SóProvas


ID
3399229
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Câmara de Cabo de Santo Agostinho - PE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                        Não o suficiente

                                                                                                               Carla Dias


      Sentado à mesa, cercado por tantos. Entende bem o que acontece ali, mas é experiente em enganar os próprios sentidos, mesmo não gostando dessa qualidade da qual não consegue se livrar. Vale-se dela sempre que a oportunidade se apresenta. É um talento. Um incômodo talento.

      Permanece ali, os braços cruzados, a cabeça levemente inclinada, como se observasse o cenário que se estende além.

      Já conhece as manifestações que se alardeiam, durante esses encontros sociais. Na verdade, compôs uma canção, certa vez, com uma inquietante letra gerada de combinações de algumas delas: não cabe aqui, não serve para isso, não orna com aquilo, não é sua culpa, mas não vai dar certo.

      É bom, só que não o suficiente.

      Não ser o suficiente é meio que o slogan da vida dele, alguém considerado nada suficiente, até mesmo quando transborda. Acostumou-se a ser visto dessa forma.

      A tal canção tomou conta dele. É capaz de cantá-la de trás para frente, formar novos versos, bagunçar as palavras e, ainda assim, elas continuam ridiculamente cruéis. A melodia, não... Nela ele se recusa a mexer. Ela é a única beleza que reina plena nesse baile da saudade que acontece em seu dentro. Há ternura nessa afiada melodia, ela que é a única cria da qual ele não sente vergonha de ter trazido ao mundo.

      Apegou-se a uma frase que escutou um alguém verbalizar, enquanto passava por ele, depois de um dia de inutilidades profissionais. “Equilibrar-se é saber se desequilibrar com elegância.” Achou aquilo de uma sabedoria profunda e profana. De uma dualidade revigorante, porque se considera equilibrado com a boca cheia de palavras engolidas, de mágoas salientes, de lamentos reverberantes. Daqueles que bufa, do nada, assustando a pessoa que dorme sentada ao lado, em alguma sala de espera da vida.

      A elegância do desequilíbrio é o que mantém à mesa. Ninguém ali se importa de fato com ele, ou deseja escutar o que ele tem a dizer. Sabem seu nome, porque saber o nome oferece pompa, na hora de chamar o insignificante para o campo, e que ele batalhe pelos que significam. É como se chamassem um animal de estimação. Ele atende, rasteja-se, servil, até eles. Atende aos desejos desses sujeitos que acham que a própria dignidade mora na indignidade do outro.

      Os nada suficientes.

      Estranhamente, essas pessoas significam para ele. Há algo de aprendizado nessa labuta de dissonantes inseguranças travestidas de hierarquia. Estranhamente, ele se alimenta da espera pelo dia em que, rebelde como jamais antes, ele se levantará e partirá dali, deles. Sumirá das vistas, das teias, das inseguranças desses significantes que não sabem significar sem desidentificar o outro.

      Equilibrar-se ao desequilibrar-se com elegância, para ele, é combater, na singeleza do insignificante, uma diplomacia mimada, das que atendem a todos os clichês abrandadores de mal-estar. Então, quando dão a vez a ele, permitem ao insuficiente se manifestar, ele sorri e se cala, enquanto rumina a ciência de que, sim, ele sabe que não é o suficiente, ao menos não para atender ao catálogo dos desejos impróprios. Porque acha de uma impropriedade sibilante ter de atender aos desejos alheios, enquanto sufoca os próprios. 

      Ele sorri a certeza de que acontecerá o dia em que ele os reconhecerá, os desejos que vem diluindo em vulgares ironias, recebidas assim, embrulhadas em pequenas doses de falseada gentileza. O dia em que os libertará de uma polidez adquirida como proteção e os soltará no mundo, rebeldes e eletrizantes. Livres. 

      E isso será o suficiente. Ele será o suficientemente corajoso para se despedir de seus apaixonantes flagelos. Desequilibradamente equilibrado, dará a vez a si.

Disponível em:<http://www.cronicadodia.com.br/2019/08/nao-o-suficiente-carla-dias.html> . Acesso em: 16 nov. 2019.

O termo destacado em “[...] ele sabe que não é o suficiente [...]” é

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ? ?[...] ele sabe que não é o suficiente [...]?

    ? Sabe alguma coisa (=isso); conjunção integrante dando início a uma oração subordinada substantiva objetiva direta (=função sintática de objeto direto).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Gabarito "C"

    Conjunção integrante = Troque o "QUE" por "isso, disto, nisso, isto."

    Ex = O homem queria dizer QUE ele não é mais professor.

    O homem queria dizer "ISSO"

    Conjunção integrante: Introduz, orações, subordinadas, substantivas !!!

    Deixa o cara copiar se ele quiser.

  • o   Gabarito: C.

    .

    Conjunção Subordinativa Integrante

    - Introduz uma oração subordinada substantiva.

    - É possível substituir por "ISTO".

    - Ex: Sei que serei bonito.

  • GABARITO: LETRA C

    PRONOME RELATIVO : quando puder ser substituído por o qual, a qual, os quais, as quais...

    CONJUNÇÃO INTEGRANTE : quando puder ser substituído por ISSO/DISSO/NISSO.

  • Assertiva C

    uma conjunção integrante, a qual insere o complemento exigido pelo verbo “sabe”.

  • Inspecionemos o fragmento:

    “[...] ele sabe que não é o suficiente [...]”

    A partícula "que", notoriamente, introduz o complemento verbal oracional de um verbo (sabe). Quando exerce esse papel, significa que se trata de uma conjunção integrante, isto é, serve de termo introdutório para uma oração — no caso em tela, oração subordinada substantiva objetiva direta.

    a) um pronome relativo, pois refere-se ao termo anterior “ele”, a fim de não o repetir.

    Incorreto. Se fosse pronome relativo, resgataria um nome (substantivo ou pronome, a título de exemplo);

    b) uma conjunção explicativa, visto que inicia uma explicação sobre algo que o sujeito não compreendia.

    Incorreto. Se você uma conjunção com valor explicativo, introduziria uma oração adverbial, e não substantiva. Veja exemplo do "que" com valor de explicação. Exs.: ande, que tenho fome; corra mais depressa, que vem o ladrão; votemos sabiamente nas próximas eleições, que fora terrível o último presidente;

    c) uma conjunção integrante, a qual insere o complemento exigido pelo verbo “sabe”.

    Correto. Vide explanação inicial;

    d) uma conjunção coordenativa, pois une frases independentes.

    Incorreto. É conjunção integrante, porque introduz uma oração subordinada.

    Letra C

  • Letra C

    No caso da questão, ela é classificada como objetiva direta.

    Orações Subordinadas substantivas = São introduzidas pelas conjunções integrantes QUE/SE.

    TESTE = Substitua a oração subordinada substantiva por ISSO/NISSO/DISSO.

    Elas se classificam como = Subjetiva, predicativa, objetiva indireta, objetiva direta, completiva nominal, apositiva.

    Fonte: Prof: Elias Santana, Gran Cursos.

  • GABARITO LETRA C

    ele sabe que não é o suficiente . A dica é sempre observar o termo anterior a palavra "que", neste caso é um verbo. Logo, o "que" será uma conjunção integrante que dará inicio a uma oração subordinada. Outra dica é substituir por ISSO/DISSO/NISSO, toda vez que for possível, também será uma conjunção integrante

  • https://www.youtube.com/watch?v=HR0qab8gX7w&t=1118s

    Sabemos que o |"QUE"| enquanto conjunção integrante, ele inicia uma O.Sub. Substantiva.

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    nunca mais errar uma questão dessa!

    Canal; POTA CONCURSEIRO

  • Mais um bizu:

    Conjunção integrante vem sempre após verbo;

    Pronome relativo vem sempre após um nome (substantivo).