arthur Bispo do Rosário, realiza-se artisticamente e encontra assim um modo de ser feliz.

      Graças à atividade dos internados no Centro Psiquiátrico Nacional, do Engenho de Dentro, no Estado do Rio, criou-se o Museu de Imagens do Inconsciente, que muito contribuiu para o reconhecimento do valor estético dos artistas doentes mentais. Mas é bom entender que não é a loucura que torna alguém artista; de fato, ele é artístico apesar de louco.

      Tanto isso é verdade que, das dezenas de pacientes que trabalharam no ateliê do Centro Psiquiátrico, apenas quatro ou cinco criaram obras de arte. Deve-se reconhecer, também, que conforme a personalidade de cada um seu estado mental compõe a expressão estética que produz.

      No tal programa de TV, alguém afirmou que, graças a Nise da Silveira, o tratamento psiquiátrico tornou-se o que é hoje. Não é verdade, isso se deve à invenção dos remédios neurolépticos que possibilitam o controle do surto psíquico.

      É também graças a essa medicação que as internações se tornaram menos frequentes e, quando necessárias, duram pouco tempo – o tempo necessário ao controle do surto por medicação mais forte. Superada a crise, o paciente volta para casa e continua tomando as doses necessárias à manutenção da estabilidade mental.

      Não pretendo com esses argumentos diminuir a extraordinária contribuição dada pela médica Nise da Silveira ao tratamento dos doentes mentais no Brasil. Fui amigo dela e acompanhei de perto, juntamente com Mário Pedrosa, o seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional. 

      Uma das qualidades dela era o seu afeto pelas pessoas e particularmente pelo doente mental. Eis um exemplo: como o Natal se aproximava, ela perguntou aos pacientes o que queriam de presente. Emygdio respondeu: um guarda-chuva.

      Como dentro do hospital naturalmente não chovia, ela concluiu que ele queria ir embora para casa. E era. Ela providenciou para que levasse consigo tinta e tela, a fim de que não parasse de pintar.

      Ele se foi, mas, passado algum tempo, alguém toca a campainha do gabinete da médica. Ela abre a porta, era o Emygdio, de paletó, gravata e maleta na mão. “Voltei para continuar pintando, porque lá em casa não dava pé.” E ficou pintando ali até completar 80 anos, quando, por lei, teve que deixar o hospital e ir para um abrigo de idosos, onde morreu anos depois.

(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ferreiragullar/2016/02/174 1258-consideracoes-sobre-a-loucura.shtml)

Em relação à concordância verbal, assinale a alternativa em que o verbo em destaque está corretamente conjugado.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? Precisa-se de médicos que compreendam as diferenças das doenças mentais.

    ? Verbo corretamente conjugado no singular, ele marca a terceira pessoa do singular + índice de indeterminação do sujeito "se", verbo transitivo indireto.

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    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Seria bom se alguém (professores) comentassem questões como essa. Ainda não sei pq as outras estão erradas.

  • Pagamos o plano do Qconcursos para ter os benefícios principalmente dos comentários dos professores e não temos. Falta mais compromisso com os alunos!!

  • verbo + se com termo preposicionado verbo fica no singular. se= pis o sujeito está indeterminado. verbo +se sem termo preposicionado verbo irá concordar com o sujeito. se=P.A e sempre consigo passar para a voz passiva
  • se a particula se vier com preposição o verbo fica no singular

    ex: com e sem preposição

    contratam~se faxineiro........ plural sem preposição

    precisa-se de faxineiro......singular com preposição

  • Fiquei na dúvida entre a "A" e "E".

    E: Invertendo a ordem da oração tem-se "Os critérios determinados são obedecidos..."

    Não consegui enxergar o erro dessa.

    Porém, concordo que a letra A está correta.

  • verbo + pronome se + preposição- o verbo fica na terceira pessoa do singular.

  • Se o verbo vier acompanhado do SE e pedir preposição (VTI), então ficará no singular e o SE será índice de indeterminação.

    EX: Necessita-se de algumas coisas... Quem necessita, necessita de... O verbo fica no singular.

    Se o verbo vier acompanhado do SE e não pedir preposição (VTD), então irá para o plural e o SE será partícula apassivadora.

    EX: ConstataM-se diferentes coisas... O verbo irá para o plural.

  • SE- pronome apassivador --> VTD ou VTDI. Verbo fica no plural e a oração tem sujeito.

    SE- índice de indeterminação do suejeito --> VTI, VI, VL. Verbo fica no singular e a oração não tem sujeito.

    01) precisar --> VTI regido pela preposição DE (verbo fica no singular e "de médicos" é objeto indireto) CERTA.

    02) estudar--> VTD (verbo vai para o plural concordando com o seu suj. "novos métodos..." ERRADA.

    03) necessitar--> VTI regido pela preposição DE (verbo fica no singular e "de métodos..." é OBJ. IND.) ERRADA.

    04) constatar --> VTD (verbo concorda com o sujeito "diferentes formas...") ERRADA.

    05) obedecer--> VTI regido pela preposição A ( verbo fica no singular e " aos critérios..." é obj. indireto. ERRADA

  • VTD + SE ou VTDI + SE = Partícula apassivadora. Vai concorda com o sujeito.

    EX: Constatam-se diferentes formas de avaliar o paciente com doenças mentais.

    Alugam-se escritórios.

    -

    VTI/VL/VI + SE = Índice de indeterminação do sujeito. Sempre vai ficar na 3ª pessoa do singular.

    EX: Precisa-se de médicos que compreendam as diferenças das doenças mentais.

    Sonha-se com vidas melhores.

    Espero que tenha ajudado!

  • voz passiva sintética se faz com o "se"

    Ex:

    Vendem-se casas

    aluga-se carro

    compram-se joias

    **Bizu: o verbo tem que estar na 3° pessoas do singular ou plural. Tem que ter transitividade direta.

    Índice de indeterminação do sujeito também se faz com o "se"

    Ex:

    trabalha-se de dia.

    precisa-se de vendedores

    ***Bizu: verbo tem que estar na 3° pessoas do singular. Tem que ter transitividade indireta.

    OBEDECER - DESOBEDECER

    Sempre transitivo indireto: 

    * Todos obedeceram às regras.

    * Ninguém desobedece as leis.

    Quando o objeto é "coisa", não se utiliza "lhe" nem "lhes":

    ** As leis são essas, mas todos Desobedecem a elas

  • Primeiro passo é identificar se o verbo é VTD ou VI/VL/VTI. Caso seja VTI + se como na letra A, o sujeito é indeterminado, com o se sendo índice de indeterminação do sujeito e o verbo ficando na terceira pessoa do singular. Caso o verbo seja VTD + se, ocorre oração passiva sintética, sendo necessário observar se o sujeito paciente está no singular ou plural. Estando no plural, o verbo flexiona-se.
  • Aprendi um macete e quero deixá-lo para posteridade. Vejamos:

    Eliminem o "se" da frase e perguntem "o quê?" para o verbo. Vocês só podem perguntar "o quê?", não pode ser "de quê?" ou "em quê?". Tem que ser SEMPRE "o quê?". Se a resposta encaixar direitinho (sem pedir preposição), então essa resposta será o sujeito da oração e o seu núcleo determinará se o verbo flexiona ou não revelando se o "se" é índice de indeterminação do sujeito (não flexiona) ou partícula apassivadora (flexiona).

    Não entendeu? Vou usar as alternativas como exemplo. (A letra "A" é a resposta e eu vou deixar por último)

    B) Estuda-se novos modos de tratamento psiquiátrico para pacientes em estágio avançado.

    Estuda o quê? novos modos... Respondeu sem preposição, certo? Logo o restante da frase que está respondendo é o sujeito, só que o núcleo está no plural, mas o verbo está no singular e por estar no singular está errado. Deveria ser "Estudam-se novos modos..."

    C) Necessitam-se de métodos de internação que visem ao atendimento personalizado.

    Necessitam o quê? de métodos... Percebam que aqui o "o quê?" não se encaixa como pergunta (teria que pedir a preposição "de"). Por ter que pedir preposição é invariável e não deveria estar flexionado, logo também está errada. O certo seria "Necessita-se de métodos..."

    D) Constata-se diferentes formas de avaliar o paciente com doenças mentais.

    Constata-se o quê? diferentes... Novamente a pergunta se encaixou, mas o núcleo do sujeito está no plural e o verbo no singular. O certo seria: "Constatam-se diferentes..."

    E) Obedecem-se aos critérios determinados por lei sobre a organização do hospital psiquiátrico.

    Obedecem o quê? aos médicos... Aqui pediu a preposição "a", logo o verbo deveria estar no singular. O certo seria: "Obedece-se aos médicos..."

    E a letra A? Vamos a ela:

    A) Precisa-se de médicos que compreendam as diferenças das doenças mentais.

    Precisa o quê? de médicos... Percebam que a pergunta não se encaixou. Foi preciso ter a preposição "de" e por isso o verbo tem que estar no singular. E como o verbo obedeceu a essa regra essa é a alternativa correta.

  • Gabarito: A

    a) Precisa-se de médicos que compreendam as diferenças das doenças mentais.

    Quem precisa, precisa de algo. = VTI

    esse ''se'' é um índice de indeterminação do sujeito, portanto, deve ficar na 3° pessoa do singular.

    Pronome apassivador= VTD ou VTDI

    Índice de indeterminação do sujeito= VTI, VI e VL.