SóProvas


ID
3489355
Banca
IBADE
Órgão
CRMV - ES
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

"Em 1987, eu trabalhava no Museu do Índio (FUNAI/RJ) quando participei da organização de um encontro de professores da etnia Karajá, reunindo representantes dos subgrupos Karajá, Javaé e Xambioá. Na preparação daquele encontro, que se realizaria em julho de 1988, na aldeia Karajá de Santa Isabel do Morro, na Ilha do Bananal, visitei várias aldeias da etnia, inclusive aquelas mais ao norte, do subgrupo Xambioá. Ao chegar pela primeira vez na aldeia do PI Xambioá, já estudava a língua Karajá há algum tempo, tendo defendido no ano anterior minha dissertação de mestrado sobre aspectos da gramática dessa língua. Por isso, arrisquei-me a tentar conversar em Karajá com as crianças que vieram em um bando alegre me receber, quando o jipe da FUNAI, que me trazia, parou no posto indígena, próximo à aldeia.

- 'Aõhe!' saudei em Karajá. 'Dearã Marcus Maia wanire' , me apresentei. Imediatamente cessou a algazarra e fez-se um silêncio pesado entre os indiozinhos. Entreolhavam-se desconfiados e sérios. 'Kaiboho aõbo iny rybé tieryõtenyte?' Vocês não sabem a língua Karajá, perguntei. Ameninada, então, se afastou em retirada estratégica. Fui, em seguida, à casa de uma líder da comunidade, a Maria Floripes Txukodese Karajá, a Txukó, me apresentar. Lá, um dos meninos me respondeu: - 'A gente não fala essa gíria não, moço!' Outro, maiorzinho, concordou: - 'Na cidade, a gente diz que nem sabe de índio, que nem fala o indioma, senão o povo mexe com a gente' .O preconceito de que os indígenas brasileiros são alvo por parte de muitos brasileiros não indígenas é, sem dúvida, um dos fatores responsáveis pelo desprestígio, enfraquecimento e desaparecimento de muitas línguas indígenas no Brasil. Durante minha estada nas aldeias Xambioá, discuti com anciãos, lideranças, professores e alunos, a situação de perda da língua em relação a aldeias em que a língua e a cultura Karajá encontram-se ainda fortes. É interessante notar que, durante a minha temporada na aldeia, quando continuei sempre a exercitar o meu conhecimento da língua indígena, era frequentemente procurado por grupos de crianças e jovens, que vinham me mostrar palavras e frases que conheciam e testar o meu entendimento delas. Os mesmos meninos que haviam inicialmente demonstrado sentir vergonha de falar Karajá, dizendo-me nem conhecer 'aquela gíria' , assediavam-me agora, revelando um conhecimento latente da língua indígena muito maior do que eles próprios pareciam supor! Divertiam-se em demonstrar àquele tori (o não índio, na língua Karajá) que valorizava e tentava usar a língua Karajá que, na verdade, conheciam, sim, a língua indígena. Vários pais também vieram me relatar sua grande surpresa por verem as crianças curiosas, perguntando e se expressando na língua Karajá, não só pronunciando palavras e frases inteiras, como até ensaiando diálogos e narrativas tradicionais."

(...)

(Trecho retirado da introdução do livro - Manual de Linguística: subsídios para a formação de professores indígenas na área de linguagem. Maia 2006) 

"Por isso, arrisquei-me a tentar conversar em Karajá com as crianças que vieram em um bando alegre me receber, ( ... )"

A regência verbal indica a relação que um verbo estabelece com seu complemento.

Assinale a alternativa em que a regência verbal está sendo estabelecida da maneira correta assim como acontece no trecho retirado do texto.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

     a) Essa é a conclusão a que chegamos depois da reunião ? correto, chegamos a algo (preposição "a" usada corretamente antes do pronome relativo "que").

     b) Que horas você telefonou para o consultório? ? telefonou a algum lugar (preposição "a") + artigo definido "o" (ao consultório) e não "para".
     c) Aspiro um alto cargo dentro da empresa ? o verbo "aspirar" com sentido de "almejar" é transitivo indireto e rege a preposição "a" (aspirar a alguma coisa: a um alto cargo).

     d) Esqueci-me a encomenda da professora ? o verbo aqui está como pronominal, trata-se de um verbo transitivo indireto e que rege a preposição "de" (esqueci-me de alguma coisa: de+a= da encomenda).
     e) Minha encomenda custou a chegar ? custou alguma coisa (chegar); preposição "a" usada incorretamente.
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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • CUSTAR

    a) no sentido de ter valor – verbo intransitivo (adjunto adverbial de preço); Ex.: Romário custa U$ 6.000.000,00. A casa custou trezentos milhões de cruzeiros reais.

    b) no sentido de ser difícil, demorar – verbo transitivo indireto, regendo a preposição A.

    Obs.: Neste caso, o verbo só pode ser conjugado na terceira pessoa do singular, tendo como sujeito a coisa que é difícil (expressa por um verbo no infinito) e a pessoa para a qual a coisa é difícil é objeto indireto. Ex.: Custa-me ver a verdade. Custou-nos solucionar este caso. “... pouco me custa fazer-lhe a vontade” (Bernardo Guimarães).

    Portanto, seria totalmente errado dizer: “Eu custo a ver a verdade”. “Nós custamos a solucionar este caso”.

    Fonte:Gramática Para Concurso, Marcelo Rosenthal.

  • Questão na ordem inversa

    Essa é a conclusão a que chegamos depois da reunião.

    Chegamos a essa conclusão depois da reunião.

  • Não entendi o erro da B, pois quem telefona, telefona para alguém né? Então o Minidicionário da Língua Portuguesa (Evanildo Bechara) está errado.

  • Telefonar aceita "para" sim!

  • Sobre a alternativa B): O certo seria "A que horas você telefonou para o consultório?

    Não há erro em colocar o "para".