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ID
4138480
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Manhumirim - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O amor acaba
(Paulo Mendes Campos.)

    O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

(WERNECK, Humberto (org.). Boa companhia – Crônicas. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.)

“... às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido...”. A expressão sublinhada, de acordo com o contexto empregado, significa:

Alternativas
Comentários
  • "às vezes" é uma expressão adverbial que indica frequência, podendo ser substituída por "de vez em quando".

    Gabarito letra D!

  • Às vezes (com acento grave) Trata-se de uma locução adverbial de tempo, ou seja, significa que essa expressão gera efeito de sentido sinônimo a “de vez em quando”, “por vezes”, “ocasionalmente”.

    gab- D

  • A questão quer saber qual o significado da locução "às vezes" em "... às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido...". Vejamos:

    "Às vezes" é sinônimo de raramente, poucas vezes, de quando em quando, de vez em quando, ocasionalmente, por vez, por vezes...

    A) Situações.

    "Situações" é sinônimo de acontecimentos, ocorrências, casos, circunstâncias...

    B) Momentos.

    "Momentos" é sinônimo de instantes, ocasiões, situações, circunstâncias, condições, conjunturas, acontecimentos...

    C) Certamente.

    "Certamente" é sinônimo de com certeza, de certeza, decerto, indubitavelmente, seguramente, sem dúvida, muito possivelmente, muito provavelmente...

    D) De vez em quando.

    "De vez em quando" é sinônimo de às vezes, de quando em quando, de quando em vez, de tempos a tempos, de tempos em tempos, ocasionalmente, por vezes.

    Gabarito: Letra D

  • Às vezes, locução adverbial feminina, por isso tem crase.

    Às vezes resolvo umas questões

    De vez em quando resolvo umas questões

  • GABARITO: D

    Às vezes é uma locução adverbial de tempo que é sinônima a "de vez em quando".

    Exemplo: às vezes, eu sou feliz.

    OBSERVAÇÃO:

    As vezes, sem a crase, também existe. Quando ela está nessa forma tem o sentido de "as ocasiões", "os momentos".

    Exemplo: Foi importante as vezes que te beijei.

  • Às vezes é advérbio de tempo.

  • GABARITO - D

    as vezes = sinônima de " as ocasiões"

    às vezes = significa “de vez em quando".

    Bons estudos!

  • “... às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido...”. A expressão sublinhada, de acordo com o contexto empregado, significa:

    Situações. ❌

    Momentos. ❌

    Certamente. ❌

    De vez em quando. ✅

    03) Advérbios de Tempo 

    afinal, agora, amanhã, amiúde (de vez em quando), ontem, breve, cedo, constantemente, depois, enfim, entrementes (enquanto isso), hoje, imediatamente, jamais, nunca, outrora, primeiramente, tarde, provisoriamente, sempre, sucessivamente, já.

    Locuções Adverbiais de Tempo: 

    às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.

    Crase :

    A letra "a" que acompanha locuções femininas (adverbiais, prepositivas e conjuntivas) recebe o acento grave:

     - locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às pressas, à vontade...

     - locuções prepositivas: à frente, à espera de, à procura de... 

     - locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que...

  • A questão quer saber qual assertiva indica corretamente a palavra que poderia substituir "às vezes" no trecho abaixo. Vejamos:

    “... às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido...”.

    A expressão ''às vezes" é uma locução que indica tempo, circunstanciando o tempo que acaba o amor. Sabendo isso, podemos analisar cada assertiva. Analisemos:

    a) Incorreta

    Situações⇢ substantivo, pois nomeia um ambiente, uma condição, um acontecimento, uma ocorrência.

    b) Incorreta.

    Momentos⇢ substantivo, pois nomeia um lugar no tempo, mas não circunstancia a duração em si.

    c) Incorreta.

    Certamente⇢ advérbio de afirmação.

    d) Correta.

    De vez em quando⇢ locução adverbial de tempo, podendo substituir outra com esse mesmo sentido.

    “... de vez em quando o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido...”.

    Gabarito do monitor: D

  • Eu fico impressionada como o perfil das questões de Portugues da banca IDECAN mudou absurdamente em 2/3 anos.