SóProvas


ID
3396034
Banca
AOCP
Órgão
Prefeitura de Juiz de Fora - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  Considerações sobre a loucura

                                                                                                            Ferreira Gullar


      Ouço frequentemente pessoas opinarem sobre tratamento psiquiátrico sem na verdade conhecerem o problema. É bacana ser contra internação. Por isso mesmo traçam um retrato equivocado de como os pacientes eram tratados no passado em manicômios infernais por médicos que só pensavam em torturá-los com choques elétricos, camisas de força e metê-los em solitárias.

      Por isso mesmo exaltam o movimento antimanicomial, que se opõe à internação dos doentes mentais. Segundo eles, os pacientes são metidos em hospitais psiquiátricos porque a família quer se ver livre deles. Só pode fazer tal afirmação quem nunca teve que conviver com um doente mental e, por isso, ignora o tormento que tal situação pode implicar.

      Nada mais doloroso para uma mãe ou um pai do que ter de admitir que seu filho é esquizofrênico e ser, por isso, obrigado a interná-lo. Há certamente pais que se negam a fazê-lo, mas ao custo de ser por ele agredido ou vê-lo por fim à própria vida, jogando-se da janela do apartamento.

      Como aquelas pessoas não enfrentam tais situações, inventam que os hospitais psiquiátricos, ainda hoje, são locais de tortura. Ignoram que as clínicas atuais, em sua maioria, graças aos remédios neuroléticos, nada têm dos manicômios do passado.

      Recentemente, num desses programas de televisão, ouvi pessoas afirmarem que o verdadeiro tratamento psiquiátrico foi inventado pela médica Nise da Silveira, que curava os doentes com atividades artísticas. Trata-se de um equívoco. A terapia ocupacional, artística ou não, jamais curou algum doente.

      Trata-se, graças a Nise, de uma ocupação que lhe dá prazer e, por mantê-lo ocupado, alivia-lhe as tensões psíquicas. Quando o doente é, apesar de louco, um artista talentoso, como Emygdio de Barros ou Arthur Bispo do Rosário, realiza-se artisticamente e encontra assim um modo de ser feliz.

      Graças à atividade dos internados no Centro Psiquiátrico Nacional, do Engenho de Dentro, no Estado do Rio, criou-se o Museu de Imagens do Inconsciente, que muito contribuiu para o reconhecimento do valor estético dos artistas doentes mentais. Mas é bom entender que não é a loucura que torna alguém artista; de fato, ele é artístico apesar de louco.

      Tanto isso é verdade que, das dezenas de pacientes que trabalharam no ateliê do Centro Psiquiátrico, apenas quatro ou cinco criaram obras de arte. Deve-se reconhecer, também, que conforme a personalidade de cada um seu estado mental compõe a expressão estética que produz.

      No tal programa de TV, alguém afirmou que, graças a Nise da Silveira, o tratamento psiquiátrico tornou-se o que é hoje. Não é verdade, isso se deve à invenção dos remédios neurolépticos que possibilitam o controle do surto psíquico.

      É também graças a essa medicação que as internações se tornaram menos frequentes e, quando necessárias, duram pouco tempo – o tempo necessário ao controle do surto por medicação mais forte. Superada a crise, o paciente volta para casa e continua tomando as doses necessárias à manutenção da estabilidade mental.

      Não pretendo com esses argumentos diminuir a extraordinária contribuição dada pela médica Nise da Silveira ao tratamento dos doentes mentais no Brasil. Fui amigo dela e acompanhei de perto, juntamente com Mário Pedrosa, o seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional. 

      Uma das qualidades dela era o seu afeto pelas pessoas e particularmente pelo doente mental. Eis um exemplo: como o Natal se aproximava, ela perguntou aos pacientes o que queriam de presente. Emygdio respondeu: um guarda-chuva.

      Como dentro do hospital naturalmente não chovia, ela concluiu que ele queria ir embora para casa. E era. Ela providenciou para que levasse consigo tinta e tela, a fim de que não parasse de pintar.

      Ele se foi, mas, passado algum tempo, alguém toca a campainha do gabinete da médica. Ela abre a porta, era o Emygdio, de paletó, gravata e maleta na mão. “Voltei para continuar pintando, porque lá em casa não dava pé.” E ficou pintando ali até completar 80 anos, quando, por lei, teve que deixar o hospital e ir para um abrigo de idosos, onde morreu anos depois.

(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ferreiragullar/2016/02/174 1258-consideracoes-sobre-a-loucura.shtml)

No que se refere às regras de colocação pronominal, assinale a alternativa em que a posição do termo destacado pode ser alterada.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    A) ...que se opõe à internação dos doentes mentais ? pronome relativo "que" sendo fator de próclise, única possibilidade possível.

    B) ... mas ao custo de ser por ele agredido ou vê-lo por fim à própria vida, jogando-se da janela do apartamento ? não se pode começar frase com pronome oblíquo átono, somente a ênclise possível (=após o verbo).

    C) ... como o Natal se aproximava ? temos um sujeito explícito e sem palavra atrativa, colocação pronominal facultativa, próclise (=se aproximava) ou a ênclise (=aproximava-se).

    D) ...isso se deve à invenção dos remédios neurolépticos ? pronome demonstrativo "isso" sendo fator atrativo, fator de próclise, é a única possibilidade.

    E) Trata-se, graças a Nise, de uma ocupação ? não se pode começar frase com pronome oblíquo átono, somente a ênclise está correta.

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • palavras NEGATIVAS e o QUE atraí o pronome SE para perto de si, outro bizu: pós pontuação e início de oração não se pode usar pronomes, pega esses bizu e vai acertar bastante questões!

    algum equívoco me corrigem!

  • GABARITO: LETRA C

    ► O pronome oblíquo átono pode ocupar três posições em relação ao verbo com o qual se relaciona: a ênclise (depois do verbo); a próclise (antes do verbo); e a mesóclise (dentro do verbo). Por ser uma partícula átona, não inicia oração e, entre os verbos de uma locução, liga-se a um deles por hífen.

    PRONOMES ATÓNOS: - me, nos, te, vos, se, o(s), a(s), lhe(s);

    PRÓCLISE

    Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo. Isso acontece quando a oração contém palavras que atraem o pronome:

    1. Palavras que expressam negação tais como “não, ninguém, nunca”:

    Não o quero aqui. / Nunca o vi assim.

    2. Pronomes relativos (que, quem, quando...), indefinidos (alguém, ninguém, tudo…) e demonstrativos (este, esse, isto…):

    Foi ela que o fez. / Alguns lhes deram maus conselhos. / Isso me lembra algo.

    3. Advérbios ou locuções adverbiais:

    Ontem me disseram que havia greve hoje. / Às vezes nos deixa falando sozinhos.

    4. Palavras que expressam desejo e também orações exclamativas:

    Oxalá me dês a boa notícia. / Deus nos dê forças.

    5. Conjunções subordinativas:

    Embora se sentisse melhor, saiu. / Conforme lhe disse, hoje vou sair mais cedo.

    6. Palavras interrogativas no início das orações:

    Quando te deram a notícia? / Quem te presenteou?

    MESÓCLISE

    Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. Isso acontece com verbos do futuro do presente ou do futuro do pretérito, a não ser que haja palavras que atraiam a próclise:

    Orgulhar-me-ei dos meus alunos. (verbo orgulhar no futuro do presente: orgulharei);

    Orgulhar-me-ia dos meus alunos. (verbo orgulhar no futuro do pretérito: orgulharia).

    ÊNCLISE

    Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo. Isso acontece quando a oração contém palavras que atraem esse tipo de colocação pronominal:

    1. Verbos no imperativo afirmativo:

    Depois de terminar, chamem-nos. / Para começar, joguem-lhes a bola!

    2. Verbos no infinitivo impessoal:

    Gostaria de pentear-te a minha maneira. / O seu maior sonho é casar-se.

    3. Verbos no início das orações:

    Fiz-lhe a pessoa mais feliz do mundo. / Surpreendi-me com o café da manhã.

    TODA MATÉRIA.

  • QUANDO HOUVER APENAS SUBSTANTIVO E O PRONOME, TANTO FAZ ENCLISE OU PROCLISE. NA CONDIÇÃO DE QUE NÃO HAJA PALAVRAS DE ATRAÇÃO.

    NATAL NÃO SE COMEMORA ASSIM. - > OBRIGATÓRIO PERTO DO NÃO.

    NATAL SE COMEMORA ASSIM. OU NATAL COMEMORA SE ASSIM. OPCIONAL ANTES OU DEPOIS DE COMEMORA.

    BOA SORTE E NÃO SE ESQUEÇA DE QUE TUDO É CONTRUÇÃO. E VOCE TEM A SORTE DE TER TODAS AS FERRAMENTAS QUE O CRIADOR TE DEU. LOGO, VOCÊ TEM A OBRIGAÇÃO DE VENCER !

  • .que se opõe à internação dos doentes mentais.

    haverá próclise obrigatória quando houver pronome relativo.

    B

    ... mas ao custo de ser por ele agredido ou vê-lo por fim à própria vida, jogando-se da janela do apartamento...

    Ao iniciar uma oração, NUNCA USE PRÓCLISE!!!

    C

    ... como o Natal se aproximava...

    Sujeito explícito pode tudo, desde que não haja palavra atrativa.

    GABARITO!!!

    D

    ...isso se deve à invenção dos remédios neurolépticos...

    Pronome demonstrativo atrairá a próclise

    E

    Trata-se, graças a Nise, de uma ocupação...

    Ao começar uma oração, use ênclise!!

  • mas "como' não é conjunção subordinativa?

  • Se não tem regra proibindo, então é permitido.