SóProvas


ID
3836623
Banca
IBADE
Órgão
Câmara de São Felipe D'Oeste - RO
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Vidinha


      Vidinha era uma rapariga que tinha tanto de bonita como de movediça e leve; um soprozinho, por brando que fosse, a fazia voar, outro de igual natureza a fazia revoar, e voava e revoava na direção de quantos sopros por ela passassem; isto quer dizer, em linguagem chã e despida dos trejeitos da retórica, que ela era uma formidável namoradeira, como hoje se diz, para não dizer lambeta, como se dizia naquele tempo.

      Portanto não foram de modo algum mal recebidas as primeiras finezas do Leonardo, que desta vez se tornou muito mais desembaraçado, quer porque já o negócio com Luisinha o tivesse desasnado, quer porque agora fosse a paixão mais forte, embora esta última hipótese vá de encontro à opinião dos ultrarromânticos, que põem todos os bofes pela boca pelo tal primeiro amor: no exemplo que nos dá o Leonardo aprendam o quanto ele tem de duradouro.

       Se um dos primos de Vidinha, que dissemos ser o atendido naquela ocasião, teve motivos para levantar-se contra o Leonardo como seu rival, o outro primo, que dissemos ser o desatendido, teve dobrada razão para isso, porque além do irmão apresentava-se o Leonardo como segundo concorrente, e o furor de quem se defende contra dois é, ou deve ser sem dúvida, muito maior do que o de quem se defende contra um.

      Declarou-se, portanto, desde que começaram a aparecer os sintomas do quer que fosse entre Vidinha e o nosso hóspede, guerra de dois contra um, ou de um contra dois. A princípio foi ela surda e muda; era guerra de olhares, de gestos, de desfeitas, de más caras, de maus modos de uns para com os outros; depois, seguindo o adiantamento do Leonardo, passou a dictérios, a chasques, a remoques.

      Um dia finalmente desandou em descompostura cerrada, em ameaças do tamanho da Torre de Babel, e foi causa disto ter um dos primos pilhado o feliz Leonardo em flagrante gozo de uma primícia amorosa, um abraço que no quintal trocava ele com Vidinha.

(ALMEIDA, M. Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: Editora FTD, 1996, p. 123.) 

Memórias de um sargento de milícias é um romance de costumes, que foi publicado em folhetins no jornal Correio Mercantil, de junho de 1852 a julho de 1853. Os folhetins eram capítulos de uma obra publicados nos jornais da época, de alto interesse do público leitor, correspondentes às novelas de televisão contemporâneas. Narrado em 3ª pessoa, o romance tem como foco a camada socioeconômica popular da sociedade carioca do início do século XIX, no período em que a corte de D. João VI veio para o Brasil.

Esse foco relativo à camada popular da sociedade pode ser inferido no texto pelo fato de:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito Letra D - os personagens, em suas relações amorosas, agirem de forma pouco condizente com os valores morais.

  • Nenhuma alternativa, além da D, possui embasamento no texto para se referir a uma camada popular da sociedade. Lembrando que a questão pede inferência, ou seja, é algo que podemos concluir, deduzir - a resposta não está literalmente escrita.

    (A) não há referência a instituições eclesiais, mas nada nos faz inferir que essas instituições são responsáveis pela moral e pelos bons costumes, nem que isso se relacione às camadas populares.

    (B) o texto não fala sobre os personagens serem ociosos, desocupados e desonestos, nem nos faz inferir isso.

    (C) o texto não menciona existência nem ausência de autoridades policiais. Isso também não se relacionaria a uma camada popular (assim esperamos). Também não deixa claro que houve violentas e agressivas atitudes.

    (D) essa alternativa podemos concluir ao ler o texto. A forma como os primos lidam com um possível novo namoradinho da Vidinha não são condizente com valores morais. CORRETA

    (E) pelo texto, não sabemos sobre a família, menos ainda ser apresentada como instituição decadente. Apesar das atitudes dos primos, não podemo concluir que houve 'total disfunção ao educar'.

    Penso ser isso :)

  • #O texto mostra uma mulher namoradeira, no caso VIDINHA , inclusive o autor a chama de rapariga ( não tem muita moralidade). Depois, o segundo personagem,Leornado, ainda está terminando um romance com a terceira personagem, Luisinha, mal ele acabou um romançe já tem interesse por outra mulher (possível falta de moralidade- um ponto de vista subjetivo). Quando a gente ler o texto, dá entender que os primos que são irmãos, também, têm idesejos por Vidinha ( do ponto de vista moral, parente apaixonar por parente poder ser imoral)

    o texto pede para inferir, ou seja, ir além do texto.

    vamos tirar algumas frases do texto relacionado ao que eu disse:

    "Vidinha era uma rapariga que tinha tanto de bonita como de movediça"

    ...do Leonardo, que desta vez se tornou muito mais desembaraçado, quer porque já o negócio com Luisinha o tivesse desasnado... (AQUI É UM PONTO DE VISTA SUBJETIVO, até por que não ná para saber quanto tempo ele tinha acabado o seu lance com Luizinha).

    ...Se um dos primos de Vidinha , teve motivos para levantar-se contra o Leonardo como seu rival, o outro primo, que dissemos ser o desatendido, teve dobrada razão para isso, porque além do irmão apresentava-se o Leonardo como segundo concorrente...

    Da enterder que os primos também têm desejos por Vidinha, e além de ser primo de Vidinha, os primos eram irmãos. Ou seja, muita falta de moralidade dos personagens no texto.

    não sou professor de Português, mas o que eu entendi que a letra "D" quis nos passar se relaciona a essa parte do texto.

    gabarito é a letra "D", pois as demais alternativas sao extrapolações do examinador.

  • Gabarito letra D! Ora, então segundo a IBADE pode-se inferir que apenas as camadas populares não agem de maneira condizente com os valores morais rsrs.. é isso mesmo produção?

  • Concordo com Ângelo Lopes:

    Preconceito da IBADE. Então o comportamento imoral dos personagens caracteriza a camada popular da sociedade. Não sendo tal comportamento possível pela "alta sociedade". Mas que barbaridade.

    Na verdade, não se tem resposta correta, a menos que tu sejas preconceituoso.

  • Como se pessoas mais abastadas fossem reflexo da "moral e dos bons costumes"...

  • Colegas, contexto histórico! Tem nada de preconceituoso não. Abraço.