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ID
368038
Banca
FCC
Órgão
TCE-SP
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                         Pensando nas histórias populares

           Se examinarmos as fábulas populares, verificaremos que  elas representam dois tipos de transformação social, sempre  com final feliz. Num primeiro tipo, existe um príncipe que, por alguma
circunstância, se vê reduzido a guardador de porcos ou  alguma outra condição miserável, para depois reconquistar sua condição real. Num segundo caso, existe um jovem pastor que não possuiu nada desde o nascimento e que, por virtude própria  ou graça do destino, consegue se casar com a princesa e  tornar-se rei.
           Os mesmos esquemas valem para as protagonistas femininas: a donzela nobre é vítima de uma madrasta (Branca  de Neve) ou de irmãs invejosas (Cinderela), até que um príncipe se apaixone por ela e a conduza ao vértice da escala social. Ou  então uma camponesa pobre supera todas as desvantagens da origem e realiza núpcias principescas.
          Poderíamos pensar que as fábulas do segundo tipo são  as que exprimem mais diretamente o desejo popular de uma  reviravolta dos papéis sociais e dos destinos individuais, ao passo  que as do primeiro tipo deixam aparecer tal desejo de forma  mais atenuada, como restauração de uma hipotética ordem  precedente. Mas, pensando bem, os destinos extraordinários do  pastorzinho ou da camponesa representam apenas uma ilusão  miraculosa e consoladora, ao passo que os infortúnios do príncipe
ou da jovem nobre associam a imagem da pobreza com a  ideia de um direito subtraído, de uma justiça a ser reivindicada, isto é, estabelecem no plano da fantasia um ponto que  será fundamental para toda tomada de consciência da época  moderna, da Revolução Francesa em diante.
          No inconsciente coletivo, o príncipe disfarçado de pobre é a prova de que cada pobre é, na realidade, um príncipe que sofreu uma usurpação de poder e por isso deve reconquistar  seu reino.   Quando cavaleiros caídos em desgraça triunfarem sobre seus inimigos, hão de restaurar uma sociedade mais justa, na qual será reconhecida sua verdadeira identidade.

                                                                           (Adaptado de Ítalo Calvino, Por que ler os clássicos)

O autor do texto expõe sua visão das histórias populares, segundo a qual elas constituem representações

Alternativas
Comentários
  • O autor cita que: "Elas (fábulas populares) representam dois tipos de transformação social, sempre com final feliz".
    Ainda segundo o autor, o segundo tipo, em que os infortúnios do príncipe ou da jovem nobre associam a imagem da pobreza com a ideia de um direito subtraído, estabelem um ponto que será fundamental para a tomada de consciência da época moderna, a Revolução Francesa.
    Essa consciência seria parte de um processo de alteração nos papéis sociais.

    • a) do destino trágico que está reservado a todos aqueles que usurpam o poder de um legítimo detentor.
    •  b) de um processo de alteração nos papéis sociais, culminando em desfecho de caráter edificante.
    • "Pensando nas histórias populares - Se examinarmos as fábulas populares, verificaremos que elas representam dois tipos de transformação social, sempre com final feliz"
    • "pensando bem, os destinos extraordinários do pastorzinho ou da camponesa representam apenas uma ilusão miraculosa e consoladora, ao passo que os infortúnios do príncipe ou da jovem nobre associam a imagem da pobreza com a ideia de um direito subtraído, de uma justiça a ser reivindicada, isto é, estabelecem no plano da fantasia um ponto que será fundamental para toda tomada de consciência da época moderna, da Revolução Francesa em diante." 
    •  c) de uma ordem social na qual o prestígio do indivíduo independe da posição que ele ocupa.
    •  d) de maleáveis esquemas sociais, nos quais o vitorio- so é o indivíduo virtuoso, desde que de origem modesta.
    •  e) de classes sociais ainda definidas, em cuja permanente oscilação revela-se a instabilidade política.
  • Só uma curiosidade: na verdade, fábulas são aquelas estórias em que animais ou objetos têm características humanas (falam, riem, etc.). Ex: Os 3 porquinhos. O correto seria conto de fadas, e não fábula.