SóProvas


ID
3970981
Banca
Itame
Órgão
Prefeitura de Campinorte - GO
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto para responder a questão.


CASO DE CANÁRIO

Carlos Drummond de Andrade


    Casara-se havia duas semanas. Por isso, em casa dos sogros, a família resolveu que ele é que daria cabo do canário:

    __ Você compreende. Nenhum de nós teria coragem de sacrificar o pobrezinho, que nos deu tanta alegria. Todos somos muito ligados a ele, seria uma barbaridade. Você é diferente, ainda não teve tempo de afeiçoar-se ao bichinho. Vai ver que nem reparou nele, durante o noivado.

    __ Mas eu também tenho coração, ora essa. Como é que vou matar um pássaro só porque o conheço há menos tempo do que vocês?

    __ Porque não tem cura, o médico já disse. Pensa que não tentamos tudo? É para ele não sofrer mais e não aumentar o nosso sofrimento. Seja bom; vá.

    O sogro e a sogra apelaram no mesmo tom. Os olhos claros de sua mulher pediram-lhe com doçura:

    __ Vai, meu bem.

    Com repugnância pela obra de misericórdia que ia praticar, ele aproximou-se da gaiola. O canário nem sequer abriu o olho. Jazia a um canto, arrepiado, morto-vivo. É, esse está mesmo na última lona, e dói ver a lenta agonia de um ser tão gracioso, que viveu para cantar.

     __ Primeiro me tragam um vidro de éter e algodão. Assim ele não sentirá o horror da coisa.

    Embebeu de éter a bolinha de algodão, tirou o canário para fora com infinita delicadeza, aconchegou-o na palma da mão esquerda e, olhando para outro lado, aplicou-lhe a bolinha no bico. Sempre sem olhar para a vítima, deu-lhe uma torcida rápida e leve, com dois dedos no pescoço.

    E saiu para a rua, pequenino por dentro, angustiado, achando a condição humana uma droga. As pessoas da casa não quiseram aproximar-se do cadáver. Coube à cozinheira recolher a gaiola, para que sua vista não despertasse saudade e remorso em ninguém. Não havendo jardim para sepultar o corpo, depositou-o na lata de lixo.

    Chegou a hora de jantar, mas quem é que tinha fome naquela casa enlutada? O sacrificador, esse ficara rodando por aí, e seu desejo seria não voltar para casa nem para dentro de si mesmo. No dia seguinte, pela manhã, a cozinheira foi ajeitar a lata de lixo para o caminhão, e recebeu uma bicada voraz no dedo.

     __ Ui!

    Não é que o canário tinha ressuscitado, perdão, reluzia vivinho da silva, com uma fome danada?

    __ Ele estava precisando mesmo era de éter - concluiu o estrangulador, que se sentiu ressuscitar, por sua vez.

No trecho “Coube à cozinheira recolher a gaiola...” Para saber porque a expressão destacada tem crase, é preciso recorrer a qual regra (correta)?

Alternativas
Comentários
  • ✅ Gabarito: D

    ✓  “Coube à cozinheira recolher a gaiola...”

    ➥ Recolher a gaiola coube a alguém (preposição "a") + artigo definido "a" que acompanha o substantivo feminino "cozinheira"= crase;

    ➥ Substitui-se a palavra feminina por uma masculina equivalente. Caso ocorra a combinação a+o, a crase está confirmada → CORRETO. Coube AO COZINHEIRO (preposição "a" + artigo definido "o"= ao).

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Meu truta, aqui é o bizu do cachorrão, rs

    Troque o "a" pelo "ao " se latir / fizer sentido = crase...

    Coube à cozinheira

    Coube ao garçom.

    ARROCHA!!

  • PÃO PÃO, QUEIJO QUEIJO.

  • questão mais estranha... desde quando isso é uma regra?

  • Isto é um macete e não uma regra.

  • Isto é macete, não regra. Caberia recurso...

  • examinador cheirou sazon
  • Substitui-se a palavra feminina por uma masculina equivalente. Caso ocorra a combinação a+o, a crase está confirmada.

    Macetão do Xandão

    PÃO PÃO QUEIJO QUEIJO

  • Que gramática considera isso uma regra?

  • A questão quer saber qual alternativa nos traz uma regra de descobrir o motivo da crase.

     No trecho “Coube à cozinheira recolher a gaiola...” Para saber porque a expressão destacada tem crase, é preciso recorrer a qual regra (correta)?

    "Emprega-se o acento grave nos casos de crase e aqueles indicados em emprego do à acentuado.

    1.º) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo o ou pronome demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as).

    2.º) Na contração da preposição a com o a inicial dos demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas, e aquilo ou ainda da mesma preposição com compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo, àqueloutro(s), àqueloutras(s).

    3.º) Na contração da preposição a com os pronomes relativos a qual, as quais: à qual, às quais."

    Após esses conceitos podemos analisar as alternativas. Inspecionemos:

    a) A letra “a” dos pronomes vão receber o sinal indicativo de crase por causa do termo regente.

    Incorreta. O erro está em dizer que o pronome recebe a crase por causa do termo regente, na verdade a crase é uma união entre a preposição do termo regido com o A artigo ou A pronome, contudo no caso em tela o que ocorre é a união da preposição A + A artigo que acompanha o substantivo feminino "cozinheira".

    b) Nas situações em que o nome se apresentar modificado por um adjunto adnominal há a crase.

    Incorreta. Esse é um caso especial que ocorre com a palavra "casa" ou "terra".

    Ex: "Voltarei à casa de André antes de todos" (com crase, pois a palavra casa está especificada).

    Ex: "Voltarei a casa antes de todos " ( sem crase)

    c) A letra “a” que acompanha locuções femininas adverbiais, prepositivas e conjuntivas recebe o acento grave.

    Incorreta. De fato nessas locuções acontecem a crase, contudo não se enquadra no motivo de ocorrer a crase na frase em exposição. Vejamos alguns exemplos de crase em locuções: à minha disposição, à minha espera, à minuta, à moda (de), à moderna, à morte, à mostra...

    d) Substitui-se a palavra feminina por uma masculina equivalente. Caso ocorra a combinação a+o, a crase está confirmada.

    Correta. A alternativa nos traz uma forma de descobrir se existe ou não crase, torna-se problemática dizer que é uma regra a afirmação trazida, contudo não podemos desperdiçar pontos, o que quero dizer é que se soubermos o básico conseguimos entender o que a alternativa está dizendo. A crase ocorre porque o verbo "couber" rege a preposição A+ A artigo definido que acompanha o substantivo feminino "cozinha", no caso para tirar a prova real basta trocar por um substantivo masculino, se aceitar o "o" ficaria AO, assim teríamos certeza que ocorreria a crase, pois toda vez que couber o "ao" no masculino, também aceita a crase quando substituir por um substantivo feminino.

    Ex: Coube à cozinheira 

    Ex: Coube ao cozinheiro

    Referência bibliográfica: BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 39 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019

    GABARITO: D

  • Somente para confundir a cabeça do candidato à vaga.

  • Coube ao cozinheiro recolher a gaiola