Texto para as questão
21 de maio
Passei uma noite horrivel. Sonhei que eu residia
numa casa residivel, tinha banheiro, cozinha, copa e
até quarto e criada. Eu ia festejar o aniversário de
minha filha Vera Eunice. Eu ia comprar-lhe umas
panelinhas que há muito ela vive pedindo. Porque eu
estava em condições de comprar. Sentei na mesa para
comer. A toalha era alva ao lirio. Eu comia bife, pão
com manteiga, batata frita e salada. Quando fui pegar
outro bife despertei. Que realidade amarga! Eu não
residia na cidade. Estava na favela. Na lama, as
margens do Tietê. E com 9 cruzeiros apenas. Não
tenho açucar porque ontem eu saí e os meninos
comeram o pouco que eu tinha.
[...] Quem deve dirigir é quem tem capacidade.
Quem tem dó e amisade ao povo. Quem governa o
nosso país é quem tem dinheiro. Quem não sabe o
que é fome, a dor, e a aflição do pobre. Se a maioria
revoltar-se, o que pode fazer a minoria? Eu estou ao
lado do pobre, que é o braço. Braço desnutrido.
Precisamos livrar o paiz dos politicos
açambarcadores.
Disponível em: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo:
diário de uma favelada. 10. ed. São Paulo, Ática, 2014.
(fragmento).
O texto é um fragmento do livro
“Quarto de despejo: diário de uma favelada”, de
Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977). A autora
registra em um diário o cotidiano cruel de que é
testemunha. São histórias reais vividas por essa
mulher negra, moradora da favela do Canindé, na
cidade de São Paulo, de origem humilde, que
estudou apenas até o segundo ano do Ensino
Fundamental, mas fez da escrita um instrumento
para refletir sobre a sua condição. Os editores do
livro respeitaram fielmente a linguagem da autora,
que, muitas vezes, contraria a gramática, mas que,
por isso mesmo, traduz com realismo a forma do
povo enxergar e expressar seu mundo. Das
alternativas abaixo, marque aquela em que todas as
palavras extraídas do texto contrariam as regras
ortográficas: