SóProvas


ID
3487330
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Linhares - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto

O casamento da Lua


O que me contaram não foi nada disso. A mim, contaramme o seguinte: que um grupo de bons e velhos sábios, de mãos enferrujadas, rostos cheios de rugas e pequenos olhos sorridentes, começaram a reunir-se todas as noites para olhar a Lua, pois andavam dizendo que nos últimos cinco séculos sua palidez tinha aumentado consideravelmente. E de tanto olharem através de seus telescópios, os bons e velhos sábios foram assumindo um ar preocupado e seus olhos já não sorriam mais; puseramse, antes, melancólicos. E contaram-me ainda que não era incomum vê-los, peripatéticos, a conversar em voz baixa enquanto balançavam gravemente a cabeça.

E que os bons e velhos sábios haviam constatado que a Lua estava não só muito pálida, como envolta num permanente halo de tristeza. E que mirava o Mundo com olhos de um tal langor e dava tão fundos suspiros – ela que por milênios mantivera a mais virginal reserva – que não havia como duvidar: a Lua estava pura e simplesmente apaixonada. Sua crescente palidez, aliada a uma minguante serenidade e compostura no seu noturno nicho, induzia uma só conclusão: tratava-se de uma Lua nova, de uma Lua cheia de amor, de uma Lua que precisava dar. E a Lua queria dar-se justamente àquele de quem era a única escrava e que, com desdenhosa gravidade, mantinha-a confinada em seu espaço próprio, usufruindo apenas de sua luz e dando azo a que ela fosse motivo constante de poemas e canções de seus menestréis, e até mesmo de ditos e graças de seus bufões, para distraí-lo em suas periódicas hipocondrias de madurez.

Pois não é que ao descobrirem que era o Mundo a causa do sofrimento da Lua, puseram-se os bons e velhos sábios a dar gritos de júbilo e a esfregar as mãos, piscando-se os olhos e dizendo-se chistes que, com toda franqueza, não ficam nada bem em homens de saber... Mas o que se há de fazer? Frequentemente, a velhice, mesmo sábia, não tem nenhuma noção do ridículo nos momentos de alegria, podendo mesmo chegar a dançar rodas e sarabandas, numa curiosa volta à infância. Por isso perdoemos aos bons e velhos sábios, que se assim faziam é porque tinham descoberto os males da Lua, que eram males de amor. E males de amor curam-se com o próprio amor – eis o axioma científico a que chegaram os eruditos anciãos, e que escreveram no final de um longo pergaminho crivado de números e equações, no qual fora estudado o problema da crescente palidez da Lua.

(MORAES, Vinícius de. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 52-53, excerto.)

No período “O que me contaram não foi nada disso” (1º §), sobre o emprego do pronome demonstrativo “isso”, do ponto de vista discursivo, quanto à coesão textual, está correto afirmar que se trata de um referente:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA E

    ? O que me contaram não foi nada disso.

    ? O pronome demonstrativo "isso" retoma algo, ele tem valor anafórico (ana volta). O que é retomado não está apresentado anteriormente, é algo hipotético (usado para dar início ao texto).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Usos tradicionais:

    Isso=anafórica

    Isto= catafórico

    Aquilo= anafórica.

    Não esquecer:

    Situação no espaço :

    Este: Próximo da pessoa que fala

    Esse: próximo da pessoa com quem se fala

    Aquele : Distante das pessoas do discurso.

    Situação no Tempo:

    Este: Presente

    Esse: Passado ou futuro próximo

    Aquele : Passado remoto.

    Não esquecer:

    Este (regra) catafórico antecipa o que vai ser dito.

    Esse anafórico> Retoma o que vai ser dito.

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • O fragmento que se expõe no enunciado apresenta pronome demonstrativo, que desempenha função anafórica ou catafórica. O do enunciado (isso) é termo de função anafórica, remete ao que antes foi expresso; note, contudo, que nada foi expresso. O autor, portanto, embora se sirva de termo anafórico, se refere àquilo que não foi narrado.

    a) Incorreto. Alude ao que antes foi expresso, e não depois, função desempenhada por termos catafóricos;

    b) Incorreto. Há anáfora, porém o aludido não é o segmento "o que me contaram";

    c) Incorreto. Alude a termo anafórico;

    d) Incorreto. Alude ao que antes foi expresso, e não depois, função desempenhada por termos catafóricos;

    e) Correto. A despeito da não manifestação exprimida no texto, remete a termo anterior.

    Letra E

  • obrigado

  • Rapaz, só têm feras nos comentários. Valeu.

  • ANafórico: ANtes

  • Termo anafórico → refere-se a algo dito anteriormente.

    Termo catafórico → refere-se a algo que será dito posteriormente.