SóProvas


ID
3467011
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Contagem - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

 A flor e a náusea


               Preso à minha classe e a algumas roupas,

vou de branco pela rua cinzenta.

            Melancolias, mercadorias espreitam-me.

Devo seguir até o enjoo?            

Posso, sem armas, revoltar-me?


Olhos sujos no relógio da torre  

                       Não, o tempo não chegou de completa justiça.

                                    O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações

  e espera.                                     

 O tempo pobre, o poeta pobre    

fundem-se no mesmo impasse.


                           Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

                    Sob a pele das palavras há cifras e códigos.

                 O sol consola os doentes e não os renova.

                              As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas

   sem ênfase.                                  


     Vomitar esse tédio sobre a cidade.

      Quarenta anos e nenhum problema

 resolvido, sequer colocado.       

         Nenhuma carta escrita nem recebida.

       Todos os homens voltam para casa.

          Estão menos livres mas levam jornais

                     e soletram o mundo, sabendo que o perdem.


     Crimes da terra, como perdoá-los?

            Tomei parte em muitos, outros escondi.

           Alguns achei belos, foram publicados.

       Crimes suaves, que ajudam a viver.

                  Ração diária de erro, distribuída em casa.

Os ferozes padeiros do mal.    

Os ferozes leiteiros do mal.     


           Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.

                     Ao menino de 1918 chamavam anarquista.

           Porém meu ódio é o melhor de mim.

   Com ele me salvo                      

                  e dou a poucos uma esperança mínima.


   Uma flor nasceu na rua!           

                                Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do

tráfego.                                 

Uma flor ainda desbotada     

      ilude a polícia, rompe o asfalto.

                                  Façam completo silêncio, paralisem os negócios,

  garanto que uma flor nasceu.


Sua cor não se percebe.      

Suas pétalas não se abrem.

   Seu nome não está nos livros.

        É feia. Mas é realmente uma flor.


                                      Sento-me no chão da capital do país às cinco horas

                                 da tarde e lentamente passo a mão nessa forma

  insegura.                               

                                             Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.

                            Pequenos pontos brancos movem-se no mar,

         galinhas em pânico.                      

                                        É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo

 e o ódio.                                

ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. São Paulo: Círculo do Livro, 1987. p. 13-14.

De acordo com a norma-padrão, a ênclise, colocação do pronome após o verbo, é obrigatória somente no seguinte verso:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde”

    → A única colocação pronominal correta é essa a frase (pronome oblíquo átono após o verbo, ênclise). A próclise está incorreta (visto que não se pode começar frase com pronome oblíquo átono "me sento").

    ☛ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • A posição do pronome oblíquo átono (me, te, se, lhe, vos, o[s], a[s], etc.) pode ser distintamente três: próclise (antes do verbo), mesóclise (entre o radical e a desinência verbal) e ênclise (após o verbo). Analisemos as alternativas para encontrarmos ocorrência em que há obrigação do pronome à frente do verbo:

    a) “Melancolias, mercadorias espreitam-me.”

    Incorreto. Não há obrigatoriedade, e sim facultatividade;

    b) “O tempo pobre, o poeta pobre / fundem-se no mesmo impasse.”

    Incorreto. Não há obrigatoriedade, e sim facultatividade;

    c) “Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde”

    Correto. Aqui há obrigatoriedade, visto que o pronome átono não pode encetar orações;

    d) “Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.”

    Incorreto. Não há obrigatoriedade, e sim facultatividade;

    e) “Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.”

    Incorreto. Não há obrigatoriedade, e sim facultatividade.

    Letra C

  • A regra para resolução é simplória:

    I) Havendo fator atrativo, obrigatoriamente temos que ter ênclise. Não havendo, ênclise ou próclise. Isso acontece em quase todas as assertivas exceto na letra c).

    II) não podemos iniciar frase com pronome..

    Me Sento no chão da capital do país às cinco horas da tarde (errado)

    Bons estudos!

  • 1. ÊNCLISE: Quando eu coloco o PRONOME OBLÍQUO FICA DEPOIS O VERBO.

    REGRA GERAL:

    1.1 VERBO NO INÍCIO DA ORAÇÃO/FRASE. Ex: Amei-te mais que a mim, bem mais que a mim.

    1.2 QUANDO HÁ PAUSA – USO DA VÍRGULA (silêncio, na fala, pontuação, na escrita).

    Ex: Barbeio-me, visto-me, calço-me. / Por gentileza, peça-lhe que venha aqui. Ex: Meu Deus, salvai! / Meu Deus, salvai-o! (pronome colado em vírgula não dá!)

    1.3 Ênclise dos pronomes: O, A, OS, AS – Podem sofrer alterações na forma, dependendo da terminação do verbo.

    1.4 Verbo terminado em VOGAL: Os pronomes o(s)/a(s) não se modificam. Ex: Ajudei-os, aceita-as.

    1.5 Verbo terminado em –R, -S, ou –Z e pronome assume a forma lo(s) / la(s).

    Ex: perde + o = perdê-lo / refe + as = refê-las / demo + a = demo-la.

    1.6 Verbo terminando em SOM NASAL. Terminações –am, -em, -õe, -ão..., o pronome fica no(s)/ na(s).

    Ex: ajudei-os, aceita-as.

  • Na próclise, o pronome surge antes do verbo. Costuma ser empregada:

    a) Nas orações que contenham uma palavra ou expressão de valor negativo. Exemplos:

    Ninguém o apoia.

    Nunca se esqueça de mim.

    Não me fale sobre este assunto.

    b) Nas orações em que haja advérbios e pronomes indefinidos, sem que exista pausa.Exemplos:

    Aqui se vive. (advérbio)

    Tudo me incomoda nesse lugar. (pronome indefinido)

    Obs.: caso haja pausa depois do advérbio, emprega-se ênclise. Por Exemplo:

    Aqui, vive-se.

    c) Nas orações iniciadas por pronomes e advérbios interrogativos. Exemplos: 

    Quem te convidou para sair? (pronome interrogativo)

    Por que a maltrataram? (advérbio interrogativo)

    d) Nas orações iniciadas por palavras exclamativas e nas optativas (que exprimem desejo). Exemplos: 

    Como te admiro! (oração exclamativa)

    Deus o ilumine! (oração optativa)

    e) Nas conjunções subordinativas. Exemplos: 

    Ela não quis a blusa, embora lhe servisse.

    É necessário que o traga de volta.

    Comprarei o relógio se me for útil.

    f) Com gerúndio precedido de preposição "em". Exemplos: 

    Em se tratando de negócios, você precisa falar com o gerente.

    Em se pensando em descanso, pensa-se em férias.

    g) Com a palavra "só" (no sentido de "apenas", "somente") e com as conjunções coordenativas alternativas. Exemplos:

     se lembram de estudar na véspera das provas.

    Ou se diverte, ou fica em casa.

    h) Nas orações introduzidas por pronomes relativos. Exemplos:

    Foi aquele colega quem me ensinou a matéria.

    Há pessoas que nos tratam com carinho.

    Aqui é o lugar onde te conheci.

  • na B aquela " / " da pra entender que cai na msm justificativa da C ...

  • alguém poderia explicar a B?

  • respondendo ao colega aqui abaixo, referente à B

    “O tempo pobre, o poeta pobre / fundem-se no mesmo impasse.”

    tempo pobre e poeta pobre são sujeitos substantivados. (mesmo que estejam em outra linha), então após eles podemos usar próclise ou ênclise. ''o tempo pobre e o poeta pobre se fundem ou fundem-se.''