Milhares de pessoas adotam em Madri o
grito de Greta Thunberg diante da
crise climática
A falta de ação dos Governos contra o aquecimento
global leva manifestantes às ruas. “Os líderes estão nos
traindo”, lamenta a jovem ativista sueca.
Milhares de pessoas saíram às ruas nesta sexta-feira
em Madri para exigir que os líderes políticos ajam
contra o aquecimento global. Os manifestantes uniram
sua voz à dos cientistas que alertam há anos através
de seus relatórios que as emissões de gases de efeito
estufa decorrentes das atividades humanas levam a um
aquecimento global que terá duras consequências.
Para a capital da Espanha, que acolhe até 13 de
dezembro a Cúpula do Clima da ONU — conhecida
como COP25 — , a manifestação maciça significou uma
explosão extraordinária de reivindicações climáticas.
Para a jovem ativista Greta Thunberg, promotora de um
movimento global de protesto contra o aquecimento e a
falta de ação dos Governos, foi mais uma sexta-feira de
protesto depois de uma longa travessia desde os EUA.
E, novamente, rodeada por milhares de pessoas, como
acontece com ela há muitos meses. A ativista, finalmente,
não conseguiu completar o percurso caminhando
por causa do grande afluxo de gente, embora tenha
participado do ato final. “Os líderes estão nos traindo.
Já chega”, lamentou Thunberg no fim da manifestação,
no palco que foi montado. “A mudança vem, quer vocês
gostem ou não”, acrescentou a respeito da pressão
sobre os presidentes vinda das ruas.
Neste último ano — esta é a segunda cúpula climática
de que Thunberg participa, a primeira foi em Katowice
(Polônia) e ela era uma ativista muito pouco conhecida
— a jovem se tornou uma estrela midiática e um ícone da
luta contra a mudança climática, que, como aconteceu
nesta sexta-feira antes da manifestação, não pode
caminhar pela COP25 sem uma forte escolta para
protegê-la dos jornalistas. A tal ponto se tornou uma
estrela que um dos momentos mais importantes da
anódina Cúpula do Clima de Madri, que está na metade,
é a manifestação desta sexta-feira e a participação de
Thunberg, que utilizou meios de transporte mais baixos
em emissões para chegar à Espanha.
“É preciso fazer algo já, antes que seja irreversível”,
resumiu o espírito do protesto Ainhoa Sánchez, uma
jovem de 17 anos, membro do coletivo da Extinction
Rebellion, durante a manifestação. A manifestação
desta sexta-feira é a terceira grande marcha contra a
passividade diante da mudança climática que acontece
em Madri. A primeira foi em março e foi protagonizada
por adolescentes e jovens que estão na vanguarda
desse protesto global. Da segunda, já em setembro e
enquadrada naquela que ficou conhecida como greve
mundial pelo clima, os adultos também participaram.
E na desta sexta-feira já não havia diferença de
idade, mas uma grande disparidade entre os números
de participação fornecidos pelos organizadores (que falaram de 500 000 pessoas) e os dados divulgados
pela Delegação do Governo, 15 000. Uma porta-voz
explicou que esses últimos dados são baseados nos
cálculos feitos por agentes do Corpo Nacional de Polícia
por meio de um helicóptero.
“É preciso fazer algo”, disse sobre a falta de ação contra
a mudança climática Ana Malón, de 54 anos, que veio
de Pamplona. A manifestação busca instar os cerca
de 200 países que se reúnem durante estes dias em
Madri — depois da renúncia do Chile a sediar este
evento anual devido aos intensos protestos que vive
— a serem mais ambiciosos na luta contra a mudança
climática. “Temos apenas dez anos para deter as
piores consequências da mudança climática”, explicou
o ator Javier Bardem, que do palco atacou o prefeito
de Madri, José Luis Martínez-Almeida, e o presidente
Donald Trump, chamando-os de estúpidos por suas
medidas contra o meio ambiente.
“Não queremos que vocês declarem a emergência
climática, mas que ajam”, espetou os responsáveis
políticos Vanessa Nakate, ativista ugandense do
movimento Fridays for Future, liderado por Thunberg.
Embora a cúpula de Madri seja uma reunião de
transição, durante a próxima semana, os países terão
uma oportunidade de ouro para serem mais ambiciosos
e se comprometerem a apresentar planos mais duros de
redução de suas emissões de efeito estufa. Manuel, de
56 anos, advertiu durante a marcha sobre a existência
de “um monte de relatórios e de centros de pesquisa”
que alertam que o caminho agora não é o correto.
A ciência, e isso os ativistas esgrimem com força, aponta
que os planos que os Estados têm sobre a mesa não
serão suficientes para que o aquecimento permaneça
dentro de níveis não catastróficos, razão pela qual são
necessárias reduções muito mais duras. “Temos de ser
capazes de dar uma resposta aos jovens”, reconheceu
antes da manifestação Valvanera Ulargui, diretora do
Escritório Espanhol de Mudança Climática.