SóProvas


ID
3577513
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Itápolis - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto “Carnes vivas”, de João Pereira Coutinho, e responda a questão.

      Tive uma infância de príncipe. Passei longas horas na rua, sem supervisão parental, a me aventurar. Isso na cidade.
      No campo, o cardápio era melhor. Parti o braço (uma vez) e o pulso (idem). Tudo porque teimava em subir nas árvores. E, por falar em árvores, cheguei a construir uma casa rudimentar no cimo de uma oliveira que aguentou apenas duas horas. Findas as duas horas, já eu estava no chão, com os joelhos em carne viva. 
      Às vezes pergunto o que aconteceria aos meus pais se o pequeno selvagem que fui reaparecesse agora. Provavelmente, seria exibido em uma jaula, como um King Kong pré- -púbere.
    “Minhas senhoras e meus senhores, vejam com os próprios olhos, uma criança que gosta de brincar!”
      Imagino a plateia, horrorizada, tapando os olhos dos filhos – ou, melhor ainda, ligando os tablets e anestesiando-os com a dose apropriada de pixels.
      E a minha mãe certamente estaria presa. Exagero? Não creio. Conta a “Economist” dessa semana que Debra Harrell, da Carolina do Sul, foi detida por deixar a filha de nove anos brincar no parque sem vigilância apurada.
   Engraçado. Na década de 1950, uma criança tinha cinco vezes mais possibilidades de morrer precocemente do que uma criança do século 21. Mas os pais da “baby-boom generation” deixavam as suas crianças à solta, talvez por entenderem que uma criança é uma criança. Esses pais não eram, como diz a revista, “pais-helicóptero”.
    Expressão feliz. Conheço vários casais que devotam aos filhos a mesma atenção obsessiva que um pesquisador dedica aos seus ratinhos de laboratório. Gostam de controlar tudo sobre os filhos. Como os helicópteros, estão constantemente a planar sobre a existência dos petizes.
    E quando finalmente descem a terra, é a desgraça: correm com eles para aulas de música, caratê, natação, matemática. No regresso a casa, é ver esses pequenos escravos, mortificados e exaustos, antes de se recolherem aos quartos.
   Não sei que tipo de crianças os “pais-helicóptero” estão a produzir. Deixo essas matérias para os especialistas. Digo apenas que a profusão de “pais-helicóptero” é uma brutal amputação da infância e da adolescência. Para além de corromper a relação entre pais e filhos.
    Sobre a amputação, não sei que adulto eu seria se nesses primeiros anos não houvesse a sensação de liberdade, mas também a percepção do risco, que me acompanhava todos os dias. Apesar dos ossos que quebrei, dores foram compensadas pela confiança que ganhei e pela intuição de que o mundo não é uma ameaça constante, povoado por sequestradores, pedófilos ou extraterrestres. 
    Mas os “pais-helicóptero” corrompem a relação essencial entre eles e os filhos. Anos atrás, o filósofo  Michael Sandel escreveu um ensaio contra o uso da engenharia genética para produzir descendências perfeitas. Dizia Sandel que se os pais pudessem manipular os fetos para terem superfilhos, estaria quebrada a qualidade essencial da parentalidade: o fato de amarmos os filhos incondicionalmente. Sejam ou não perfeitos.
    Igual raciocínio é aplicável aos “pais-helicóptero”: é natural desejar o melhor para os filhos. Porém não é natural ter com os filhos a mesma relação que existe entre um treinador e o seu atleta, como se a vida – acadêmica, pessoal, emocional – fosse uma mini-Olimpíada permanente.
    Na minha infância, as únicas medalhas que colecionei são as cicatrizes que trago no corpo. Não as troco por nada.
(Folha de S.Paulo, 29.07.2014. Adaptado)

Assinale a alternativa em que o trecho reescrito do texto atende à regência verbal e nominal em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: E

     a) Tudo porque teimava em subir nas árvores. → Tudo porque eu persistia a subir nas árvores → INCORRETO. Persistia em alguma coisa (=em subir).
     b) Exagero? Não creio. → Exagero? Tenho dúvida com isso → INCORRETO. Tenho dúvida de alguma coisa (=de+isso= disso).
     c) Na década de 1950, uma criança tinha cinco vezes mais possibilidade de morrer precocemente  → Na década de 1950, uma criança estava cinco vezes mais propensa de morrer precocemente → INCORRETO. Propensa a alguma coisa (=a morrer).
     d) Para além de corromper a relação entre pais e filhos. → Para além de deturpar na relação entre pais e filhos → INCORRETO. Deturpar alguma coisa (=a relação).
     e) Igual raciocínio é aplicável aos "pais-helicóptero": é natural desejar o melhor para os filhos. → Igual raciocínio é aplicável aos "pais-helicóptero": é natural almejar pelo melhor para os filhos → CORRETO. 

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Quem almeja, almeja por alguma coisa. Gabarito letra E.

  • Complemento..

    A) Persistir em algo..

    B) Tenho dúvida de algo / sobre algo

    C) propensa a, para.

    D) deturpar algo (VTD)

    E) almejar rege a preposição por . Luft, no seu Dicionário Prático de Regência Verbal, regista a seguinte frase: Ela almeja (por) ser actriz.

    Bons estudos!