Em
questões de reescrita elaboradas pela banca FCC, é necessário examinar
brevemente o que as opções trazem de prováveis ocorrências gramaticais que se
repetem. Feita essa identificação, conseguimos reconhecer os tópicos
gramaticais que são alvo da reescrita e, portanto, da correção dos erros
presentes.
Observando
as opções, antes mesmo de avaliá-las detalhadamente, verificamos que os períodos
se iniciam, em maioria, por expressões quantitativas. Além disso, há, também, a
presença de vírgulas (o que sempre é um sinal de se avaliar a pontuação) e de
algumas palavras com grafias/usos diferentes, como o conectivo “porque" e o
verbo “preferir". Assim, o levantamento de prováveis erros nos auxiliam a
pensar especificamente nos seguintes tópicos gramaticais que podem embasar o
raciocínio dos períodos de cada opção: concordância verbal (relação de número
entre expressões quantitativas e os verbos com os quais se relacionam);
pontuação (emprego de vírgula); regência verbal (uso do verbo “preferir" com
preposições diferentes) e ortografia (palavra “porque" empregada com grafias
distintas).
Com
base nesse levantamento, analisemos as opções.
A) A
maioria das pessoas gostam de usar óculos por que se sentem, mais elegantes e
sofisticadas.
ERRADA.
A
expressão “a maioria de", assim como outros termos partitivos (que indicam a
relação entre parte e todo) levam o verbo a concordar tanto com o núcleo quanto
com os termos especificadores, também chamados determinantes. No exemplo da
letra A, em “a maioria das pessoas", “maioria" é o núcleo da expressão e, por
ser coletiva, leva o verbo para a 3ª pessoa do singular, mesmo que expresse
ideia de quantidade. Ocorre que “das pessoas", determinante do núcleo, também é
uma possibilidade de concordância com verbo, o que possibilita usá-lo também na
3ª pessoa do plural. Então, “a maioria das pessoas gosta e gostam" são duas
possibilidades corretas de uso. No entanto, embora não haja erro em relação à
concordância verbal, o conectivo depois de “óculos", como expressa sentido de
explicação, deve ser escrito junto (PORQUE), e não separado (POR QUE).
Lembremos que o POR QUE é empregado quando significa “o motivo (pelo qual)", o
que não é o caso no contexto da letra A. Para finalizar a análise desta opção,
observe que o verbo “sentir" está indicando estado de espirito (como as pessoas
se sentem), o que o configura como “verbo de ligação". Note, ainda, que “elegantes
e sofisticadas" são características do sujeito, ligadas a ele justamente por
meio do verbo “sentir". Ora, feitas essas análises, fica claro reconhecer que
não se separar verbo de ligação de seu predicativo, o que está acontecendo com
a vírgula entre esses termos. A vírgula e o uso indevido do conectivo invalidam
a letra A como resposta. Reescrevendo, teríamos: a maioria das pessoas
gostam de usar óculos porque se sentem mais elegantes e sofisticadas.
B) Dois terços da população brasileira usam óculos só por uma
questão de charme e de elegância.
CORRETA.
Observe que a expressão “dois terços da população"
é fracionária. Segundo a tradição gramatical, quando o sujeito for um numeral
fracionário, há duas maneiras de fazer a concordância: se a expressão não tiver
especificadores (dois terços, por exemplo), o verbo concorda com o número de
cima (dois); caso contrário, com núcleo fracionário e com especificador, o
verbo concorda tanto com o numerador da parte fracionária quanto com o termo de
especificação. Neste caso, o verbo poderia tanto estar no plural (concordando
com o numerador “dois") quanto no singular (concordando com o coletivo especificador
“da população"). Além disso, o restante do período não apresenta ocorrência de
pontuação indevida, nem de qualquer outra questão. Destaque para o correto
paralelismo feito, por meio do uso explícito da preposição de, antes de “charme"
e de “elegância", pois, sempre que dois termos preposicionados estiverem
coordenados, sobretudo por E, essas preposições devem ser explicitadas para
manter uma coesão harmônica, ou um perfeito“paralelismo sintático".
C) Muitas pessoas preferem usar óculos do que lentes de contato
por que suas córneas não é prejudicada.
ERRADA.
Embora a concordância do sujeito “muitas
pessoas" com “preferem" esteja correta, a regência de “preferir" não está de
acordo com a norma padrão do Português. Segundo a norma, quem prefere “prefere
algo A outro", e não “do que", “mais do que", “principalmente do que", entres
outras variantes empregadas no uso popular da Língua. Ademais, o conectivo
explicativo PORQUE não deveria estar escrito com seus componentes separados,
como se mencionou na explicação referente à letra A, sem contar a expressão “suas
córneas", a qual sendo sujeito do verbo SER, deveria leva-lo para o plural, já
que está flexionada. Assim, reescrevendo, teríamos: muitas pessoas preferem
usar óculos a lentes de contato porque suas córneas não são prejudicadas.
D) Um grande número de gente, preferem usar lentes de contato
a óculos porque não sentem seus rostos modificado.
ERRADA.
O sujeito “um grande número de gente" está separado
do verbo por vírgula. Essa incorreção gramatical já seria suficiente para
invalidar a letra D como resposta, uma vez que não se pode usar vírgula para
separar sujeitos de verbos e, em ordem direta, verbos de complementos e
predicativos. Além dessa ocorrência, há também desvios claros de concordância,
pois o sujeito, embora formado por palavras que expressem quantidade, tem como
núcleo “número", escrito no singular, o que leva o verbo também para o
singular. Como “preferir" e “sentir" têm essa expressão como sujeito em comum, ambos
os verbos deveriam estar no singular. Soma-se a esses desvios o fato de o
adjetivo “modificado" não estar concordando com o substantivo ao qual se refere,
“rostos", que está no plural. Reescrevendo, teríamos: um grande número de gente prefere usar lentes de contato a
óculos porque não sente seus rostos modificados.
E) Como óculos encomodam o nariz um grande número de pessoas
optam com o uso de lentes de contato.
ERRADA.
Note que que há erro na escrita de incomodar, que é
registrado com “e". Além disso, sabe-se que o núcleo do sujeito é “número" e
que, portanto, o verbo deveria estar no singular. Soma-se a essa incorreção o
fato de “como óculos incomodam o nariz" ser uma oração subordinada adverbial causal
invertida (um grande número de pessoas opta pelo uso de lentes porque
óculos incomodam o nariz), ou seja, ela está posicionada antes da oração
principal. Justamente por esse deslocamento, a vírgula deve ser obrigatória
para sinalizar essa inversão ao leitor. Observe, ainda, que a regência do verbo
“optar" está errada; isso porque quem opta “opta por", no caso em questão, “pelo",
e não “com". A reescrita ficaria da seguinte forma: como óculos incomodam o nariz, um grande número de pessoas opta pelo uso
de lentes de contato.
Resposta: B