“Vais encontrar o mundo”, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. “Coragem para a luta.” Bastante experimentei
depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa
de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o
poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à
impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso.
Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob
outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos
ultrajam.
(POMPEIA, Raul. O ateneu. São Paulo, FTD, 1992).
Em relação à estruturação da narrativa, o texto apresenta: