SóProvas


ID
4116631
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Apiacá - ES
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Os três vazios – Sobre como fomos esvaziados e lavados para fazer escoar a angústia consumista

    Podemos caracterizar nossa época a partir de (três) grandes vazios:
    1 – O primeiro deles é o vazio do pensamento, tal como o denominou Hannah Arendt. A característica desse vazio é a ausência de reflexão, em palavras simples, de questionamento. Como é impossível viver sem pensamento, o uso de ideias prontas se torna a cada dia mais necessário e vemos ideias se transformarem em mercadorias para facilitar a circulação. Não são apenas as ideias que viram mercadorias. As mercadorias também vêm substituir ideias. Elas se “consubstanciam” em ideias e fazem a sua vez. O império do design de nosso tempo tem a ver com isso. Cada vez mais gostamos de coisas nas quais se guarda uma ideia. Hoje em dia vende-se autenticidade e prosperidade como um dia se vendeu felicidade, liberdade e imortalidade. A ideia é melhor vendida por meio de conceitos que podemos possuir ou, pelo menos, queremos possuir. O design garante isso. O que antigamente se chamava de “arte pela arte”, agora se chama de “estética pela estética”.

    Com isso quero dizer que o mundo da aparência substituiu o da essência e isso atingiu até mesmo o pensamento. A inteligência se tornou algo da ordem da aparência, uma moda. Por isso mesmo, a ignorância populista também faz muito sucesso. Enquanto uns vendem aparência de inteligência, outros vendem aparência de ignorância. Se há realmente inteligência ou ignorância, não é bem a questão. Ganham os que sabem administrar essas aparências para a mistificação das massas. A indústria cultural também é do design. E o design também é da inteligência e da ignorância.

    2 – O segundo vazio parece ainda mais profundo, até porque, tradicionalmente tem relação com o território do que chamamos de sensibilidade que está revestido de mistérios. Nesse campo, entra em jogo o vazio da emoção. A impressão de que vivemos em uma sociedade anestesiada, na qual as pessoas são incapazes de sentir emoções, não é nova. Alguns já falaram em culto da emoção, em sociedade excitada, em sociedade fissurada. Buscamos de modo ensandecido uma emoção qualquer. Pagamos caro. Da alegria à tristeza, queremos que a religião, o sexo, a alimentação, os filmes, as drogas, os esportes radicais, tudo nos provoque algum tipo de êxtase. A emoção virou mercadoria e o que não emociona não vale a pena. Alegrias suaves e tristezas leves não interessam. Tudo tem que ser extasiante. As mercadorias aparecem com a promessa de garantir esse êxtase. Das roupas de marca ao turismo, tudo tem que ser intenso, cinematográfico, transcendental, radical, impressionante. É o império da emoção contra a chateação, da excitação contra o tédio, da rapidez contra a calma, da festa contra a tranquilidade. A questão que está em jogo é a do esvaziamento afetivo. Se usarmos um clichê, diremos que nos tornamos cada vez mais frios, cada vez mais robotizados. Há uma verdade nisso: quer dizer que perdemos nosso calor humano, nosso calor animal, o que nos confirma como seres vivos. Ficamos cada vez mais vitimados pelo universo da plasticidade. O império do design se instaura aí. Da plasticidade exterior ao plástico (que consumimos fisiologicamente no uso de uma garrafa de água), não há muita diferença. [...]

(TIBURI, Márcia. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2016/08/os-tres-vazios-sobre-como-fomos-esvaziados-e-lavados-parafazer-escoar-a-angustia-consumista/. Adaptado.)

“A emoção virou mercadoria e o que não emociona não vale a pena. Alegrias suaves e tristezas leves não interessam. Tudo tem que ser extasiante. As mercadorias aparecem com a promessa de garantir esse êxtase. Das roupas de marca ao turismo, tudo tem que ser intenso, cinematográfico, transcendental, radical, impressionante.” (4º§) Assinale o comentário a seguir, sobre o texto, em que haja coesão textual e cuja correção gramatical esteja de acordo com a norma padrão da língua.

Alternativas
Comentários
  • Gab. D

    Qual o erro da A??? Fiquei entre ela e a alternativa D

  • Fiquei entre A e B, também não sei o erro da A.... porém, não tô entendendo o porquê da De estar certo...da uma sensação de que falta vírgula... pontuação.

  • O erro da A está em "mesmo". Seja como pronome, ou como adjetivo, não possui coesão nenhuma no período.

  • O erro da letra A está em dizer que houve uma sobreposição "aos mesmos valores", porém o texto não assimila como "iguais" os valores referentes à aparência com os da essência humana.

    "Com isso quero dizer que o mundo da aparência substituiu o da essência e isso atingiu até mesmo o pensamento".

    Vejam que não há nenhuma equiparação de igualdade.

    O erro da letra B está na construção "vende-se", sendo que o correto seria "vendem-se".

  • Assinale o comentário a seguir, sobre o texto

    Gab. D

  • Sobre o item d):

    Não houve vírgulas por ser uma oração subordinada adjetiva restritiva. Está correta.

    O vazio SUJEITO - substantivo abstrato (gerado por um mercado consumista insaciável) COMPLEMENTO NOMINAL - sofre ação - indica um caminho cujo retorno tem uma grande urgência.

    Se a redação fosse "O vazio, gerado por um mercado consumista insaciável, indica um caminho cujo retorno tem uma grande urgência".

    Seria qualquer vazio e o trecho entre vírgulas teria função sintática de aposto explicativo.

    Esta foi minha análise, espero ter contribuído. Erro? Envia no privado.

  • Quando se fala em texto inteligente não há o que falar da IDECAN!

    Que textoo!