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ID
3487363
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Linhares - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto

O casamento da Lua


O que me contaram não foi nada disso. A mim, contaramme o seguinte: que um grupo de bons e velhos sábios, de mãos enferrujadas, rostos cheios de rugas e pequenos olhos sorridentes, começaram a reunir-se todas as noites para olhar a Lua, pois andavam dizendo que nos últimos cinco séculos sua palidez tinha aumentado consideravelmente. E de tanto olharem através de seus telescópios, os bons e velhos sábios foram assumindo um ar preocupado e seus olhos já não sorriam mais; puseramse, antes, melancólicos. E contaram-me ainda que não era incomum vê-los, peripatéticos, a conversar em voz baixa enquanto balançavam gravemente a cabeça.

E que os bons e velhos sábios haviam constatado que a Lua estava não só muito pálida, como envolta num permanente halo de tristeza. E que mirava o Mundo com olhos de um tal langor e dava tão fundos suspiros – ela que por milênios mantivera a mais virginal reserva – que não havia como duvidar: a Lua estava pura e simplesmente apaixonada. Sua crescente palidez, aliada a uma minguante serenidade e compostura no seu noturno nicho, induzia uma só conclusão: tratava-se de uma Lua nova, de uma Lua cheia de amor, de uma Lua que precisava dar. E a Lua queria dar-se justamente àquele de quem era a única escrava e que, com desdenhosa gravidade, mantinha-a confinada em seu espaço próprio, usufruindo apenas de sua luz e dando azo a que ela fosse motivo constante de poemas e canções de seus menestréis, e até mesmo de ditos e graças de seus bufões, para distraí-lo em suas periódicas hipocondrias de madurez.

Pois não é que ao descobrirem que era o Mundo a causa do sofrimento da Lua, puseram-se os bons e velhos sábios a dar gritos de júbilo e a esfregar as mãos, piscando-se os olhos e dizendo-se chistes que, com toda franqueza, não ficam nada bem em homens de saber... Mas o que se há de fazer? Frequentemente, a velhice, mesmo sábia, não tem nenhuma noção do ridículo nos momentos de alegria, podendo mesmo chegar a dançar rodas e sarabandas, numa curiosa volta à infância. Por isso perdoemos aos bons e velhos sábios, que se assim faziam é porque tinham descoberto os males da Lua, que eram males de amor. E males de amor curam-se com o próprio amor – eis o axioma científico a que chegaram os eruditos anciãos, e que escreveram no final de um longo pergaminho crivado de números e equações, no qual fora estudado o problema da crescente palidez da Lua.

(MORAES, Vinícius de. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 52-53, excerto.)

“começaram a reunir-se todas as noites para olhar a Lua, pois andavam dizendo que nos últimos cinco séculos sua palidez tinha aumentado consideravelmente.” (1º §)

Das mudanças feitas na redação do fragmento de período acima, aquela em que houve substancial alteração de sentido é:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    ? ?começaram a reunir-se todas as noites para olhar a Lua, pois andavam dizendo que nos últimos cinco séculos sua palidez tinha aumentado consideravelmente.? (1º §) ? o termo em destaque é uma conjunção coordenativa explicativa, na letra "d" temos uma mudança substancial de sentido: 

    começaram a reunir-se todas as noites para olhar a Lua, conquanto andassem dizendo que nos últimos cinco séculos sua palidez tinha aumentado consideravelmente ? a conjunção em destaque classifica-se como subordinativa concessiva (muda o sentido, logo, é a nossa resposta).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • No trecho apresentado, é notória a presença da conjunção "pois", que possui dúbia classificação. Para Celso Cunha e Lindley Cintra, a referida conjunção, e outras de afim natureza, a exemplo do "porque", possuem ora sentido causal, ora sentido explicativo; entretanto, ao se observarem as opções, percebemos a noção de causal. É preciso, pois, assinalar a alternativa em que o sentido seja discrepante.

    a) Incorreto. A conjunção "porque" conserva o sentido causal;

    b) Incorreto. A estrutura "em razão de" conserva o sentido causal;

    c) Incorreto. A conjunção "como", no introito da frase, conserva o sentido causal;

    d) Correto. A conjunção "conquanto" não conserva o sentido causal, pois denota concessão;

    e) Incorreto. A estrutura "em virtude de" conserva o sentido causal.

    Letra D

    Referência bibliográfica: Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra.

  • Concessivas:

    Ainda que, mesmo que, se bem que, por mais que, conquanto, posto que, embora, apesar de que, em que pese, malgrado, a despeito de , não obstante.