TEXTO II
Nenhum país é tão pequeno como o nosso. Nele só existem dois lugares: a cidade e a Ilha. A
separá-los, apenas um rio. Aquelas águas, porém, afastam mais que a sua própria distância. Entre um e outro
lado reside um infinito. São duas nações, mais longínquas que planetas. Somos um povo, sim, mas de duas
gentes, duas almas.
As casas de cimento estão em ruína, exaustas de tanto abandono. Não são apenas casas destroçadas:
é o próprio tempo desmoronando. Ainda vejo numa parede o letreiro já sujo pelo tempo: “A nossa terra será o
túmulo do capitalismo”. Na guerra, eu tivera visões que não queria repetir. Como se essas lembranças viessem
de uma parte de mim já morta.
Tudo está sendo queimado pela cobiça dos novos-ricos. É isso que sucede em sua opinião. A Ilha é um
barco que funciona às avessas. Flutua porque tem peso. Tem gente feliz, tem árvore, tem bicho e chão parideiro.
Quando tudo isso lhe for tirado, a Ilha se afunda. A Ilha é o barco, nós somos o rio.
(Mia Couto)
Podemos caracterizar como expressões de ideias opostas no texto II: