SóProvas


ID
3535339
Banca
IBFC
Órgão
Prefeitura de Petrópolis - RJ
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto


Fuga

(Fernando Sabino)


Mal o pai colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadeira pela sala, fazendo um barulho infernal.

    - Para com esse barulho, meu filho – falou, sem se voltar.

Com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.

    - Pois então para de empurrar a cadeira.

    - Eu vou embora – foi a resposta.

Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar do chão as suas coisinhas, enrolandoas num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de plástico com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da despensa? - a mãe mais tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.

A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente, o pai olhou ao redor e não viu o menino. Deu com a porta da rua aberta, correu até o portão:

    - Viu um menino saindo desta casa? – gritou para o operário que descansava diante da obra do outro lado da rua, sentado no meio-fio.

    - Saiu agora mesmo com a trouxinha – informou ele.

Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo do muro. A trouxa, arrastada no chão, ia deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o botão, o pedaço de biscoito e – saíra de casa prevenido – uma moeda de 1 cruzeiro. Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em direção à Avenida, como disposto a atirar-se diante do ônibus que surgia a distância.

    - Meu filho, cuidado!

O ônibus deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como a um animalzinho:

    - Que susto você me passou, meu filho – e apertava-o contra o peito, comovido.

- Deixa eu descer, papai. Você está me machucando.

Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:

     - Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai.

    - Me larga. Eu quero ir embora.

Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala – tendo antes o cuidado de fechar a porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.

    - Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.

    - Fico, mas vou empurrar esta cadeira.

E o barulho recomeçou. 

A primeira oração do texto “Mal o pai colocou o papel na máquina,” apresenta um valor adverbial e exprime a circunstância de:

Alternativas
Comentários
  • ✅ Gabarito: A

    Mal o pai colocou o papel na máquina,”.

    ➥ O termo "mal" é uma conjunção subordinativa temporal e equivale a "logo que". Dá início a uma oração subordinada adverbial temporal (=matiz semântica de tempo).

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Outros Advérbios de tempo: agora, ainda, amanhã, anteontem, cedo, depois, já, jamais, nunca, outrora, sempre, tarde, etc.

  • não entendi, mal é adverbio de modo.

  • Engraçado que na questão anterior, o "mal", que tinha sentido de advérbio de tempo, era uma conjunção. rs

  • Se substituírmos por LOGO, conseguimos perceber que, de fato, é advérbio de TEMPO.

  • Ótimo texto

  • mal = tempo

  • Mal = pode ser advérbio de tempo ou de modo (antônimo de bem). Devemos entender o sentido que expressa. Uma dica é substituir mal por logo, se fizer sentido a ideia é de tempo.

    Mal chegou e já saiu. (logo chegou e já saiu - tempo)

    Ana passou muito mal após comer a torta de chocolate. (modo)

  • Mal = pode ser advérbio de tempo ou de modo.

  • é por isso que tenho ódio de estudar português, são milhões de regras!!!

  • João Victor, ouso em discordar da aplicação do HC,porque não há risco à liberdade do acusado, tendo em vista a aplicação da prescrição. Pq vc pensa ser aplicável o HC?