SóProvas


ID
3399115
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Câmara de Cabo de Santo Agostinho - PE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Insignificâncias indomáveis

Carla Dias


    Eu tenho medo de lagartixa e de atravessar rua quando o sinal está vermelho, ainda que não haja carros por perto. Meu medo é um algo estupendo, com suas pequenas armadilhas. Faz com que eu tema a alegria, enquanto me preencho de coragem ao lidar com desesperos indeléveis.

    Eu tenho medo de errar a palavra, de sair a outra, a mais torta, a menos a ver com o que eu, de fato, gostaria de dizer. E ainda tem o tom... sou desprovida de talento, quando dele depende o tudo do momento. Aquela coisa de a voz sair rascante, de se entregar à possibilidade de se aventurar no impossível, envergonhando-se dessa ousadia no segundo seguinte.

    Envergonhamento feroz é este.

    (...)

    Tenho medo reverberante de nunca chegar. Não a um lugar, a um destino. Falo sobre chegar ao ser invadida pelo pertencimento. Zerar a ansiedade desconcertante de não ter sido escolhida pela sensação plena de estar onde, tornar-se quem.

    Há quem diga que meus medos são banalidades travestidas de tragédias. Há os que não suportam meus dramas, de tão ridículos os tantos lhes parecem. Contudo, tenho certa dificuldade em compreender a irrelevância de se sentir deslocada no tempo e no espaço, desprovida de identidade, além daquela criada para atender à necessidade de tocar a vida, sem direito a toque que não seja o de recolher-se na própria impotência de provocar o movimento.

    Estagnar-se em conluio com um adiantamento robusto de arrependimentos.

    Meus dramas, essas insignificâncias indomáveis, embebidas em esperança desmilinguida de, dia desses, a vida me oferecer e entregar o oferecido.

    Que susto será!

    Que prazer de curar azedumes!

    Que loucura eficaz!

    Reviravoltas constantes me deixam com desejo aguçado de parar à porta da insanidade, para observar obsoletos santos sendo pessoas em busca de pessoas para conversar sobre seus desvios de conduta, ao se proclamarem heróis, enquanto comentem suas covardias e benevolências.

    Falar mal, fazer bem, desacreditar para então identificar o que vale a pena.

    Amar... odiar... amar odiar. Odiar a mando do tempo perdido com o vazio.

    Mas que o ser humano é de uma incoerência que encanta, enquanto aflige.

    (...)

    A mente tem seus truques, e como ótima equilibrista de absurdos que é, acontece de ela projetar na nossa história uma proteção que acaba por se mostrar precipício. Então, há vezes em que ela se desapega de nós, inventando uma realidade alternativa na qual nos enveredarmos, feito o filme que assisti, sobre a mente de um homem mudando todo o enredo do ocorrido, a fim de protegê-lo do impossível que ele acabara de cometer.

    Sim, ela também comete benevolência, improváveis realizações, descobertas necessárias.

    Sim, ela tem seu lado sórdido.

    A mente me mete medo. Ainda assim, é ela que mais me fascina. Não a minha, que dela eu nunca vou saber ao certo. A tal vai seguir os seus delírios e, talvez, eu nem me dê conta da existência deles ou venha a saber quais provocações eles lideraram.

    A do outro...

    A mente que para mim é mistério, que me provoca a curiosidade sobre o que não sou ou penso. Sobre as versões do que conheço. Basta um espaço que a mente injeta na certeza para se construir aquela pausa onde moram frágeis pontes que conectam improváveis, porém compatíveis buscas.

    Tenho medo de viver busca que é tempo perdido disfarçado de exuberante conquista. É ali, no limiar das suas agonias, que eu me esparramo. Meu corpo vibra buscas e medos e perdas e fantasias.

    Minha mente diz que não tenho saída.

    Permaneço.

    Meu sentimento diz que minha mente mente.

    Fujo.

    Meu medo, ah, meu medo...

    Ele me coloca cara a cara com a vida.

    Vivo.


Adaptado de: <http://www.cronicadodia.com.br/2019/10/insignificancias-indomaveis-carla-dias.html>. Acesso em: 17 nov. 2019.

Considerando a colocação dos pronomes oblíquos na norma culta da Língua Portuguesa, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? Em ?A mente me mete medo.?, o pronome ?me? poderia ser utilizado após o verbo ?mete?, formando ?mete-me?, visto que o sujeito ?A mente? está explícito.

    ? Temos um sujeito explícito e nenhuma palavra atrativa (=colocação pronominal é facultativa, pode ocorrer tanto a próclise quanto a ênclise).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Casos em que a próclise é obrigatória:

    --> Pronome indefinido, demonstrativo ou relativo;

    --> Palavra negativa;

    --> Conjunção subordinativa e

    --> Advérbio.

    Casos em que a próclise é facultativa (não há obrigatoriedade nem proibição, pode usar a próclise ou a ênclise):

    --> Substantivo;

    --> Pronome pessoal do caso reto e

    --> Conjunção coordenativa.

    Casos proibidos de próclise:

    --> Depois de vírgula (iniciando a oração) e

    --> Início de oração.

    Mesóclise só com o verbo no futuro.

  • Gabarito: A Como a colocação é facultativa pode ocorrer próclise ou ênclise.
  • A) Em “A mente me mete medo.”, o pronome “me” poderia ser utilizado após o verbo “mete”, formando “mete-me”, visto que o sujeito “A mente” está explícito.

    CORRETA - SE NÃO HOUVER PALAVRA ATRATIVA A COLOCAÇÃO PRONOMINAL SERÁ SEMPRE FACULTATIVA. (NÃO HÁ PALAVRA ATRATIVA NA FRASE, LOGO PODE OCORRER TANTO PRÓCLISE QUANTO ÊNCLISE)

    B) Em “Estagnar-se em conluio com um adiantamento robusto de arrependimentos.”, o pronome “se” poderia vir no início da oração, formando “Se estagnar [...]”, pois é um caso facultativo de colocação pronominal.

    ERRADO - NÃO SE USA PRONOME OBLÍQUO ÁTONO NO INÍCIO DE FRASE.

    C) Em “Então, há vezes em que ela se desapega de nós [...]”, o pronome “se” deveria estar após o verbo “desapega”, formando “desapega-se”, para se adequar à linguagem formal.

    ERRADO - QUE É ATRATIVO DOS PRONOMES, LOGO OS PRONOMES DEVEM FICAR PRÓXIMOS A ELE

    D)Em “Reviravoltas constantes me deixam com desejo aguçado de parar à porta da insanidade [...]”, o pronome “me” deveria ser colocado após o verbo “deixam”, formando “deixam-me”, visto que o sujeito não está explícito.

    ERRADO - O ERRO ESTÁ NA PALAVRA "DEVERIA", O CORRETO SERIA "PODERIA" POR SE TRATAR DE UMA FACULTATIVIDADE

  • Complemento...

    Uma regra simples que pode salvar em outras questões:

    Se não há fator atrativo de próclise o pronome pode vir tanto em próclise quanto em mesóclise..

    A)“A mente me mete medo.

    A mente mete me medo.

    B) Em se Estagnar em conluio .

    Não podemos iniciar o período com pronome.

    C) o pronome “se” deveria estar após o verbo “desapega”, formando “desapega-se”, para se adequar à linguagem

    Não havendo fator de próclise o pronome pode adotar as duas posições.

    D) Em “Reviravoltas constantes me deixam com desejo aguçado de parar à porta da insanidade [...]”, o pronome “me” deveria ser colocado após o verbo “deixam”, formando “deixam-me”.

    Segue a mesma lógica.

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • Assertiva A

    Em “A mente me mete medo.”, o pronome “me” poderia ser utilizado após o verbo “mete”, formando “mete-me”, visto que o sujeito “A mente” está explícito.

  • Assertiva A

    Em “A mente me mete medo.”, o pronome “me” poderia ser utilizado após o verbo “mete”, formando “mete-me”, visto que o sujeito “A mente” está explícito.

  • fiquei entre a opção A e D , optei pela D porque não me atentei ao deveria, pois seria assim um fator de obrigação de ênclise, não facultativo. Q M!

  • Achei estranho esse negócio de sujeito explícito, nunca vi regra falando a respeito de sujeito explícito ou implícito. Eu hein....

  • GAB: A

    A) Em “A mente me mete medo.”, o pronome “me” poderia ser utilizado após o verbo “mete”, formando “mete-me”, visto que o sujeito “A mente” está explícito. CERTO

    B) Em “Estagnar-se em conluio com um adiantamento robusto de arrependimentos.”, o pronome “se” poderia vir no início da oração, formando “Se estagnar [...]”, pois é um caso facultativo de colocação pronominal. ERRADA ( NÃO SE COMEÇA FRASES COM PRONOMES OBLÍQUOS ÁTONOS)

    C) Em “Então, há vezes em que ela se desapega de nós [...]”, o pronome “se” deveria estar após o verbo “desapega”, formando “desapega-se”, para se adequar à linguagem formal. ERRADA

    D) Em “Reviravoltas constantes me deixam com desejo aguçado de parar à porta da insanidade [...]”, o pronome “me” deveria ser colocado após o verbo “deixam”, formando “deixam-me”, visto que o sujeito não está explícito. ERRADA

  • A questão é sobre a colocação dos pronomes e queremos encontrar em qual alternativa está sendo feito uso corretamente deles.

    COLOCAÇÃO PRONOMINAL Os pronomes pessoais oblíquos átonos me, te. se, lhe(s), o(s). a(s), nos e vos podem estar em três posições em relação ao verbo ao qual se ligam.

    O pronome colocado depois do verbo. Nesse caso, dizemos que há ênclise. Se estiver colocado antes do verbo, será um caso de próclise. O pronome oblíquo átono pode estar também no meio do verbo, colocação que é denominada mesóclise.

    Ênclise é a colocação normal do pronome na norma culta e geralmente é usada quando não cabe próclise e nem a mesóclise.

    Próclise é a colocação do pronome quando antes do verbo há palavras que exercem atração sobre ele

    ▪Palavra negativa (não, nem, nunca, ninguém, nenhum, nada, jamais, etc.) não seguida de pausa.

    ▪Advérbio não seguido de vírgula.

    ▪Pronomes relativos e indefinidos: que, quem, qual, todo, alguém…

    ▪Conjunção subordinativa.

    ▪Preposição “em” seguida de gerúndio.

    ▪Infinitivo pessoal precedido de preposição.

    ▪Orações exclamativas e interrogativas diretas.

    ▪Orações optativas, exclamativas ou interrogativas diretas.

    ▪Havendo entre o pronome oblíquo e a palavra que exerce atração um termo ou oração intercalados, a próclise continua sendo necessária

    Mesóclise é a colocação do pronome quando o verbo se encontra no futuro do presente ou no futuro do pretérito do modo indicativo desde que não haja condição de próclise.

    Após essas explanações podemos inspecionar os itens abaixo. Vejamos:

    a) Correta.

    “A mente me mete medo.”

    O pronome poderia estar tanto antes quanto depois do verbo, pois temos um sujeito expresso e não temos atrativo obrigatório de próclise.

    b) Incorreta.

    “Estagnar-se em conluio..."

    Essa é a única colocação pronominal possível, pois não se começa frase com pronomes oblíquos.

    c) Incorreta.

    “Então, há vezes em que ela se desapega de nós [...]”

    O pronome não deveria estar após o verbo, porque não se pospõe, em geral, pronome átono a verbo flexionado em oração subordinada .Toda parte iniciando do "que" está representando uma oração subordinada, o que atrai a próclise.

    d) Incorreta.

    “Reviravoltas constantes me deixam..."

    A frase não tem fator atrativo de próclise, portanto o pronome pode ficar tanto após quanto antes do verbo. O erro é falar que deveria está após.

    Referência bibliográfica:

    BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 39 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

    GABARITO: A

  • Pensei que esse negócio de sujeito explícito era invenção da banca, mas existe sim uma regra sobre:

    PRÓCLISE OU ÊNCLISE - O pronome pode ficar antes ou depois do verbo quando houver:

    1. sujeito explícito antes do verbo: 

    Ele se manteve Ele manteve-se irredutível em relação ao divórcio.

    Desde os dois anos de idade Laís se veste  Laís veste-se sozinha.

    William Golding se consagrouconsagrou-se como um mestre em esmiuçar questões complexas da natureza humana.

    Humilhar o vizinho se tornou / tornou-se uma obsessão para Joel.

    Por muito tempo aquelas pessoas se debateram debateram-se com o alcoolismo.

  • Gleivan oliviera verdad, apesar de serem muitas regras, eu também não vi sujeito explícito ou implícito...

  • Casos Facultativos (Assumir 02 posições): Próclise ou ênclise.

     Quando tem sujeito explícito. Aqui é o caso da questão.

     Verbos no infinitivo.

     RESISTA!! CONFIO EM VOCE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  • CORRETO.Sujeito explícito pode tudo, desde que não haja palavra atrativa.

  • CORRETO.Sujeito explícito pode tudo, desde que não haja palavra atrativa.

  • COMPLETANDO!

    c) Incorreta.

    “Então, há vezes em que ela se desapega de nós [...]”

    O pronome não deveria estar após o verbo, porque não se pospõe, em geral, pronome átono a verbo flexionado em oração subordinada .Toda parte iniciando do "que" está representando uma oração subordinada, o que atrai a próclise.