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ID
3497881
Banca
FCC
Órgão
SABESP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Escrevo estas linhas


      Escrevo estas linhas em agosto de 1943, depois da batalha de Stalingrado e da queda de Mussolini. É um livro de prosa, assinado por quem preferiu quase sempre exprimir-se em poesia. Esse suposto poeta não desdenha a prosa, antes a respeita a ponto de furtar-se a cultivá-la. Seria inútil repisar o confronto das duas formas de expressão, para atribuir superioridade a uma delas. Mas a verdade é que se a poesia é a linguagem de certos instantes, e sem dúvida os mais densos e importantes da existência, a prosa é a linguagem de todos os instantes, e há uma necessidade humana de que não somente se faça boa prosa como também que nela se incorpore o tempo, e com isto se salve esse último.

      Não há muitos prosadores entre nós que tenham consciência do tempo e saibam transformá-lo em matéria literária. Frequentemente a literatura se faz à margem do tempo ou contra ele – seja por incapacidade de apreensão, covardia ou cálculo. Daí o vazio e o desconforto do texto literário, como a insatisfação que ele desperta em cada vez mais descrentes leitores.

      Este livro começa em 1932, quando Hitler era candidato (derrotado) a presidente da República e termina em 1943, com o mundo submetido a um processo de transformação pelo fogo. Os que viveram em tal período terão de confessar-se transformados, mais sérios e esclarecidos, mais determinados quanto aos problemas fundamentais do indivíduo e da coletividade. Não lhes bastará fazer uso contínuo da palavra cultura ou da palavra justiça, mas antes devem contribuir com tudo o que tenham de bom para que essas palavras assumam seu conteúdo verdadeiro ou, então, sejam varridas do dicionário. E digo aos rapazes: Rapazes, se querem que a literatura tenha algum préstimo no mundo de amanhã, reformem o conceito de literatura. Reformem a própria capacidade de admirar e de imitar, inventem olhos novos ou novas maneiras de olhar, para merecerem o espetáculo novo de que estão participando.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Confissões de Minas. São Paulo: Cosac Naify, 2011, p. 11-13)

Daí o vazio e o desconforto do texto literário, como a insatisfação que ele desperta em cada vez mais descrentes leitores.

Uma nova redação da frase acima, iniciada pelo segmento Cada vez mais descrentes leitores..., poderá ter a seguinte complementação plenamente coerente e adequada: 

Alternativas
Comentários
  • Letra A) mostram-se insatisfeitos com o texto literário, dado o vazio e o desconforto nele manifestos.

    Correta pois o verbo mostrar é VTD sendo que mostram-se concorda com o sujeito DESCRENTES LEITORES sendo o restante OD: insatisfeitos com o texto literário, dado o vazio e o desconforto nele manifestos.

    Letra B) são despertados pela insatisfação do vazio e desconforto do texto literário que não lhes satisfazem.

    Quem fica insatisfeito, fica insatisfeito com algo, insatisfeito COM O VAZIO E O DESCONFORTO.

    Letra C) em função da insatisfação provocada pelo texto literário, despertam um vazio e um desconforto.

    Não se pode separar o sujeito do verbo, nem o verbo do seu complemento por vírgula!

    Letra D) despertam à insatisfação provocada pelo texto literário, em cujos vazio e desconforto recaem.

    Quem desperta algo, desperta algo em alguém, assim não temos crase por ausência de preposição.

    Letra E) atingem o vazio e o desconforto do texto literário, em cuja insatisfação são assim despertados.

    Uso incorreto do pronome relativo cuja, quem fica insatisfeito fica insatisfeito COM, e não insatisfeito EM.