SóProvas


ID
3476377
Banca
VUNESP
Órgão
Câmara de Mauá - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A ilusão da felicidade

            Do alto de seus mais de 80 anos e sempre com um sorriso calmo e uma dose de ironia, a tia de Leila, Dona Darcy, costuma dizer aos que gostam de se queixar da vida: “Aqui ainda não é o céu, não, gente. Aqui é a Terra. O céu vem depois”.
          Leila se lembra, às vezes, das palavras da tia quando vê pessoas buscando uma felicidade ideal: elas também estão procurando o céu na Terra. Achar que a vida pode ser um mar de rosas é correr o risco de se frustrar a cada meia hora.
          O problema é que essa corrida pela felicidade é estimulada de todas as formas pela cultura consumista em que estamos mergulhados até a cabeça. No mundo onde tudo se compra, a felicidade também virou produto, e passamos a acreditar na possibilidade absurda de adquiri-la ou de nos apossarmos dela como se fosse uma mercadoria qualquer. Não é: felicidade não se compra, não se encomenda, não se empresta. Somos felizes quando conseguimos, quando a vida permite. E sentir-se infeliz não é nenhum sinal de incompetência ou de baixo poder aquisitivo. Basta existir para estar sujeito à infelicidade. Ou basta não estar anestesiado.
       As pessoas se esquecem da natureza da felicidade e da precariedade da nossa própria natureza. Muitos querem ser felizes a qualquer preço. Esperam que os filhos sejam felizes, que o trabalho os faça muito felizes, que os romances e casamentos sejam eternamente felizes.
      Melhor seria encolher as expectativas. Se os filhos tiverem momentos felizes, pode-se levantar as mãos para o céu. Se os empregos proporcionarem alguma realização e trouxerem eventuais alegrias, já estarão de bom tamanho. E se os romances e casamentos permitirem que as pessoas vivam instantes prazerosos, se as fizerem rir de vez em quando, se permitirem o crescimento do outro sem opressão, as pessoas podem se dar por satisfeitas.
       Considerar que a felicidade é céu sem nuvens e que somos obrigados a encontrar a felicidade plena porque tudo hoje prega o direito, ou o dever, de ser feliz é afastar cada vez mais a felicidade possível. A obrigação de ser feliz é uma bobagem. A de ser muito feliz, uma loucura. Mas na cultura do muito, as pessoas acabam caindo nessa cilada.


(Leila Ferreira. Viver não dói. São Paulo: Globo, 2013. Adaptado) 

Na frase do 4º parágrafo – As pessoas se esquecem da natureza da felicidade e da precariedade da nossa própria natureza. –, a palavra destacada pode ser substituída, sem alteração de sentido, por

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    – As pessoas se esquecem da natureza da felicidade e da precariedade da nossa própria natureza. –

    O substantivo em destaque possui o seguinte significado: característica do que é ou está precário, incerto, frágil. A questão pede uma palavra com sentido sinônimo (semelhante); "fragilidade" (aquilo que é frágil, logo, é a nossa resposta).

    ☛ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Assertiva B

     precariedade = fragilidade.

  • Para resolver de forma mais eficaz uma questão sobre significação de uma palavra, que precisa ser substituída por outra de sentido equivalente, precisamos adotar duas estratégias de análise:


    (I) Identificar o significado da palavra isoladamente, por meio dos seus constituintes mórficos (morfemas, como prefixo, sufixo, radical, entre outros);

    (II) Resgatar o fragmento do texto no qual o termo em análise está presente para verificar se o contexto interfere na sua significação lexical (aquela identificada por meio da junção de suas partes, ou morfemas).


    Aplicando as estratégias anteriormente mencionadas, reconhecemos “precariedade" como palavra cujo radical nos remete a outra, “precário", a qual significa “insuficiente", “escasso". Somado a esse radical está o sufixo -DADE, cujo sentido é o de “qualidade de", ou ainda, “estado de". Assim, somente observando os morfemas de “precariedade", conseguimos saber que esse termo expressa “estado do que é precário". Vejamos como a palavra em análise é desenvolvida no texto:


    Fragmento: “As pessoas se esquecem da natureza da felicidade e da precariedade da nossa própria natureza. Muitos querem ser felizes a qualquer preço. Esperam que os filhos sejam felizes, que o trabalho os faça muito felizes".

    Na passagem anterior, a autora menciona que as pessoas desejam a felicidade eterna e intensa, porém se esquecem de que ela é efêmera, isto é, momentânea, essa é a sua natureza; além disso, nós temos uma natureza precária, ou seja, faltante, escassa, e, nesse caso, sem condições para abrigar uma felicidade plena. Logo, nossa natureza não teria condições de sustentar um estado constante de felicidade.


    Com base nas significações anteriores, assinalemos a opção em que esteja presente uma palavra que possa substituir “precariedade" sem prejuízo de sentido:

    A)    infantilidade.

    ERRADA.

    “infantilidade" significa “estado ou qualidade do que é infantil", referente ao universo da criança. Esse sentido não se aplica ao contexto do texto em questão.


    B) fragilidade. 

    CORRETA.

    Se “precariedade" é aquilo que se percebe “insuficiente", ou ainda, no contexto analisado, aquilo que não tem natureza suficiente para abrigar a felicidade, podemos inferir que, se somos precários, somos frágeis, por isso não temos condições de viver a felicidade plena, embora a desejemos.


    C) tranquilidade.

    ERRADA.

    Tranquilidade é referente a tranquilo, que está presente no universo de significações da calma, da paz e da ordem, não se correspondendo ao campo de significados da precariedade, relativo à insuficiência.


    D) credibilidade.

    ERRADA.

    Aquilo que tem credibilidade, tem “crédito", confiabilidade, ou ainda, verdade. Logo, se credibilidade apresenta relação com o que se pode confiar ou reconhecer como verossímil, verdadeiro, esses significados não se relacionam com os que compõem o universo de sentidos referente ao de “precariedade".


    E) responsabilidade.

    ERRADA.

    “Responsabilidade" nos remete a “responsável", sendo o estado ou a qualidade referente àquele que tem condições de responder pelos seus atos, ou de assumir um compromisso. Assim, “responsabilidade" não se corresponde semanticamente a “precariedade".

    RESPOSTA: B

  • Na frase do 4º parágrafo – As pessoas se esquecem da natureza da felicidade e da precariedade da nossa própria natureza. –, a palavra destacada pode ser substituída, sem alteração de sentido, por

    C)fragilidade.

    comentário: debilidade, fragilidade, inconstância.