Alfabetização, língua escrita e norma culta
(1) Vivemos numa sociedade tradicionalmente
pouco letrada. Nesse sentido, bastaria lembrar que temos
ainda por volta de 15% de analfabetos na população adulta
e que, entre os alfabetizados, calcula-se que apenas 25%
podem ser considerados alfabetizados funcionais, isto é, só
esta pequena parcela é capaz de ler e compreender textos
medianamente complexos. Como consequência e apesar
da expansão da alfabetização no último século, é ainda
apenas uma minoria que efetivamente domina a expressão
escrita.
(2) Não há dúvida de que, se queremos alcançar
níveis avançados de desenvolvimento, temos de romper
essa limitação decorrente de nossa história econômica,
social e cultural – que, por séculos, mantém concentrados a
riqueza material e o acesso aos bens da cultura escrita nas
mãos de poucos.
(3) Para isso, é indispensável diagnosticar as
muitas causas dessa situação e, em consequência,
encontrar formas de enfrentá-la adequada e eficazmente.
Andaremos, porém, mal se nem sequer conseguirmos
distinguir, com um mínimo de precisão, norma culta de
expressão escrita.
(4) O uso inflacionado da expressão norma culta
pode ter facilitado a vida e o discurso de algumas pessoas,
mas pouco ou nada tem contribuído para fazermos avançar
nossa cultura linguística. Continuamos uma sociedade
perdida em confusão em matéria de língua: temos
dificuldades para reconhecer nossa cara linguística, para
delimitar nossa(s) norma(s) culta(s) efetiva(s) e, por
consequência, para dar referências consistentes e seguras
aos falantes em geral e ao ensino de português em
particular.
(5) Parece, então, evidente que é preciso começar
a desatar estes nós, buscando desenvolver uma gestão
mais adequada das nossas questões linguísticas por meio,
inclusive, de um debate público franco e desapaixonado.
(6) Essas questões linguísticas não são, claro, de
pequena monta. Há toda uma história a ser revista, há todo
um imaginário a ser questionado, há toda uma gama de
valores e discursos a ser criticada, há todo o desafio de
construir uma cultura linguística positiva que faça frente à
danosa cultura do erro, que ainda embaraça nossos
caminhos. (...)
(7) Entendemos que o debate ganhará substância
se começarmos por dar precisão à expressão norma culta.
Continuar a confundi-la com gramática em qualquer um de
seus dois sentidos (conceitos ou preceitos), com norma-padrão ou com expressão escrita apenas continuará
escamoteando os problemas que estão aí a nos desafiar,
quer na compreensão da nossa realidade linguística, quer
na proposição de caminhos para o ensino do português.
(Carlos Alberto Faraco. Norma culta brasileira: desatando alguns
nós. São Paulo: Parábola Editorial, 2008, p. 29-31. Adaptado).
As palavras que ocorrem em um texto são pistas
valiosas dos sentidos que o autor pretendeu para seu
texto. Analise as palavras sublinhadas nos segmentos
abaixo e as explicações que são dadas entre
parênteses.
1) “é indispensável diagnosticar as muitas causas
dessa situação”, (quer dizer reconhecer,
discriminar as causas...)
2) “temos dificuldades para reconhecer nossa cara
linguística” (quer dizer nossa identidade, nossa
identificação linguística).
3) “O uso inflacionado da expressão norma culta”
(quer dizer, o uso moderado, comedido,
abrandado da expressão).
4) “uma cultura linguística positiva que faça frente à
danosa cultura do erro” (quer dizer, maléfica,
perniciosa, prejudicial cultura do erro).
5) “confundi-la com gramática (...) apenas
continuará escamoteando os problemas” (quer
dizer, amenizando, atenuando, minimizando os
problemas).
Estão corretas: