SóProvas


ID
4138501
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Manhumirim - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O amor acaba
(Paulo Mendes Campos.)

    O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

(WERNECK, Humberto (org.). Boa companhia – Crônicas. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.)

Quanto à classificação verbal, está INCORRETA a alternativa:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: D

    está conjugado no pretérito imperfeito do subjuntivo

  • GABARITO-D

    A) “... elas se movimentam no escuro...” (presente do modo indicativo).

    O verbo está no presente do indicativo.

    OBS:

    Não confundir tempo x modo:

    Tempo : Presente / Pretérito / Futuro

    Modo: Indicativo / Subjuntivo / Imperativo

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    B) “... as mãos soubessem antes...” (pretérito imperfeito do modo subjuntivo).

    O pretérito imperfeito do subjuntivo tem a terminação " SSE".

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    C) “... uma carta que chegou antes,...” (pretérito perfeito do modo indicativo).

    Usos dos pretéritos

    Imperfeito - Expressa um fato passado não concluído.

    Terminação (ava) eu Jogava bola todos os dias com os colegas.

    Perfeito - Expressa um fato passado concluído

    Joguei bola , ontem, com alguns amigos.

    Mais- que- perfeito - Fato no passado anterior a outro passado.

    Terminação (ara)

    Todos já tinham terminado a prova quando ele terminara.

    Futuro do pretérito- Um fato futuro em relação ao passado.

    Terminação ( ria)

    Se tivesse passado , rasparia a cabeça.

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    D) “... como se lhe faltasse energia...” (pretérito imperfeito do modo imperativo).

    Faltasse - pretérito imperfeito do subjuntivo.

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    Fonte: Spadoto, FTD. Pág.104.

  • -SSE ------> Pretérito Imperfeito do Subjuntivo.

  • SUBJUNTIVO, o modo da subjetividade, da incerteza, da dúvida,

    da hipótese!

    IMPERATIVO, o modo da ordem,

    do pedido, da sugestão, da exortação, da advertência, da súplica... tudo dependerá do tom!

    D)está conjugado no pretérito imperfeito do subjuntivo

  • o pretérito imperfeito do subjuntivo tem terminação "SSE"
  • I- Pretérito perfeito do indicativo - passado já concluído

    II- pretérito imperfeito - passado em andamento.

    terminações "ia, va, nha"

    III- pretérito mais que perfeito - passado que fala de outro passado.

    terminações "ra" e "tinha/havia + particípio (ado ou ido)"

    IV - Pretérito imperfeito do do subjuntivo.

    terminação "sse"

  • Terminou em "sse" é SUBJUNTIVO

  • Se ele faltasse - Pretérito Imperfeito do subjuntivo (coloca o se na frente do verbo)