SóProvas


ID
3955357
Banca
CIEE
Órgão
TJ-DFT
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Farmácia literária


    Imagine chegar ao consultório ou ao hospital com um incômodo qualquer e sair de lá com a prescrição de uma terapia intensiva de George Orwell, seguida de pílulas de Fernando Pessoa, emplastros de Victor Hugo e doses generosas de Monteiro Lobato. Você não leu errado: uma boa história ajuda a aliviar depressão, ansiedade e outros problemas que atingem a cabeça e o resto do organismo.

    Quem garante esse poder medicamentoso das ficções são as inglesas Ella Berthoud e Susan Elderkin, que acabam de publicar no Brasil Farmácia Literária (Verus). Redigida no estilo de manual médico, a obra reúne cerca de 200 males divididos em ordem alfabética. Para cada um, há dicas de leituras.

    As autoras se conheceram enquanto estudavam literatura na Universidade de Cambridge. Entre um debate sobre um romance e outro, viraram amigas e criaram um serviço de biblioterapia, em que apontam exemplares para indivíduos que procuram assistência. “O termo biblioterapia vem do grego e significa a cura por meio dos livros”, ressalta Ella.

    O método é tão sério que virou política de saúde pública no Reino Unido. Desde 2013, pacientes com doenças psiquiátricas recebem indicações do que devem ler direto do especialista. Da mesma maneira que vão à drogaria comprar remédios, eles levam o receituário à biblioteca e tomam emprestados os volumes aconselhados.

     A iniciativa britânica foi implementada com base numa série de pesquisas recentes que avaliaram o papel das palavras no bem-estar. Uma experiência realizada na Universidade New School, nos Estados Unidos, mostrou que pessoas com o hábito de reservar um tempo às letras costumam ter maior empatia, ou seja, uma capacidade ampliada de entender e se colocar no lugar do próximo. Outra pesquisa da também americana Universidade Harvard apontou que leitores ávidos são mais sociáveis e abertos para conversar.

     E olha que estamos falando de ficção mesmo. No novo livro não vemos gêneros como autoajuda ou biografia. “Eles já tinham o seu espaço, enquanto as ficções eram um recurso pouco utilizado. É difícil lembrar-se de uma condição que não tenha sido retratada em alguma narrativa”, esclarece Susan.

    As autoras acreditam que é possível tirar lições valiosas do que fazer e do que evitar a partir da trajetória de heróis e vilões. “Ler sobre personagens que experimentaram ou sentiram as mesmas coisas que vivencio agora auxilia, inspira e apresenta perspectivas distintas”, completa.

    As sugestões percorrem praticamente todas as épocas e movimentos literários da humanidade. A obra mais antiga que integra o livro é a epopeia ‘O Asno de Ouro’, assinada pelo romano Lúcio Apuleio, no século II, que serve de fármaco para exagero na autoconfiança. Há também os moderníssimos ‘Reparação’, do inglês Ian McEwan (solução para excesso de mentira), e ‘1Q84’, do japonês Haruki Murakami (potente para as situações em que o amor simplesmente termina). 

    Disponível em 20 países, cada edição de Farmácia Literária é adaptada para a cultura local, com a inclusão de verbetes e de literatos nacionais. “Nós precisamos contemplar as obras que formaram e moldaram o ideal daquela nação para que nosso ofício faça sentido”, conta Ella. No caso do Brasil, foram inseridos os principais textos de Machado de Assis, Guimarães Rosa e Milton Hatoum, que fazem companhia aos portugueses Eça de Queirós e José Saramago.

(Rosa Maria Miguel Fontes. Jornalista e Escritora. Disponível em: http://blogs.uai.com.br/contaumahistoria/farmaci a-literaria/. Abril de 2017. Com adaptações.) 

Assinale, a seguir, a afirmativa em que o uso do acento indicativo de crase é facultativo.

Alternativas
Comentários
  • ✅ Gabarito: A

     Acompanhe-o até à porta da biblioteca.

    ➥ CRASE FACULTATIVA/OPCIONAL APÓS A PREPOSIÇÃO "ATÉ". ATÉ ALGUM LUGAR OU ATÉ A ALGUM LUGAR= ATÉ A PORTA OU ATÉ À PORTA. 

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • A questão versa sobre regra de crase e nos traz 4 alternativas sendo que uma delas ocorreu a crase de forma FACULTATIVA e é essa que iremos assinalar como certa. Veremos a seguir o conceito do uso da crase e as situações sobre facultatividade.

    "Emprega-se o acento grave nos casos de crase e aqueles indicados em Emprego do à acentuado. 1.º) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo o ou pronome demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as). 2.º) Na contração da preposição a com o a inicial dos demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas, e aquilo ou ainda da mesma preposição com compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo, àqueloutro(s), àqueloutras(s). 3.º) Na contração da preposição a com os pronomes relativos a qual, as quais: à qual, às quais."

    Quando for facultativo o artigo, facultativa será, naturalmente, a crase. Isto acontece com:

    Nomes próprios femininos de pessoa:

    Entreguei o documento à Luísa.

    Entreguei o documento Luísa

    Antes de pronome possessivo com substantivo feminino claro.

    Dirigiu a/à minha casa

    Antes da palavra casa quando acompanhada de expressão que denota o dono ou morador, ou qualquer qualificação:

    Irei a/à casa dos meus pais

    "Até" esta preposição indica o limite, o termo de movimento, e, acompanhando substantivo com artigo (definido ou indefinido) pode vir ou não seguida da preposição a:

    Caminharam até a/à escola

    Alguns nomes de lugar: Europa, Ásia, África, França, Inglaterra, Espanha, Holanda, Escócia, Recife

    Ir a África (ou à África).

    Após as explanações acima podemos analisar as alternativas. Inspecionemos:

    a) Acompanhe-o até à porta da biblioteca.

    Correta. A crase antes de preposição "até" indicando limite é facultativa, ou seja, coloca ou não a crase.

    b) Refiro-me à paciente que leu os livros aconselhados pelo médico.

    Incorreta. O verbo referir rege a preposição "a" + a artigo que acompanha o substantivo feminino "paciente" assim ocorre a contração das vogais idênticas.

    c) À medida que o tempo passa minha autoconfiança aumenta.

    Incorreta. Diante de locuções com bases femininas ocorre a crase "a medida que" é uma locução conjuntiva de proporcionalidade.

    d) Saímos à noite para vivenciar novas perspectivas

    Incorreta. "à noite" é uma locução adverbial de tempo que circunstancia o verbo "sair" e nessas locuções ocorre a crase, pois elas iniciam com a preposição "a" e também tem o "a" artigo, pois "noite" é um substantivo feminino.

    Referências bibliográficas:

    ROCHA LIMA, C. H. Gramática normativa da língua portuguesa. 49. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011

    BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 39 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

    GABARITO A

  • Correta, A

    Quando a crase é facultativa:

    • Depois da preposição “até”. Exemplos: Vou até a faculdade agora // Vou até à faculdade agora.

    • Antes dos nomes próprios femininos. Exemplos: Custa a Maria ver o filho sofrer // Custa à Maria ver o filho sofrer. .

    • Antes dos pronomes possessivos femininos no singular. Exemplos: Não iremos a tua casa // Não iremos a sua casa. Obs: a case será obrigatória no caso de pronomes possessivos femininos no plural.

  • Crase facultativa após a preposição até.