SóProvas


ID
4107391
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Manhumirim - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Combate à desigualdade pela raiz

    Cotidianamente, todos nós nos deparamos com o passivo que nosso sistema educacional gera ano a ano. Por mais confortável e estruturada que esteja nossa vida e por melhor que tenha sido a nossa formação e a de nossos filhos, a lacuna que o sistema gera para um contingente tão grande de brasileiros impacta a qualidade de vida, o dia a dia de todos nós. [...]

    Quanto à educação formal, pode-se dizer que tal investimento não começa apenas nos ensinos fundamental e médio: se dá a partir da educação infantil. Sabe-se que os investimentos, ainda na primeira infância, não só reduzem a desigualdade, mas também produzem ganhos tanto para o indivíduo quanto para a sociedade. No entanto, a urgência frente ao “apagão de mão de obra” tem gerado uma pressão por investimento no ensino médio. A questão de fundo, porém, continua sendo: por que algumas crianças vão tão longe e outras ficam condenadas aos limites de sua inserção social?

    A falta de condições necessárias para desenvolver seu potencial acaba impedindo a mobilidade de um enorme contingente de crianças e jovens. Isso pode ser causado por inúmeros fatores sociais, econômicos, culturais, familiares. No entanto, entre eles, é possível destacar a quantidade e qualidade dos estímulos e informações aos quais os indivíduos são submetidos desde pequenos.

    Tal constatação pode parecer simples, e a resposta imediata a esse problema seria, então, ampliar o nível de exposição de todos à informação e a práticas culturais qualificadas. Sem dúvida, isso é parte da solução, mas, infelizmente, não é suficiente. Para além do contato com a informação, são necessárias interações que promovam o desenvolvimento de capacidades que levem os sujeitos a ultrapassar o mero consumo de conhecimentos. Trata-se, portanto, de colocar a ênfase no processamento e na produção de ideias, reflexões e respostas. E isso se dá por meio da interação com os adultos e com os objetos de conhecimento. A diferença vai se estabelecendo na qualidade da interação cotidiana e na forma de estimular e acreditar na capacidade daquele pequeno ser. [...]

    Atualmente, muitas crianças brasileiras já têm acesso a livros, bibliotecas, laptops, celulares etc. Entretanto, as práticas dos atores que mediam o acesso a essas “tecnologias” são muito diversificadas. E é nesse espaço invisível que se configuram a marginalização e as diferenças na qualidade do relacionamento que as crianças têm com a cultura letrada. Um educador que utiliza estruturas mais sofisticadas da língua para se comunicar com seus alunos, ainda que bem pequenos, e propõe atividades que os incentivem a aprender sobre e a partir da linguagem, oferecerá um contexto favorável ao desenvolvimento de habilidades e conhecimentos que amplificam seu potencial cognitivo. Em contrapartida, alunos expostos a práticas mais mecânicas, transmissivas, podem continuar limitados ao consumo do conhecimento.

    A educação pode e deve promover o desenvolvimento pessoal e a inserção social, especialmente em um país com tantas desigualdades como o Brasil. É necessário entender que o acesso à informação não é suficiente para transformar a nossa realidade e que é na composição de inúmeros microaprendizados cotidianos que se cria a oportunidade de desenvolvimento cognitivo. O processo de aprendizagem é cultural e precisa de mediação qualificada desde muito cedo. Portanto, para além da urgência de fazer frente ao “apagão da mão de obra”, é necessário investir na produção de conhecimentos no campo da linguagem e nos saberes específicos que se dão na interface entre os domínios teórico e prático. Precisamos subsidiar os professores que atendem à primeira infância, a fim de que todas as crianças brasileiras, desde muito cedo, possam participar regularmente de situações produtivas de aprendizagem.

(Beatriz Cardoso. O Globo, 21 de julho de 2014.)

Dentre os empregos da palavra “que” está o de estabelecer conexões em que ocorre a retomada de elementos anteriormente expressos contribuindo, deste modo, para coesão textual. Tal função pode ser verificada em:

Alternativas
Comentários
  • Gab: C

    >> A questão quer a assertiva em que o emprego do "que" tenha a função de pronome relativo;

    "E é nesse espaço invisível que se configuram a marginalização e as diferenças na qualidade do relacionamento que as crianças têm com a cultura letrada."

    >> O "que" como pronome relativo é fácil de identificar, basta tentarmos substitui-lo por "o qual", se for possível, trata-se de um pronome relativo;

    >> E é nesse espaço invisível que se configuram... >> E é nesse espaço invisível no qual...

    >> Temos o "que" como pronome relativo retomando o termo "espaço invisível".

  • Resuma o enunciado no seguinte :

    O pronome relativo retoma a substantivos..

    Troque o "que " por qual (ais )

    ------------

    “E é nesse espaço invisível que se configuram [...]”

    nesse espaço invisível ( o qual )

  • Em palavras alternativas, a questão requereu a opção de resposta em que a partícula "que" desempenhe o papel de pronome relativo, caso em que resgatará termos dentro da estrutura.

    Sobre as características morfossintáticas da partícula "que", convém registrar duas mais recorrentes:

    → Só terá função sintática quando for pronome relativo (é possível substitui-lo por "o qual" e equivalentes). Como é da natureza intrínseca do pronome, resgata termos anteriormente expressos. Nesses casos, poderá desempenhar as seguintes funções: sujeito, objeto direto, objeto indireto, agente da passiva, complemento nominal, predicativo e adjunto adverbial;

    → Se for conjunção integrante, não resgatará termo algum e introduzirá segmentos oracionais, precisamente orações subordinadas substantivas.

    a) “Sabe-se que os investimentos, [...]” (2º§)

    Incorreto. O "que" é conjunção integrante e introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta, que por sua vez exerce função sintática de objeto direto do verbo "saber";

    b) “[...] por que algumas crianças vão tão longe [...]” (2º§)

    Incorreto. De acordo com Celso Pedro Luft em Grande Manual de Ortografia, p.136, a partícula "que" constituinte do "por que", separado, é pronome interrogativo, tendo em vista que há uma pergunta direta na estrutura. Veja fragmento maior: "(...) por que algumas crianças vão tão longe e outras ficam condenadas aos limites de sua inserção social?"

    c) “E é nesse espaço invisível que se configuram [...]” (5º§)

    Correto. O "que" desempenha o papel de pronome relativo (resgata "espaço invisível”) e tem função sintática de adjunto adverbial da oração a que pertence;

    d) “[...] pode-se dizer que tal investimento não começa [...]” (2º§)

    Incorreto. O "que" é conjunção integrante e introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta, que por sua vez exerce função sintática de objeto direto do verbo "dizer".

    Letra C

  • Assertiva C

    “E é nesse espaço invisível que se configuram [...]” (5º§)

  • Pronomes Relativos 

    São aqueles que representam nomes já mencionados anteriormente e com os quais se relacionam Introduzem as orações subordinadas adjetivas 

    O racismo é um sistema que afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros

    (afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros = oração subordinada adjetiva).

    O pronome relativo "que" refere-se à palavra "sistema" e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra "sistema" é antecedente do pronome relativo "que" O antecedente do pronome relativo pode ser o pronome demonstrativo "o", "a" "os", "as".

    Não sei o que você está querendo dizer. (não sei aquilo)

    As vezes, o antecedente do pronome relativo não vem expresso

    Quem casa, quer casa.

  • Na minha opinião, essa questão não tem resposta correta. Vamos lá:

    "E é nesse espaço invisível que se configuram [...]” (5º§)"

    "é... que..." é uma construção de realce/expletiva (dispensável).

    Vejam só como fica a sentença sem esses elementos:

    "E nesse espaço invisível se configuram a marginalização e as diferenças na qualidade do relacionamento que as crianças têm com a cultura letrada".

    Estão forçando a troca de "que" por "o qual" inadequadamente. "E é nesse espaço 'o qual' se configuram".

    Gente, não dá.

    Enfim... se alguém discordar de mim e puder me explicar melhor essa questão, por favor, faça-o.

  • Infelizmente temos de dar à banca examinadora aquilo que ela quer, mas afirmo que o "QUE" da alternativa C não é pronome relativo, senão partícula expletiva {SER+QUE}.

    “E é nesse espaço invisível que se configuram [...]” (5º§)

    Ou, retirando-se:

    “E nesse espaço invisível se configuram [...]” (5º§)

  • Concordo com o Futuro PGE. Entendi ser uma expressão expletiva. Já vi uma questão dessa banca em outra prova que errei por não perceber ser uma expressão expletiva. Aí, aparece-me outra e eu digo pra mim mesmo: "Rá, dessa vez eu te pego!". Nada. Acabei errando porque a banca não acha que é uma expressão expletiva. Sei não, mas acho que vou fazer 5 anos de Psicologia numa faculdade para entender essa banca. Isso se não parar antes num reformatório.

  • Eu resolvi assim:

    a) “Sabe-se que os investimentos, [...]” (2º§) [sabe-se ISSO.... o 'que' introduz oração subordinada substantiva, por isso ele é uma CONJUNÇÃO INTEGRANTE da oração..]

    b) “[...] por que algumas crianças vão tão longe [...]” (2º§) [o 'que' aparece em frase interrogativa e funciona como PRONOME INTERROGATIVO ]

    c) “E é nesse espaço invisível que se configuram [...]” (5º§) [ o 'que' aqui introduz uma oração subordinada adjetiva, funciona como um PRONOME RELATIVO, percebemos isso trocando-o por no qual / onde ]

    d) “[...] pode-se dizer que tal investimento não começa [...]” (2º§) [pode-se dizer ISSO.... o 'que' introduz oração subordinada substantiva, por isso ele é uma CONJUNÇÃO INTEGRANTE da oração..]

    CONJUNÇÃO INTEGRANTE NÃO RETOMA NADA e sim faz a conexão entre orações. Pronome Interrogativo também não retoma...

    Já os PRONOMES RELATIVOS sim!!!

    Gabarito c)

  • Concordo com os dois caras que se confundiram com a partícula expletiva. Tbm fui nessa mesma vibe.