SóProvas


ID
4139080
Banca
Prefeitura de Campinas - SP
Órgão
Prefeitura de Campinas - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo. 

Criadores e legados 

      Dando alguns como aceitável que a nossa vida possa ser considerada um absurdo, já que ela existe para culminar na morte, parece-lhes ainda mais absurda quando se considera o caso dos grandes criadores, dos artistas, dos pensadores. Eles empregam tanta energia e tempo para reconhecer, formular e articular linguagens e ideias, tanto esforço para criar ou desafiar teorias e correntes do pensamento, é-lhes sempre tão custoso edificar qualquer coisa a partir da solidez de uma base e com vistas a alguma projeção no espaço e no tempo – que a morte parece surgir como o mais injusto e absurdo desmoronamento para quem justamente mais se aplicou na engenharia de toda uma vida. 
       Por outro lado, pode-se ponderar melhor: se o legado é grande, e não morre tão cedo, a desaparição de quem o construiu em nada reduz a atualização de sentido do que foi deixado. O criador não testemunhará o desfrute, mas quem recolher seu legado reconhecerá nele a força de um sujeito, de uma autoria confortadora para quantos que se beneficiam da obra deixada, e que dela assim compartilham. Sem sombra de rancor, uma sonata de Beethoven modula-se no dedilhar de uma sucessão de pianistas e por gerações de ouvintes, a cada vez que é interpretada e renovada. Na onda ecoante, no papel, no celuloide, no marfim, no mármore, no barro, no metal, na voz das palavras, é o tempo da vida e da arte, não o da morte, que se celebra no Feito. 
    O legado teimoso das obras consumadas parece contar com o fundamento mesmo da morte para reafirmar a cada dia o tempo que lhes é próprio. Essa é a sua riqueza e o seu desafio. Sempre alguém poderá dizer, na voz do poeta Manuel Bandeira: “ tenho o fogo das constelações extintas há milênios”, ecoando tanto uma verdade da astrofísica como a poesia imensa do nosso grande lírico.

(Justino de Azevedo, inédito)



Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

Alternativas
Comentários
  • Quando se solicita a correção e a clareza, é preciso ter em conta as regências (verbal e nominal), concordâncias (verbal e nominal), acentuação gráfica (marcação na escrita da sílaba mais forte), pontuação (uso de sinais, como vírgula, travessão, etc.), ortografia (escrita das palavras), coesão (a forma que o texto se amarra) e coerência (sentido). Inspecionemos cada alternativa a seguir:

    a) Mesmo a passagem do tempo não altera seja o valor, seja o sentido de permanência daqueles obras geniais cuja resistência os grandes mestres tanto se aplicaram.

    Incorreto. Há dois erros: um de concordância nominal e um de regência verbal. O pronome "daqueles" deve concordar com o substantivo a que se refere (obras) e o verbo "aplicar", no sentido em tela, rege preposição "a", que precisa preceder o pronome relativo "cuja". Correção: "(...) seja o sentido de permanência daquelas obras geniais a cuja resistência (...) se aplicaram";

    b) Ao ponderar sobre o valor e a permanência das grandes obras, o autor do texto admite que aquelas que sejam absolutamente geniais continuam se expandindo ao longo do tempo.

    Correto. Não há consertos a serem feitos na estrutura;

    c) O passar dos anos parece que não chega a alterar propriamente o sentido das grandes obras, inclusive lhes aumentando seu poder de permanência em alguns casos de obras-primas.

    Incorreto. Há pleonasmo vicioso na estrutura: o uso concomitante dos pronomes "lhes" e "seu", ambos se referindo ao mesmo núcleo (obras). Para dissolvê-lo, urge que se retire o segundo pronome. Correção: (...) o sentido das grandes obras, inclusive lhes aumentando o poder de permanência (...)";

    d) Já se comprovou, no caso das grandes obras, cuja passagem de tempo em nada lhes reduz a importância, onde, pelo contrário, parece apurar-se ainda mais o seu sentido.

    Incorreto. O pronome relativo "cujo" não cabe no contexto em tela, tendo em vista a inexistência de natureza possessiva, inata a esse pronome. Urge, portanto, a substituição pelo pronome "que". Adiante, o relativo "onde" também não se ajusta ao contexto presente, precisando ceder lugar ao pronome "qual" para resgatar o substantivo referente. Correções: "Já se comprovou, no caso das grandes obras, que a passagem de tempo em nada lhes reduz a importância, a qual, pelo contrário, parece apurar-se ainda mais o seu sentido";

    e) Pode-se atestar o valor de uma obra pelo tempo que perdura, haja visto que mesmo a mortalidade não a afeta, pelo contrário, lhe aguça a importância intransferível.

    Incorreto. A expressão "haja vista" é constituída de um verbo (haja) e um substantivo feminino (vista). Correção: "(...) haja vista que mesmo a mortalidade (...)".

    Letra B