SóProvas


ID
4072681
Banca
FUNCAB
Órgão
Prefeitura de Porto Velho - RO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder á questão.


Um chá maluco


        Em frente à casa havia uma mesa posta sob uma árvore, e a Lebre de Março e o Chapeleiro estavam tomando chá; entre eles estava sentado um Caxinguelê, que dormia a sono solto [...]

        Era uma mesa grande, mas os três estavam espremidos numa ponta. “Não há lugar! Não há lugar!”, gritaram ao ver Alice se aproximando. “Há lugar de sobra!”, disse Alice indignada, e sentou-se numa grande poltrona à cabeceira.

        [...]

         “Não foi muito polido de sua parte sentar-se sem ser convidada”, retrucou a Lebre de Março.

         “Não sabia que mesa era sua”, declarou Alice, “está posta para muito mais do que três pessoas.”

         “Seu cabelo está precisando de um corte”, disse o Chapeleiro. Fazia algum tempo que olhava para Alice com muita curiosidade e essas foram suas primeiras palavras.

         “Devia aprender a não fazer comentários pessoais”, disse Alice com alguma severidade; “é muito indelicado.”

         O Chapeleiro arregalou os olhos ao ouvir isso, mas disse apenas: “Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?”

         “Oba, vou me divertir um pouco agora!”, pensou Alice. “Que bom que tenham começado a propor adivinhações”. E acrescentou em voz alta: “acho que posso matar esta”.

         “Está sugerindo que pode achara resposta?”, perguntou a Lebre de Março.

        “Exatamente isso”, declarou Alice.

         “Então deveria dizer o que pensa”, a Lebre de Março continuou.

        “Eu digo”, Alice respondeu apressadamente; “pelo menos... pelo menos eu penso o que digo... é a mesma coisa, não?”

         “Nem de longe a mesma coisa!”, disse o Chapeleiro. “Seria como dizer que ‘vejo o que como’ é a mesma coisa que ‘como o que vejo’!”

         “Ou o mesmo que dizer”, acrescentou a Lebre de Março, “que ‘aprecio o que tenho’ é a mesma coisa que ‘tenho o que aprecio’!”

         “Ou o mesmo que dizer”, acrescentou o Caxinguelê, que parecia estar falando dormindo, “que ‘respiro quando durmo’ é a mesma coisa que ‘durmo quando respiro’!”

         “É a mesma coisa no seu caso”, disse o Chapeleiro, e nesse ponto a conversa arrefeceu e o grupo ficou sentado em silêncio por um minuto, enquanto Alice refletia sobre tudo de que conseguia se lembrar sobre corvos e escrivaninhas, o que não era muito.

        O Chapeleiro foi o primeiro a quebrar o silêncio. “Que dia do mês é hoje?”, disse, voltando-se para Alice. [...]

         Alice pensou um pouco e disse: “Dia quatro.”

         “Dois dias de atraso!”, suspirou o Chapeleiro. “Eu lhe disse que manteiga não ia fazer bem para o maquinismo”, acrescentou, olhando furioso para a Lebre de Março.

         “Era manteiga da melhor qualidade” , respondeu humildemente a Lebre de Março.

         “Sim, mas deve ter entrado um pouco de farelo”, o Chapeleiro rosnou. “Você não devia ter usado a faca de pão.”

        A Lebre de Março pegou o relógio e contemplou-o melancolicamente . Depois mergulhou-o na sua xícara de chá, e fitou-o de novo. Mas não conseguiu encontrar nada melhor para dizer que seu primeiro comentário: “Era manteiga da melhor qualidade.” [...]

CARROL, Lewis. Alice no país das maravilhas. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 67-9

Se o pronome oblíquo fosse deslocado para a posição enclítica, a colocação ficaria plenamente inadequada na frase:

Alternativas
Comentários
  • Ué achei que fosse letra B

  • A palavra "depois" na letra B não atrai o pronome??

  • Imaginei que o gabarito fosse a Letra B pelo fato da conjunção "Depois" atrair o pronome.

  • A maioria já está em ênclise, o enunciado quer o que estaria incorreto se fosse colocado como próclise o pronome.

  • ''disse, voltando-se para Alice.”

    Gab - E

  • A posição do pronome oblíquo átono (me, te, se, lhe, vos, o[s], a[s], etc.) pode ser distintamente três: próclise (antes do verbo. p.ex. não se realiza trabalho voluntário), mesóclise (entre o radical e a desinência verbal, p.ex. realizar-se-á trabalho voluntário) e ênclise (após o verbo, p.ex. realiza-se trabalho voluntário). 

    O enunciado é obscuro e caótico em sua redação quando cotejado com as alternativas. A bem da verdade, deveria ser reformulado e requerer a alternativa em que a mudança da posição do pronome átono acarrete erro.

    a) “e fitou-o de novo.” (§22)

    Correto. Tanto a ênclise quanto a próclise são legítimas. Se anteposto o pronome "o", conservar-se-ia a correção da frase: "E o fitou de novo";

    b) “Depois mergulhou-o na sua xícara de chá...” ( § 22)

    Correto. Tanto a ênclise quanto a próclise são legítimas. O caso em apreço abarca uma particularidade da colocação pronominal. O pronome átono posposto a verbo modificado diretamente por advérbio é legítimo desde que haja pausa entre verbo e advérbio, indicada ou não por vírgula. Em Moderna Gramática Brasileira, de Evanildo Bechara, p.607, o autor discorre acerca do caso e ainda apresenta este exemplo, extraído de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de autoria machadiana: "Ele esteve alguns instantes de pé, a olhar para mim; depois estendeu-me a mão com um gesto comovido". Destarte, a colocação enclítica encontra respaldo tanto em Bechara quanto em Machado de Assis. Naturalmente, poder-se-ia antepor o pronome ao verbo: "Depois o mergulhou (...)";

    c) “e sentou-se numa grande poltrona à cabeceira.” (§ 2)

    Correto. Tanto a ênclise quanto a próclise são legítimas. Se anteposto o pronome, conservar-se-ia a correção da frase: "E se sentou (...)";

    d) “gritaram ao ver Alice se aproximando.” (§ 2)

    Correto. Tanto a ênclise quanto a próclise são legítimas. Se posposto o pronome, conservar-se-ia a correção da frase: "Gritaram ao ver Alice aproximando-se";

    e) ”disse, voltando-se para Alice.” (§ 17)

    Incorreto. Aqui, apenas a ênclise é correta, tendo em vista que os pronomes oblíquos átonos não podem encabeçar períodos.

    Letra E

  • Isso vai te ajudar em alguns casos:

    Após vírgula = ÊNCLISE.

    --------------------------

    Perceba que ele solicita a que não causaria prejuízo.

    --------------

    A) “e fitou-o de novo.” (§22)

    E o fitou de novo.

    Sem fator de próclise = Pode ser ênclise ou próclise

    --------------------------------

    B) “Depois mergulhou-o na sua xícara de chá...” ( § 22)

    --------------------------------

    C) “e sentou-se numa grande poltrona à cabeceira.” (§ 2)

    Sem fator de próclise = Pode ser ênclise ou próclise

    D) “gritaram ao ver Alice se aproximando.” (§ 2)

    Sem fator de próclise = Pode ser ênclise ou próclise

    E) ”disse, voltando-se para Alice.” (§ 17)

    Após vírgula = ÊNCLISE.

  • CUIDADO

    A questão possui sérios problemas, defender o gabarito é confabular com a subjetividade das bancas.

    Se o pronome oblíquo fosse deslocado para a posição enclítica, a colocação ficaria plenamente inadequada na frase:

    O enunciado é claro, "se o pronome oblíquo fosse deslocado para a posição enclítica,...ficaria plenamente inadequada...", logo, já partimos do pressuposto de que procuramos a assertiva que possua um pronome que, se colocado encliticamente, causa inadequação gramatical.

    A) “e fitou-o de novo.” (§22)

    Temos o pronome já colocado encliticamente e de forma correta.

    B) “Depois mergulhou-o na sua xícara de chá...” ( § 22)

    Temos a única alternativa que poderia ser considerada como gabarito. "Poderia", pois, apesar de já possuirmos o pronome enclítico, o que destoa do enunciado, a colocação facultativa pode ser defendida com base no caso especifico da presença de pausa entre o adverbio "depois" e o verbo "mergulhou", pausa esta que poderia ser marcada por virgula. No entanto, diante da falta de alternativa mais adequada, é a escolha lógica do aluno.

    C) “e sentou-se numa grande poltrona à cabeceira.” (§ 2)

    Temos o pronome já colocado encliticamente e de forma correta.

    D) “gritaram ao ver Alice se aproximando.” (§ 2)

    Temos o pronome colocado procliticamente sem termo atrativo, a colocação enclítica não causa inadequação à construção.

    E) ”disse, voltando-se para Alice.” (§ 17)

    Temos o pronome já colocado encliticamente e de forma correta.

    Não cabe extrapolarmos a questão para encontrarmos o gabarito, o enunciado é claro e não deixa margem para duplo entendimento, de modo que o gabarito oferecido é inválido.

  • Essa questão é um insulto

  • Mas o que há de inadequado na alternativa "E" mesmo?

  • Achei que fosse a letra B. Mas pelo visto não fui a única.

  • Enunciado não condizente com o gabarito!

    Na letra E, o pronome já se encontra em posição enclítica, e o enunciado diz que "se o pronome fosse deslocado..."

    Não há coerência nenhuma entre o fragamento que introduz a questão e o gabarito proposto.

  • Gente, mas a correta não é a letra B?

  • Creio que o enunciado queria fazer menção à posição proclítica.

    Apenas dessa forma se consegue justificar o gabarito, pois ficaria inadequado o uso do pronome oblíquo átono(P.O.A) no início de período.

    Com relação a letra B, já vi alguns gramáticos defenderem o uso facultativo do P.O.A após advérbios que não expressam pausa. Destarte, seria um uso " estilístico".

    Contudo, a letra E não depende de interpretação para se enquadrada como incorreção, caso se utilize o P.O.A como próclise; coisa que o enunciado não menciona.