SóProvas


ID
3496504
Banca
IBADE
Órgão
SEJUDH - MT
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O PASTEL E A CRISE

Otto Lara Resende


      Quando a crise convida ao pessimismo ou a ameaça descamba na depressão, está na hora de ler poesia ou prosa, tanto faz.

      A partir de certa altura, bom mesmo é reler. Reler sobretudo o que nunca se leu, como repeti outro dia a um amigo que não é chegado à leitura. Ele mergulhou no Proust sem escafandro e se sente mal quando vem à tona e respira o ar poluído aqui de fora.

      Verdadeiro sábio era o Rubem Braga. Tinha com a vida uma relação direta, sem intermediação intelectual. Houvesse o que houvesse, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença, mas era também fruto do aprendizado que só a experiência dá. No pequeno mundo do cotidiano, sabia como ninguém identificar as boas coisas da vida. E assim viveu até o último instante.

      Certa vez, no auge de uma crise, crivada de discursos e de diagnósticos, o Rubem estava de olho nas frutas da estação. Madrugador, cedinho já sabia das coisas. Quando o largo horizonte nacional andava borrascoso, ele se punha a par das nuvens negras, mas não mantinha o olhar fixo no pé-direito alto da crise. Baixava o olhar ao rodapé, pois o sabor do Brasil está também no rés-do-chão.

      Num dia de greve geral, inquietações no ar, tudo fechado, o Rubem me telefonou: “Vamos ao bar Luís, na rua da Carioca? Vamos ver a crise de perto”. E lá fomos. O bar estava aberto e o chope, esplêndido. Começamos por um preto duplo, que a sede era forte. Depois mais um, agora louro. Claro que não faltou o salsichão com bastante mostarda. Calados, mas vorazes, cumpríamos um rito. Alguém por perto disse que a Vila Militar tinha descido com os tanques.

      Saímos dali e fomos a um sebo. O Rubem comprou “Xanã”, do Carlos Lacerda, com dedicatória. Depois pegamos o carro e voltamos pelo Aterro, onde se pode exercer o direito da livre eructação. Tinha sido um perfeito programa cultural. E sem nenhum incentivo do governo. Vi agora na televisão que o maracujá está em baixa e me lembrei do velho Braga.

      Nem tudo está perdido. Fui à feira e comprei também dois suculentos abacaxis. Caem bem nesta hora de atribulação nacional. Só falta agora descobrir um bom pastel de palmito na Zona Norte. Se o Rubem estivesse aí, lá iríamos nós atrás da deleitosa descoberta . Depois, de cabeça erguida , enfrentaríamos a crise e até o caos.

(RESENDE, O. Lara. Fonte: https://edoc.site/149572393-as-cem-melhores-cronicas-brasileiras-011-gpdf-pdf-free.html)

No período “Se o Rubem estivesse aí, lá íríamos nós atrás da deleitosa descoberta.” (§ 7), a correlação entre os tempos verbais foi feita corretamente, exprimindo uma modalidade verbal que pode ser entendida como:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    Se o Rubem estivesse aí, lá iríamos nós atrás da deleitosa descoberta.

    Temos a conjunção subordinativa condicional "se" marcando a hipótese para que algo possa vir a ocorrer, mas por que total impossibilidade? Porque Rubem Braga está morto. Pretérito imperfeito subjetivo (estivesse) + futuro pretérito indicativo ( iríamos). O futuro pretérito indicativo indica uma ação que deveria acontecer , mas não ocorreu devido algum obstáculo. Com isso, exprime uma modalidade verbal impossível de acontecer.

    ☛ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

     

  • Essa aqui merece uma atenção especial.

  • a) hipotética dúvida -> caso/ talvez o Rubem esteja..

    b) total impossibilidade -> se o Rubem estivesse..

    d) alguma possibilidade -> Se o Rubem estiver aí..

    GABARITO B.

  • Essa questão é bem rasteira: ela afirmam, no enunciado, que "a correlação entre os tempos verbais foi feita corretamente, exprimindo uma modalidade verbal que pode ser entendida como". A questão quer que o candidato diaga qual a ideia que pode ser exprimida por aquela modalidade verbal. Ao olharmos para a questão, percebemos, claramente, que os verbos da frase (Estar, Ir) estão, respectivamente, no Pretérito Imperfeito do modo Subjuntivo e Futuro do Pretérito do modo Indicativo. Em uma rápida pesquisa por sites sobre a Língua Portuguêsa, é possível se verificar as seguintes características para os aludidos modos e tempos verbais: Pretérito Imperfeito do modo Subjuntivo (apresenta o fato, a ação, mas de maneira incerta, imprecisa, duvidosa ou eventual. Este é o modo verbal exigido nas orações que dependem de outros verbos.), Futuro do Pretérito do modo Indicativo (expressa incerteza, surpresa e indignação, sendo utilizado para se referir a algo que poderia ter acontecido posteriormente a uma situação no passado). Dessa forma, a alternativa B - dada como certa pela Banca - mostra-se imcompatível com as próprias definições dos tempos e modos referidos (eles não exprimem total impossibilidade), no meu entender.

  • O verbo estiver está no pretérito imperfeito do subjuntivo.

    Definição da Web ():

    "O pretérito imperfeito do subjuntivo se refere a um fato que pode ter ocorrido ou não e é expresso pelas desinências –sse, -sses, -ssemos, -sseis, -ssem. Frequentemente, ele remete aos desejos, vontades, imaginação ou sentimentos do falante"

    O fato que não ocorreu é a presença de Rubem. Logo, há total impossibilidade de "irmos atrás da deleitosa descoberta", pois isto só ocorreria com a condição (se) da presença de Rubem.

  • 81% de erro ,Deus pai.

    #MERDAHARVEY

  • Assertiva b

    total impossibilidade.

  • Meu amigo, se você marcou letra D, você está no caminho certo !! Segue o baile !

  • Assim como eu acho que geral não leu o texto. O primeiro comentário diz que o sujeito tava morto...

  • Se avaliássemos a questão sem o texto, a resposta seria a letra D, mas como está inserido uma interpretação de texto, pode-se avaliar que a alternativa traz uma total impossibilidade, pelo fato de o Ruben estar morto.

  • enunciado da questão: "exprimindo uma modalidade verbal que pode ser entendida como". a questão está pedindo gramática, não semântica.

    justificativa para não anulação totalmente arbitrária:

    O objetivo da questão é avaliar o conhecimento do candidato acerca da “compreensão” do uso das modalidades verbais. Os recursos apresentados não procedem. Confirme-se o gabarito oficial publicado.  

    em https://www.ibade.org.br/Cms_Data/Contents/SistemaConcursoIBADE/Media/SEJUDH2018/resposta_recurso/gabarito/SUPERIOR_S01_LINGUA_PORTUGUESA.pdf