Um dos aspectos, apontados por estudiosos da área, que contribui para a manutenção do abuso sexual no seio da família é o dito "complô do silêncio", que pode ser entendido como o silêncio mantido tanto pelos agentes das agressões quanto pelos vitimizados, assim como pelos demais membros da família.
O complô do silêncio pode perpetrar o abuso por várias gerações até que seja interrompido. As razões para a manutenção desse complô estão relacionadas a várias possibilidades, por exemplo, no caso do silêncio do cônjuge não agressor encontramos algumas situações: medo do perpetrador, desejo de manutenção da unidade familiar, não aceitação da provável perda do companheiro, cumplicidade inconsciente que ocorre através da identificação com o agressor e fragilidade no que tange ao papel de protetor. Já no caso do silêncio da criança vítima, encontramos sentimentos de desproteção, temor de perder o afeto do agressor, receio de ser desacreditada e julgada culpada, medo de sofrer agressões ou ser retirada da família. Furniss (1993) corrobora a ideia sobre o complô do silêncio chamando a atenção para o fato de que a explicitação ou denúncia do segredo trás à tona a dinâmica de violência que acontece dentro da própria família. Muitas vezes, a violência é negada ou mantida para o próprio equilíbrio familiar.
A revelação do abuso, via de regra, produz uma crise familiar e entre a rede de profissionais que atendem a família. O próprio profissional psicólogo, ao lidar com casos de abuso sexual, deve tomar cuidado para não participar da manutenção do complô do silêncio, justificado através do sigilo profissional. Cabe ao profissional refletir sobre estratégias que contribuam para a interrupção da situação de vitimização infantil, bem como a prevenção de futuras ocorrências. Um recurso importante a ser utilizado pelos profissionais no combate à violência é a notificação obrigatória dos casos confirmados ou mesmo suspeitos de violência contra crianças e adolescentes.
FURNISS, T. Abuso sexual da criança: Uma abordagem multidisciplinar - Manejo, terapia e intervenção legal integrados. Porto Alegre: Artes médicas, 1993.
Gabarito do Professor: Letra A.