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ID
3448549
Banca
FCC
Órgão
Câmara Legislativa do Distrito Federal
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão. 


   A obra de arte genial dribla de algum modo o efeito debilitador da passagem do tempo e adquire o poder de dizer coisas novas a sucessivas gerações de apreciadores. As grandes obras da ciência, como os tratados hipocráticos, foram criações que marcaram época, mas que a passagem do tempo reduziu à condição de peça de antiquário. Com a arte é diferente. 

   A obra de arte genial transcende sua época. Mas ela é fruto de uma época. O trabalho do artista inevitavelmente reflete os valores de uma época - ou aquilo que os alemães denominam "zeitgeist", o espírito definidor de um período histórico particular.

  Duzentos e cinquenta anos nos separam do nascimento de Mozart. Os seus 36 anos de intensa atividade musical transcorreram no século XVIII. Sua morte, em 1791, praticamente coincide com o desfecho dramático do século das luzes que foi a Revolução Francesa. 

  De tempos em tempos, surgem artistas que não se contentam em fazer escolhas dentro dos marcos definidos pelos adeptos de uma tradição estética − colegas, críticos e o público −, mas almejam ir além e escolher por si mesmos as regras do fazer criativo. 

   Em sua formação musical Mozart assimilou desde cedo, sob a rigorosa tutela do pai, a tradição clássica austríaca que tinha em Joseph Haydn a sua mais consumada expressão. Na juventude, Mozart se empenhou com extraordinário afinco ao desafio de dominar essa tradição. 

  Seu reconhecimento definitivo veio do próprio Haydn que, em comentário feito ao pai de Mozart, afirmou: "seu filho é o maior compositor de que tenho conhecimento". Seria difícil pedir mais. 

  Mozart não foi um revolucionário, como Beethoven. Ele jamais se propôs a subverter os marcos da tradição na qual se fez músico. O que é assombroso constatar é que Mozart conquistou a expansão de um potencial criativo sem que precisasse abdicar de uma estrita adesão ao rigor formal clássico. 

  Não seria descabido especular que o peso esmagador do seu gênio tenha contribuído para impelir Beethoven a embarcar na aventura radical da ruptura romântica. Pois se é verdade, como dizia Marx, que "a tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos", o que dizer de uma tradição na qual floresce um Mozart? 

  Como entender a gênese de um gênio da estatura de Mozart? A imagem da criança prodígio, que aos oito anos arrebatou ao piano as cortes de Londres e Versailles, pode sugerir pistas enganosas - a ideia de dons sobrenaturais ou talentos geneticamente determinados. 

  Como pondera o biólogo Edward Wilson, "não existe um gene para tocar bem piano. O que há é uma ampla conjunção de genes cujos efeitos favorecem destreza manual, criatividade, expressão emotiva, foco, espectro de atenção e controle de tom, ritmo e timbre. Essa conjunção também torna a criança bem-dotada propensa a tirar proveito da oportunidade certa na hora certa". Mozart foi um prodígio que se fez gênio. O seu caminho de criança prodígio a gênio maduro revela o acerto do verso de Hesíodo: "Ante os portais da excelência, os altos deuses puseram o suor". 

  O surgimento de um Mozart, em suma, pode ser entendido como o efeito da convergência, estatisticamente improvável, de um grande número de circunstâncias felizes: excepcional dotação genética; a fortuna de uma educação exigente numa esplêndida tradição musical; a convivência com modelos inspiradores; um clima cultural propício e uma energia pessoal vulcânica ligada a um não menos generoso impulso criador. Acidentes felizes acontecem. 

  Mozart certamente não tem a profundidade emotiva de Beethoven. Nem por isso, contudo, é menor que ele. Na obra de Mozart sentimos pulsar a crença na possibilidade de existência de uma ordem cósmica que nos transcende. Alguma coisa além da nossa capacidade de compreensão, mas que nos é facultado entrever ou intuir no contato com a música. Que o ânimo luminoso dessa arte esteja conosco na difícil jornada que o século 21 prenuncia. 


(Adaptado de: GIANNETTI, Eduardo. O elogio do vira-lata. São Paulo: Cia. das Letras, 2018, edição digital.) 

As normas de concordância estão respeitadas na frase:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

     a) Oferece-se, no contato com a música, coisas que estão além da nossa capacidade de compreensão, mas que conseguimos entrever ou intuir ? voz passiva sintética, o sujeito paciente está no plural, o correto é "oferecem-se" coisas.
     b) Pulsam nas músicas compostas por Mozart a crença na possibilidade de existência de uma ordem cósmica capaz de nos transcender ? sujeito simples posposto ao verbo, o núcleo é "crença" (=a crença pulsa).
     c) Sabe-se que a destreza manual, a criatividade e a expressão emotiva podem ser favorecidas por alguns genes, desde que estejam agrupados de determinada maneira ? correto, respectivamente, sujeito composto e logo após a concordância com o termo "genes".
     d) Ecoa, na análise a respeito do patamar de genialidade alcançado por Mozart, os sábios versos do poeta Hesíodo ? sujeito simples, posposto ao verbo e com núcleo no plural "versos", logo, o correto é flexionar o verbo no plural "ecoam".
     e) Há crianças, como o prodigioso Mozart, cujas habilidades especiais e determinadas conjunções as torna mais aptas a aproveitar a oportunidade certa ? sujeito composto, o correto é flexionar o verbo no plural (=tornam).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!? 

  • LETRA "C". SUJEITO ORACIONAL. "SABE-SE (ISSO) QUE..."

  • Assertiva C

    Sabe-se que a destreza manual, a criatividade e a expressão emotiva podem ser favorecidas por alguns genes, desde que estejam agrupados de determinada maneira.

  • Cada questão de Português da FCC demoro uns 3 minutos para fazer, tem que ser bem atento!

  • Na letra C não deveria ser "estejam agrupadAs"?

  • Lucas, o termo concorda com "genes", por isso está correto "agrupados".
  • GABARITO C

    A) Oferece-se, no contato com a música, coisas que estão além da nossa capacidade de compreensão, mas que conseguimos entrever ou intuir.

    O QUE OFERECE-SE? COISAS !

    Logo, o verbo para concordar deverá ficar no PLURAL. ----> OFERECEM

    B) Pulsam nas músicas compostas por Mozart a crença na possibilidade de existência de uma ordem cósmica capaz de nos transcender.

    O QUE PULSA? A CRENÇA!

    Logo, o verbo para concordar deverá permanecer no SINGULAR. ---> PULSA

    C) Sabe-se que a destreza manual, a criatividade e a expressão emotiva podem ser favorecidas por alguns genes, desde que estejam agrupados de determinada maneira.

    CERTINHA, FRASE CONCORDANDO COM TODOS OS VERBOS.

    D) Ecoa, na análise a respeito do patamar de genialidade alcançado por Mozart, os sábios versos do poeta Hesíodo.

    O QUE ECOA? OS SÁBIOS VERSOS !

    Logo, para concordar o verbo deverá ficar no PLURAL . ---> ECOAM

    E)crianças, como o prodigioso Mozart, cujas habilidades especiais e determinadas conjunções as torna mais aptas a aproveitar a oportunidade certa.

    TORNAM QUEM? AS CRIANÇAS !

    Logo, para concordar deverá ficar no PLURAL. ---> TORNAM

    bons estudos

  • Ao acertar essa questão surgiu uma luz no fim do túnel.

  • QUESTÃO ANULÁVEL

    A alternativa A também está correta, segundo Evanildo Bechara, que, aliás, é queridinho da FCC. Não deixe esta banca de m* te fazer de bobão. Veja o que diz o homem (Moderna Gramática Portuguesa. 37º edição. 2009. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro. 854 páginas. ISBN 9788520930496. Página 212):

    "[o se] exerce as seguintes funções sintáticas em face das unidades léxicas que com o pronome concorrem:

    [...]

    Índice de indeterminação do sujeito:

    vive-se bem.

    Lê-se pouco entre nós

    Precisa-se de empregados.

    É-se feliz.

    [...] Pelos exemplos acima, o se como índice de indeterminação de sujeito – primitivamente exclusivo em combinação com verbos não acompanhados de objeto direto –, estendeu seu papel aos transitivos diretos (onde a interpretação passiva passa a ter uma interpretação impessoal: Vendem-se casas = ‘alguém tem casa para vender’) e de ligação (É-se feliz). A passagem deste emprego da passiva à indeterminação levou o falante a não mais fazer concordância, pois o que era sujeito passou a ser entendido como objeto direto, função que não leva a exigir o acordo do verbo:

    Vendem-se casas (= ‘casas são vendidas’) = Vendem-se casas (= ‘alguém tem casa para vender’) = Vende-se casas.

    “Vende-se casas e frita-se ovos são frases de emprego ainda antiliterário, apesar da já multiplicidade de exemplos. A genuína linguagem literária requere vendem-se, fritam-se. Mas ambas as sintaxes são corretas [negrito meu], e a primeira não é absolutamente, como fica demonstrado, modificação da segunda. São apenas dois estágios diferentes de evolução. Fica também provado o falso testemunho que levantaram à sintaxe francesa, que em verdade nenhuma influência neste particular exerceu em nós...” [MAg.2, 181-183]".

    Aproveite para ver os gabaritos das seguintes questões, que foram baseadas nele:

    https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/13911e6b-51

    https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/fd3e000c-48