Referindo-se aos últimos quartéis do século XVIII, diz o mesmo autor: "Tudo vinha da França, ou por via francesa. A hora da América era nos dada pelo meridiano de Paris" (Frieiro 1945: 58). Essa influência ficava, entretanto, restrita a um núcleo muito pequeno, a um grupo de pessoas excepcionais para sua época. Limitava-se também essencialmente ao campo das idéias. A vida cotidiana mantinha seu aspecto tradicional, ainda não fora abalada pela importação de objetos e costumes franceses. Era esse o quadro até 1808 quando, com a vinda de D. João VI para o Brasil, o papel da influência francesa, até então pouco significativo, mudará completamente. A corte portuguesa trazia consigo hábitos de luxo europeu (Debret s/d: 139) e para satisfazer esses costumes que se tornaram necessidades, vieram com ela cabeleireiros e modistas franceses e comerciantes ingleses. Finalmente, com a abertura dos portos, homens e coisas, de origem estrangeira puderam penetrar livremente. Logo de início predominaram as influências britânicas. Era natural! A Inglaterra ajudara o príncipe regente e a corte a escapulirem-se para o Brasil, e a França, na figura de Napoleão, tornara-se sua inimiga. Como recompensa pela sua proteção aquela obteve o tratado de 1810 pelo qual os produtos ingleses passaram a pagar 15% de tarifa, enquanto os de Portugal pagavam 16% e os dos demais países 25%!
Com esse incrível tratado que os privilégios da situação política lhe haviam assegurado, firmou-se a preponderância comercial da Inglaterra no Brasil e paralelamente o predomínio da influência inglesa em quase todos os setores (Pinho s/d: 17). A influência francesa foi momentaneamente eclipsada e a Inglaterra "deu a nota" de 1808 a 1815. Só após 1816 voltaria a França a fazer-lhe concorrência, a desafiar-lhe o prestígio!
A situação política mudara. Napoleão, o inimigo de D. João VI, havia sido derrubado, os Bourbons recolocados no trono. As resoluções do Congresso de Viena contribuindo para o apaziguamento gradual dos ânimos e a dissipação das prevenções, propiciaram à influência francesa total acolhimento no Brasil5. Nos conselhos da coroa, à política anglófila de Linhares sucederam as tendências francófilas do Conde da Barca. Estreitaram-se as relações entre os dois países. D. João VI ao enviar um emissário seu saudar Luiz XVIII oficializa a cordialidade entre o Brasil e a França, consolidando definitivamente o predomínio da sua influência. O príncipe concretiza seu interesse em estreitar esses laços, convidando para vir ao Brasil ilustres membros do pensamento francês: Lebreton, Debret, Montigny, Taunay, Ferrez, que constituíram a famosa missão artística de 1816 (Barbosa s/d: 218).
fonte
Rev. hist. n.142-143 São Paulo dez. 2000