SóProvas


ID
3475597
Banca
IBADE
Órgão
IDAF-AC
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1


      Antes que elas cresçam


    Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

    É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.

    Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.

    Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

    Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?

   Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.

   Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.

    Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.

    Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos. Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.

    Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, pôsteres e agendas coloridas de Pilot. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

     Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.

     No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.

    O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco.

     Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.



Affonso Romano de Sant´ Anna (Fonte: http://www.releituras.com/arsant_antes.asp, acesso em janeiro de 2020.) 




Texto 2


POEMA ENJOADINHO


Filhos... Filhos?

Melhor não tê-los!

Mas se não os temos

Como sabê-lo?

Se não os temos

Que de consulta

Quanto silêncio

Como o queremos!

Banho de mar

Diz que é um porrete...

Cônjuge voa

Transpõe o espaço

Engole água

Fica salgada

Se iodifica

Depois, que boa

Que morenaço

Que a esposa fica!

Resultado: filho,

E então começa

A aporrinhação:

Cocô está branco

Cocô está preto

Bebe amoníaco

Comeu botão. F

ilhos? Filhos.

Melhor não tê-los

Noite de insônia

Cãs prematuros

Prantos convulsos

Meu Deus, salvai-o!

Filhos são o demo

Melhor não tê-los...

Mas se não os temos

Como sabê-los?

Como saber

Que macieza

Nos seus cabelos

Que cheiro morno

Na sua carne

Que gosto doce

Na sua boca!

Chupam gilete

Bebem xampu

Ateiam fogo

No quarteirão

Porém, que coisa

Que coisa louca

Que coisa linda

Que os filhos são!


(Fonte: Vinícius de Moraes. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1987. p. 261-2.)

Assinale a alternativa contendo vocábulos acentuados pela mesma regra:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? exílio/ divórcio/ gírias (=ambas palavras são paroxítonas terminadas em ditongo seguido ou não de -s; penúltima sílaba tônica).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • A questão é sobre acentuação gráfica. Queremos a alternativa que todas as palavras são acentuadas pela mesma regra.

    Eu consigo afirmar que mais da metade das questões que pedem para achar alternativas que todas as palavras acentuadas são pela mesma regra querem paroxítonas terminadas em ditongo ou proparoxítonas.

    a) exílio/ divórcio/ gírias.

    TODAS PAROXÍTONAS terminadas em ditongo.

    b) pôsteres/ exílio/ país

    Incorreta. Respectivamente acentuadas pela regra da proparoxítona, paroxítona terminada em ditongo e regra do hiato.

    c) órfãos/ há/ princípio.

    Incorreta. Respectivamente acentuadas pela regra da paroxítona terminada em ãos, um monossílabo tônico terminada em A e paroxítona terminada em ditongo.

    d) mênstruo/ pôsteres/ há

    Incorreta. Respectivamente acentuadas pela regra da paroxítona terminada em ditongo, proparoxítona e monossílabo tônico terminada em A.

    e) exílio/ país/ órfãos.

    Incorreta. Respectivamente acentuadas pela regra da oxítona terminada em ditongo, regra do hiato e da paroxítona terminada em ãos.

    GABARITO A

  • GABARITO A

    PAROXÍTONA: penúltima sílaba tônica, isto é, deve ser pronunciada mais fortemente que as outras.

    elio/ dircio/rias.

    ____________________________________________________________

    DICA: grite a palavra e saberá qual a sílba mais forte.

    bons estudos

  • exílio/ divórcio/ gírias. todas paroxítona

  • A - exílio/ divórcio/ gírias = Correto! São paroxítonas terminadas em ditongo.

    B - pôsteres/ exílio/ país = Proparoxítona, Paroxítona terminada em ditongo e para Cespe se for solicitado pode seguir também a regra de eventual proparoxítona e Pa-ís palavra oxítona que possui a segunda vogal do hiato é a letra "I";

    C - órfãos/ há/ princípio = Paroxítona, monossílaba tônica terminada em "A" e Paroxítona terminada em ditongo;

    D - mênstruo/ pôsteres/ há = Paroxítona, proparoxítona e monossílaba;

    E - exílio/ país/ órfãos = Paroxítona, hiato com segunda vogal "I" e paroxítona

  • GABARITO: LETRA A

    COMPLEMENTANDO:

    Regra de Acentuação para Monossílabas Tônicas:

    Acentuam-se as terminadas em -a(s), -e(s), -o(s).

    Ex.: má(s), trás, pé(s), mês, só(s), pôs…

    Regra de Acentuação para Oxítonas:

    Acentuam-se as terminadas em -a(s), -e(s), -o(s), -em(-ens).

    Ex.: sofá(s), axé(s), bongô(s), vintém(éns)...

    Regra de Acentuação para Paroxítonas:

    Acentuam-se as terminadas em ditongo crescente ou decrescente (seguido ou não de s), -ão(s) e -ã(s), tritongo e qualquer outra terminação (l, n, um, r, ns, x, i, is, us, ps), exceto as terminadas em -a(s), -e(s), -o(s), -em(-ens).

    Ex.: história, cáries, jóquei(s); órgão(s), órfã, ímãs; águam; fácil, glúten, fórum, caráter, prótons, tórax, júri, lápis, vírus, fórceps.

    Regra de Acentuação para Proparoxítonas:

    Todas são acentuadas .Ex.: álcool, réquiem, máscara, zênite, álibi, plêiade, náufrago, duúnviro, seriíssimo...

    Regra de Acentuação para os Hiatos Tônicos (I e U):

    Acentuam-se com acento agudo as vogais I e U tônicas (segunda vogal do hiato!), isoladas ou seguidas de S na mesma sílaba, quando formam hiatos.

    Ex.: sa-ú-de, sa-í-da, ba-la-ús-tre, fa-ís-ca, ba-ú(s), a-ça-í(s)...

    FONTE: A GRAMÁTICA PARA CONCURSOS PÚBLICOS 3ª EDIÇÃO FERNANDO PESTANA.

  • LETRA (A)

    TODAS SÃO PAROXÍTONAS TERMINADAS EM DITONGO CRESCENTE.

  • fui por eliminação!

  • tem que ter bastante cuidado na hora de separar as palavras

  • Gabarito letra A -

    exílio - e-xí-li-o proparoxítona

    divórcio - di-vór-ci-o - proparoxítona

    gíria - gi-rí-a - proparoxítona

    Regra das proparoxítonas: todas são acentuadas.

    Seguindo a separação com o dicionário Aurélio. Melhor fonte de consulta para separação silábica

    Há dúvidas com a regra da paroxítona pela terminação por ditongo

  • Letra A - Todas são paroxítonas terminadas em ditongo crescente, também chamadas de proparoxítonas eventuais por apresentarem pronúncia oscilante.

  • gabarito A

    exílio/ divórcio/ gírias.

    E-xí-lio / di-vor-cio / gí-rias

    Aqui acontece o mesmo caso que ocorre com a separação da palavra: história.

    Existem duas formas de separar estas sílabas.

    HIS-TÓ-RIA (Seria acentuada por ser uma paroxítona terminada em ditonogo)

    ou HIS-TÓ-RI-A (seria acentuada porque toda proparoxítona é acentuada).

    ((E-xí-lio ou e-xí-li-o / di-vór-cio ou di-vór-ci-o / gí-rias ou gí-ri-as))

    (ps. Não há que se falar em regra de hiato, a regra do hiato é acentuar Í ou Ú quando eles forem a segunda vogal tônica e isso não se aplica a esta questão)

  • A.

  • A.

  • REGRA DAS PAROXITONAS.