SóProvas


ID
3466150
Banca
IDECAN
Órgão
Câmara Municipal de Serra - ES
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto

A casa do futuro 


Quando explodir, a busca será por florestas, montanhas, até lugares isolados.Estou nessa.

   

    Meu sonho sempre foi trabalhar em casa e acordar tarde. Este último realizei jovenzinho, quando comecei a trabalhar em jornalismo. Minha família teve dificuldade para compreender meu novo estilo de vida – na época, eu morava com meus pais. Trabalhava numa revista semanal e, muitas vezes, ficava até 5, 6 da manhã na redação. Tomava café da manhã na rua e só ia dormir depois. Às 9, minha mãe gritava:

     – Acorda, preguiçoso!

     Pois é. Nunca entrou em sua cabeça que eu trabalhava mesmo até amanhecer. Certamente, me imaginava na esbórnia. Vivo esse problema até hoje. As pessoas tentam marcar reuniões de manhã, almoços. Se explico que escrevo a novela de madrugada e, portanto, não assumo compromissos antes das 13, 14 horas, me encaram como se eu fosse um inútil.

     Outro desejo realizei há alguns anos, quando passei a escrever novelas. Autor trabalha em casa! Hoje, o que era uma exceção tornou‐se tendência. Graças à internet, o número de pessoas que trabalham em casa é crescente.   Meu terceiro sonho é morar longe. Por que viver numa cidade poluída, com um trânsito infernal, se poderia morar num sítio, com galinhas, árvores frutíferas, quem sabe uma cascata? Acordar e dormir no silêncio das estrelas? Ou viver numa cidade pequena, bem pequena, onde as pessoas se cumprimentam na rua? Esse é o caminho que a população das cidades grandes deverá tomar, nos próximos anos.  

     Já andei pesquisando cidades próximas de São Paulo e do Rio. Ou até mais longe, como na região de Bonito, pela qual me apaixonei. Havia casas lindas, com riozinhos próximos e floresta exuberante. Quase fiz negócio. Só desisti ao refletir melhor. Poderia encontrar uma sucuri no riozinho tão lindo. Ou dormir com uma onça rondando a casa. É lindo preservar a vida selvagem, mas os animais caçam! Mesmo assim, seria menos perigoso viver entre sucuris e onças do que em grande parte das cidades pequenas. A violência virou uma loucura.

      O estilo de vida na grande cidade subsiste por causa da violência. São Paulo, entre outras cidades brasileiras, ainda permite que alguém viva num certo anonimato que, de certa forma, protege. Mas o futuro é irreversível: as grandes cidades serão lugares onde as pessoas irão para comparecer ao dentista ou assistir à opera. Elas viverão num pequeno círculo, de amigos próximos. E, no enorme círculo das redes sociais, para fazer contatos, encontrar amigos e namorar. Sim, o homem do futuro será paradoxalmente mais sozinho, mas também mais conectado, com relacionamentos duradouros que nunca viu pessoalmente. Pense bem: com uma paisagem tão linda como a deste país, por que passar os dias longe dela?  

      Viver fora da cidade será mais saudável e mais barato, com hortas domésticas, quem sabe até uma vaca leiteira? Coisas inéditas podem acontecer.

      Não acredito em Papai Noel, mas acredito que, um dia, a violência diminuirá. Será possível morar na floresta sem dormir de carabina na mão. A grande cidade também se tornará mais agradável, com menos pessoas no trânsito para ir trabalhar. O voo migratório já começou, mas não é ousado. Temerosas, as pessoas preferem condomínios fechados próximos às grandes cidades. Quando explodir, a busca será por florestas, montanhas, lugares até isolados. Estou nessa. Um dia ainda vou escrever logo depois de tirar o leite da vaca.

(Walcyr Carrasco. Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas‐e‐blogs/walcyr‐carrasco/noticia/2013/07/casa‐do‐bfuturob.html. Adaptado.)

Acerca do emprego do acento indicativo de crase, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.  


(     ) Em “Às 9, minha mãe gritava” (1º§), o emprego da crase é obrigatório, pois encontra‐se diante de numeral que se refere a horas.   


(   ) O uso em “assistir à opera” (7º§) é facultativo, pois o verbo “assistir”, no sentido empregado, é transitivo direto.  


(     ) Na oração “Temerosas, as pessoas preferem condomínios fechados próximos às grandes cidades.” (9º§), a crase é obrigatória devido à regência verbal de “preferir”.   


A sequência está correta em

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    (V) Em ?Às 9, minha mãe gritava? (1º§), o emprego da crase é obrigatório, pois encontra?se diante de numeral que se refere a horas ? correto, marcação de hora exata.

    (F) O uso em ?assistir à opera? (7º§) é facultativo, pois o verbo ?assistir?, no sentido empregado, é transitivo direto ? incorreto, o verbo "assistir" está empregado com o sentido de "ver" (transitivo indireto); crase é obrigatória.

    (F) Na oração ?Temerosas, as pessoas preferem condomínios fechados próximos às grandes cidades.? (9º§), a crase é obrigatória devido à regência verbal de ?preferir? ? a regência é nominal e vem do adjetivo "próximos"; próximos a algo (preposição "a") + artigo definido "as" que acompanha o termo "grandes cidades"=crase.

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  • #) Lembrem - se de que a regência do Verbo preferir varia a depender do contexto:

    -> A questão tentou te induzir quanto ao uso da preposição, mas ela é utilizada neste caso:

    Prefiro o biscoito à bolacha.(artigo + preposição)

    Prefiro biscoito a bolacha (Somente preposição, OBSERVAR o paralelismo: uso do artigo)

    Prefiro x a y.(somente a preposição)

    Prefiro ver futebol do que assistir à novela

    ( construção incorreta , o Verbo preferir pede preposição 'a')

    O verbo preferir também não aceita gradação:

    Prefiro mais x a y(construção incorreta)

    No texto da questão, não houve uma comparação entre preferir uma coisa à outra.

    #) Resumo Artigo,Crase,Paralelismo.

    O paralelismo é o uso de estruturas simétricas, paralelas, semelhantes, para expressar ideias semelhantes. Nosso contexto aqui é a coordenação de complementos com preposição e artigo. Observaremos que a presença ou não do artigo definido pode determinar a ocorrência de crase. Vejamos as possibilidades corretas:

    ✓ Temos direito a saúde, educação e segurança. (todos sem artigo)

    ✓ Temos direito a saúde, a educação e a segurança. (todos só com preposição)

    ✓ Temos direito à saúde, à educação e à segurança. (todos com preposição + artigo) Também é considerado correto usar apenas preposição e artigo no primeiro item somente (Segundo Napoleão Mendes de Almeida). 

    ✓ Temos direito à saúde, educação e segurança. (preposição + artigo) Contudo, não se pode usar apenas artigos a partir do segundo item.

    X Temos direito à saúde, a educação e a segurança. (sem paralelismo)

    A mesma lógica vale na coordenação de complementos verbais introduzidos pela preposição A, isto é, de verbos cuja regência exige a preposição A. Usarei como exemplo o verbo preferir. 

    Ex.: Prefiro Tom Jobim a Chico Buarque. (sem artigo, só preposição “a”)

    Ex.: Prefiro o Tom Jobim ao Chico Buarque. (preposição “a” + artigo “o” = “ao”) Ex.: Prefiro Tom Jobim a Gal Costa. (sem artigo; só preposição “a”)

    Ex.: Prefiro o Tom Jobim à Gal Costa. (preposição “a” + artigo “a” = “à”) Então, por paralelismo, usamos artigo antes dos dois complementos coordenados, o que pode implicar uso do acento grave; ou usamos ambos sem artigo, de maneira também simétrica. Na expressão “de X a Y”, indicativa de limites, extremos, marco inicial e final, devemos observar o paralelismo também. Isso implica dizer que devemos usar artigo antes dos dois limites ou antes de nenhum deles. Veja:

    ✓ As inscrições ocorrem de 2 a 10 de agosto. (só preposição)

    ✓ Tive várias profissões: trabalhei de engraxate a juiz federal. (só preposição)

    ✓ Estudamos de segunda a sexta. (só preposição)

    ✓ Estudamos da segunda à sexta. (preposição+artigo)

    ✓ O curso fica aberto de 8h a 18h. (só preposição)

    ✓ O curso fica aberto das 8h às 18h. (preposição+artigo) 

    Fonte:Aulas português Prof.Felipe Luccas, Estratégia Concursos.

  • (V) Em “Às 9, minha mãe gritava” (1º§), o emprego da crase é obrigatório, pois encontra‐se diante de numeral que se refere a horas.

    Na indicação de horas, marca-se o fenômeno crásico;

    (F) O uso em “assistir à opera” (7º§) é facultativo, pois o verbo “assistir”, no sentido empregado, é transitivo direto.

    O erro se aloja na afirmação de que o verbo é transitivo direto. Está claro que não o é, visto existe a marcação do fenômeno crásico. Há uma particularidade nesse verbo: tem-se aceitado a transitividade direta até mesmo no sentido de "ver"; entretanto, não nos aprofundemos nisso aqui;

    (F) Na oração “Temerosas, as pessoas preferem condomínios fechados próximos às grandes cidades.” (9º§), a crase é obrigatória devido à regência verbal de “preferir”.

    É incontestável que o verbo "preferir", usualmente, se comporta como bitransitivo (possui dois complementos verbais, um objeto direto e outro indireto); contudo, no caso em tela, sua transitividade difere da que nos afeiçoamos. Trata-se de um verbo transitivo direto (possui apenas um complemento verbal, objeto direto). O fenômeno crásico assinalado na estrutura se dá em virtude da regência do nome "próximo".

    Letra C

  • Eu acho errado dizer q o correto é a primeira pq oq existe é o fato de ser uma locução adverbial de tempo e de todas receberem acento grave.

  • Às 9 - sem o H de horas - me pegou.