SóProvas


ID
3399106
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Câmara de Cabo de Santo Agostinho - PE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Insignificâncias indomáveis

Carla Dias


    Eu tenho medo de lagartixa e de atravessar rua quando o sinal está vermelho, ainda que não haja carros por perto. Meu medo é um algo estupendo, com suas pequenas armadilhas. Faz com que eu tema a alegria, enquanto me preencho de coragem ao lidar com desesperos indeléveis.

    Eu tenho medo de errar a palavra, de sair a outra, a mais torta, a menos a ver com o que eu, de fato, gostaria de dizer. E ainda tem o tom... sou desprovida de talento, quando dele depende o tudo do momento. Aquela coisa de a voz sair rascante, de se entregar à possibilidade de se aventurar no impossível, envergonhando-se dessa ousadia no segundo seguinte.

    Envergonhamento feroz é este.

    (...)

    Tenho medo reverberante de nunca chegar. Não a um lugar, a um destino. Falo sobre chegar ao ser invadida pelo pertencimento. Zerar a ansiedade desconcertante de não ter sido escolhida pela sensação plena de estar onde, tornar-se quem.

    Há quem diga que meus medos são banalidades travestidas de tragédias. Há os que não suportam meus dramas, de tão ridículos os tantos lhes parecem. Contudo, tenho certa dificuldade em compreender a irrelevância de se sentir deslocada no tempo e no espaço, desprovida de identidade, além daquela criada para atender à necessidade de tocar a vida, sem direito a toque que não seja o de recolher-se na própria impotência de provocar o movimento.

    Estagnar-se em conluio com um adiantamento robusto de arrependimentos.

    Meus dramas, essas insignificâncias indomáveis, embebidas em esperança desmilinguida de, dia desses, a vida me oferecer e entregar o oferecido.

    Que susto será!

    Que prazer de curar azedumes!

    Que loucura eficaz!

    Reviravoltas constantes me deixam com desejo aguçado de parar à porta da insanidade, para observar obsoletos santos sendo pessoas em busca de pessoas para conversar sobre seus desvios de conduta, ao se proclamarem heróis, enquanto comentem suas covardias e benevolências.

    Falar mal, fazer bem, desacreditar para então identificar o que vale a pena.

    Amar... odiar... amar odiar. Odiar a mando do tempo perdido com o vazio.

    Mas que o ser humano é de uma incoerência que encanta, enquanto aflige.

    (...)

    A mente tem seus truques, e como ótima equilibrista de absurdos que é, acontece de ela projetar na nossa história uma proteção que acaba por se mostrar precipício. Então, há vezes em que ela se desapega de nós, inventando uma realidade alternativa na qual nos enveredarmos, feito o filme que assisti, sobre a mente de um homem mudando todo o enredo do ocorrido, a fim de protegê-lo do impossível que ele acabara de cometer.

    Sim, ela também comete benevolência, improváveis realizações, descobertas necessárias.

    Sim, ela tem seu lado sórdido.

    A mente me mete medo. Ainda assim, é ela que mais me fascina. Não a minha, que dela eu nunca vou saber ao certo. A tal vai seguir os seus delírios e, talvez, eu nem me dê conta da existência deles ou venha a saber quais provocações eles lideraram.

    A do outro...

    A mente que para mim é mistério, que me provoca a curiosidade sobre o que não sou ou penso. Sobre as versões do que conheço. Basta um espaço que a mente injeta na certeza para se construir aquela pausa onde moram frágeis pontes que conectam improváveis, porém compatíveis buscas.

    Tenho medo de viver busca que é tempo perdido disfarçado de exuberante conquista. É ali, no limiar das suas agonias, que eu me esparramo. Meu corpo vibra buscas e medos e perdas e fantasias.

    Minha mente diz que não tenho saída.

    Permaneço.

    Meu sentimento diz que minha mente mente.

    Fujo.

    Meu medo, ah, meu medo...

    Ele me coloca cara a cara com a vida.

    Vivo.


Adaptado de: <http://www.cronicadodia.com.br/2019/10/insignificancias-indomaveis-carla-dias.html>. Acesso em: 17 nov. 2019.

A palavra destacada no trecho “Faz com que eu tema a alegria, enquanto me preencho de coragem ao lidar com desesperos indeléveis.” poderia ser substituída, sem alteração significativa de sentido no contexto apresentado, por

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    ? ?Faz com que eu tema a alegria, enquanto me preencho de coragem ao lidar com desesperos indeléveis.?

    ? O adjetivo em destaque significa aquilo que é indestrutível, que não pode ser desfeito.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Típica questão que exige dos candidatos amplo conhecimento de vocábulos. Não adianta reclamar! Questões como essa são constantes em provas, mas não se pode negar que é uma covardia com os candidatos.

    Eu particularmente não sabia o significado de INDELÉVEIS e errei a questão por tentar descobrir o significado pelo contexto do texto e da frase. Realizei a consulta do significado somente depois de responder, agora não esqueço mais.

    Significado de Indelével

    adjetivo

    >>>> Que não pode ser apagado: tinta indelével.

    >>>> Que não se pode extinguir ou destruir; indestrutível.

    [Figurado] Que o tempo não corrói; permanente: recordação indelével.

    Etimologia (origem da palavra indelével). Do latim indelebilis.e.

    Sinônimos de Indelével

    Indelével é sinônimo de: durável, indestrutível, inextinguível, permanente

    Antônimos de Indelével

    Indelével é o contrário de: delével

    Definição de Indelével

    Classe gramatical: adjetivo de dois gêneros

    Separação silábica: in-de-lé-vel

    fonte: https://www.dicio.com.br/indelevel/

  • ou vc sabe o significado ou não sabe

  • É uma covardia! Quem vai ficar lendo o dicionário o tempo todo?

  • Não acho que seja covardia. O examinador quer verificar quais concurseiros são mais cultos.

  • Pelo contexto seria letra C.

  • Temos que ter uma força indelével para passar em um concurso dessa banca!

  • Gabarito D

    Questão avalia o conhecimento linguístico do candidato, o que é cada vez mais comum em provas de língua portuguesa.

    Indelével = que não pode ser pagado, indestrutível, inextinguível, que permanece

  • O concurseiro tem que andar agora com vade mercum mais um dicionário de língua portuguesa