SóProvas


ID
3577510
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Itápolis - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto “Carnes vivas”, de João Pereira Coutinho, e responda a questão.

      Tive uma infância de príncipe. Passei longas horas na rua, sem supervisão parental, a me aventurar. Isso na cidade.
      No campo, o cardápio era melhor. Parti o braço (uma vez) e o pulso (idem). Tudo porque teimava em subir nas árvores. E, por falar em árvores, cheguei a construir uma casa rudimentar no cimo de uma oliveira que aguentou apenas duas horas. Findas as duas horas, já eu estava no chão, com os joelhos em carne viva. 
      Às vezes pergunto o que aconteceria aos meus pais se o pequeno selvagem que fui reaparecesse agora. Provavelmente, seria exibido em uma jaula, como um King Kong pré- -púbere.
    “Minhas senhoras e meus senhores, vejam com os próprios olhos, uma criança que gosta de brincar!”
      Imagino a plateia, horrorizada, tapando os olhos dos filhos – ou, melhor ainda, ligando os tablets e anestesiando-os com a dose apropriada de pixels.
      E a minha mãe certamente estaria presa. Exagero? Não creio. Conta a “Economist” dessa semana que Debra Harrell, da Carolina do Sul, foi detida por deixar a filha de nove anos brincar no parque sem vigilância apurada.
   Engraçado. Na década de 1950, uma criança tinha cinco vezes mais possibilidades de morrer precocemente do que uma criança do século 21. Mas os pais da “baby-boom generation” deixavam as suas crianças à solta, talvez por entenderem que uma criança é uma criança. Esses pais não eram, como diz a revista, “pais-helicóptero”.
    Expressão feliz. Conheço vários casais que devotam aos filhos a mesma atenção obsessiva que um pesquisador dedica aos seus ratinhos de laboratório. Gostam de controlar tudo sobre os filhos. Como os helicópteros, estão constantemente a planar sobre a existência dos petizes.
    E quando finalmente descem a terra, é a desgraça: correm com eles para aulas de música, caratê, natação, matemática. No regresso a casa, é ver esses pequenos escravos, mortificados e exaustos, antes de se recolherem aos quartos.
   Não sei que tipo de crianças os “pais-helicóptero” estão a produzir. Deixo essas matérias para os especialistas. Digo apenas que a profusão de “pais-helicóptero” é uma brutal amputação da infância e da adolescência. Para além de corromper a relação entre pais e filhos.
    Sobre a amputação, não sei que adulto eu seria se nesses primeiros anos não houvesse a sensação de liberdade, mas também a percepção do risco, que me acompanhava todos os dias. Apesar dos ossos que quebrei, dores foram compensadas pela confiança que ganhei e pela intuição de que o mundo não é uma ameaça constante, povoado por sequestradores, pedófilos ou extraterrestres. 
    Mas os “pais-helicóptero” corrompem a relação essencial entre eles e os filhos. Anos atrás, o filósofo  Michael Sandel escreveu um ensaio contra o uso da engenharia genética para produzir descendências perfeitas. Dizia Sandel que se os pais pudessem manipular os fetos para terem superfilhos, estaria quebrada a qualidade essencial da parentalidade: o fato de amarmos os filhos incondicionalmente. Sejam ou não perfeitos.
    Igual raciocínio é aplicável aos “pais-helicóptero”: é natural desejar o melhor para os filhos. Porém não é natural ter com os filhos a mesma relação que existe entre um treinador e o seu atleta, como se a vida – acadêmica, pessoal, emocional – fosse uma mini-Olimpíada permanente.
    Na minha infância, as únicas medalhas que colecionei são as cicatrizes que trago no corpo. Não as troco por nada.
(Folha de S.Paulo, 29.07.2014. Adaptado)

Considere a frase do décimo primeiro parágrafo.


Sobre a amputação, não sei que adulto eu seria se nesses primeiros anos não houvesse a sensação de liberdade, mas também a percepção do risco, que me acompanhava todos os dias.


A respeito das formas verbais destacadas, é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: E

    ✓ Sobre a amputação, não sei que adulto eu seria se nesses primeiros anos não houvesse a sensação de liberdade, mas também a percepção do risco, que me acompanhava todos os dias.

    Seria (=verbo conjugado no futuro do pretérito do indicativo, refere-se a um fato que poderia ter acontecido posteriormente a uma situação passada). Acompanhava (=pretérito imperfeito do indicativo, refere-se a um fato ocorrido no passado, mas que não foi completamente terminado).

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Assertiva E

    seria apresenta situação hipotética em relação à vida do autor, e acompanhava indica a regularidade com que um evento ocorreu no passado.

  • SERIA - FUTURO DO PRETÉRITO DO INDICATIVO - UMA DÚVIDA, HIPÓTESE;

    ACOMPANHAVA - PRETÉRITO IMPERFEITO DO INDICATIVO - ALGO QUE ERA FREQUENTE NO PASSADO.

  • GABARITO: LETRA E

    O futuro do pretérito do indicativo se refere a um fato que poderia ter acontecido posteriormente a uma situação passada. É utilizado para indicar uma ação que é consequente de outra, encontrando-se condicionada.

    Expressa também incerteza, surpresa e indignação. Confere um caráter mais polido a pedidos e afirmações. 

    Frases com verbos no futuro do pretérito do indicativo:

    -Ele poderia ir com vocês ao cinema.

    -Eu tocaria guitarra num conjunto se tivesse essa oportunidade.

    -Nós gostaríamos muito de estar presentes no evento.

    pretérito imperfeito do indicativo se refere a um fato ocorrido no passado, mas que não foi completamente terminado. Expressando, assim, uma ideia de continuidade e de duração no tempo.

    É usado em lendas e fábulas e confere um caráter mais polido a pedidos e afirmações. Pode ser utilizado também com sentido de futuro do pretérito para indicar uma ação que seria consequente de outra que acabou por não acontecer.

    Frases com verbos no pretérito imperfeito do indicativo:

    -Eu fazia patinação artística quando era criança.

    -Eu comia um sorvete todos os domingos com minha avó.

    -Ele estudava francês e alemão, mas agora só estuda alemão.

    FONTE: WWW.CONJUGAÇÃO.COM.BR

  • A VUNESP sempre pede esse tipo de questão

    Só precisa lembrar, de forma bem objetiva, que:

    pretérito imperfeito do indicativo (ava, ia) = rotina no passado

    futuro do pretérito do indicativo ( ria) = hipótese.

    • SERIA (HIPOTÉTICA) ACOMPANHAVA (AÇÃO REPETITIVA, IDEIA DE NÃO ACABADA)
  • Questão legal hein

    Seria entra na ovelha negra do indicativo

    O futuro do pretérito do indicativo

    BIZU: Se eu pudesse, eu seria

    Acompanhava é pretérito imperfeito, é um evento passado que ocorreu com recorrência

    GAB E

    APMBB

  • Lembrando que: Use iminente quando significar algo que está prestes a acontecer. Use eminente quando significar notável, elevado, ilustre. (dicio.com)