SóProvas


ID
4054171
Banca
CIEE
Órgão
TRE-SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Tempo incerto

        Os homens têm complicado tanto o mecanismo da vida que já ninguém tem certeza de nada: para se fazer alguma coisa é preciso aliar a um impulso de aventura grandes sombras de dúvida. Não se acredita mais nem na existência de gente honesta; e os bons têm medo de exercitarem sua bondade, para não serem tratados de hipócritas ou de ingênuos.
        Chegamos a um ponto em que a virtude é ridícula e os mais vis sentimentos se mascaram de grandiosidade, simpatia, benevolência. A observação do presente leva‐nos até a descer dos exemplos do passado: os varões ilustres de outras eras terão sido realmente ilustres? Ou a História nos está contando as coisas ao contrário, pagando com dinheiro dos testamentos a opinião dos escribas? 

        Se prestarmos atenção ao que nos dizem sobre as coisas que nós mesmos presenciamos – ou temos que aceitar a mentira como a arte mais desenvolvida do nosso tempo, ou desconfiaremos do nosso próprio testemunho, e acabamos no hospício! 

        Pois assim é, meus senhores! Prestai atenção às coisas que vos contam, em família, na rua, nos cafés, em várias letras de forma, e dizei‐me se não estão incertos os tempos e se não devemos todos andar de pulga atrás da orelha! 

        A minha esperança estava no fim do mundo, com anjos descendo do céu; anjos suaves e anjos terríveis; os suaves para conduzirem os que se sentarão à direita de Deus, e os terríveis para os que se dirigem ao lado oposto. Mas até o fim do mundo falhou; até os profetas se enganam, a menos que as rezas dos justos tenham podido adiar a catástrofe que, afinal, seria também uma apoteose. E assim continuaremos a quebrar a cabeça com estes enigmas cotidianos. [...] 

        Os pedestres pensam que devem andar no meio da rua. Os motoristas pensam que devem pôr os veículos nas calçadas. Até os bondes, que mereciam a minha confiança, deram para sair dos trilhos. Os analfabetos, que deviam aprender, ensinam! Os revólveres, que eram consideradas armas perigosas, e para os quais se olhava a distância, como quem contempla a Revolução Francesa ou a Guerra do Paraguai – pois os revólveres andam agora em todos os bolsos, como troco miúdo. E a vocação das pessoas, hoje em dia, não é nem para o diálogo com ou sem palavras, mas para balas de diversos calibres. Perto disso a carestia da vida é um ramo de flores. O que anda mesmo caro é a alma. E o demônio passeia pelo mundo, glorioso e impune.

(MEIRELES, Cecília. 1901‐1964. Escolha o seu sonho. Crônicas – 26ª ed.– Rio de Janeiro: Record, 2005 ‐ Adaptado.)

Considerando que os pronomes são elementos que funcionam apenas dentro do discurso, referindo-se a outras palavras no contexto linguístico, e estas, por sua vez, referem-se aos significados extralinguísticos (objetos, lugares, pessoas que existem fora da linguagem), assinale a afirmativa que evidencia pronome possessivo.

Alternativas
Comentários
  • Gab A

    minha

  • GAB : A

    “Até os bondes, que mereciam a minha confiança, deram para sair dos trilhos.” (6º§) Temos um pronome possessivo.

  • Gabarito -A

    Minha = pronome possessivos.

    Até os bondes, que mereciam a minha confiança, deram para sair dos trilhos.” (6º§)

    Não esquecer que exerce a função de adjunto adnominal.

  • pronomes possessivos (1 pessoa: meu(s),minhas(s),nosso(s),nossa(s)

    (2 pessoa: teu(s),tua(s),vosso(s),vossa(s)

    (3 pessoa:seu(s),sua(s).

  • A questão é sobre pronomes e quer saber qual das frases abaixo apresenta um pronome possessivos. Vejamos:

    Pronomes possessivos: são palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo (coisa possuída). O pronome possessivo concorda em pessoa com o possuidor e em gênero e número com a coisa possuída. São eles: meu(s), minha(s), teu(s), tua(s), seu(s), sua(s), nosso(s), nossa(s), vosso(s) e vossa(s).

     . 

    A) “Até os bondes, que mereciam a minha confiança, deram para sair dos trilhos.” (6º§)

    Certo. "Minha" é pronome possessivo.

     . 

    B) A observação do presente leva-nos até a descer dos exemplos do passado (...)” (2º§)

    Errado. "Nos" é pronome pessoal oblíquo.

     . 

    C) “Prestai atenção às coisas que vos contam, em família, na rua, nos cafés, em várias letras de forma (...)” (4º§)

    Errado. "Vos" é pronome pessoal oblíquo.

     . 

    D) “(...) e dizei‐me se não estão incertos os tempos e se não devemos todos andar de pulga atrás da orelha!” (4º§)

    Errado. "Me" é pronome pessoal oblíquo.

     . 

    Para complementar:

    Pronomes pessoais: substituem os substantivos, indicando as pessoas do discurso (1ª pessoa: aquele que fala; 2ª pessoa: aquele com quem se fala; 3ª pessoa: aquele de quem se fala)

    Pronomes pessoais do caso reto: exercem a função sintática de sujeito da oração. São eles: eu, tu, ele, nós, vós, eles.

    Pronomes pessoais do caso oblíquo: exercem a função sintática de complemento nominal, complemento verbal (objeto direto ou indireto), agente da passiva, adjunto adnominal ou adverbial, sujeito de uma oração reduzida. Podem ser átonos (não antecedidos de preposição): me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes; ou tônicos (precedidos por preposição): mim, comigo, ti, contigo, ele, ela, si, consigo, nós, conosco, vós, convosco, eles, elas.

    Gabarito: Letra A

  • Questão Tranquila, bem elaborada.

  • CONFIANÇA É SUBSTANTIVO, PORTANTO "MINHA" É PRONOME POSSESSIVO.