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ID
4164439
Banca
IDECAN
Órgão
CREF - 5ª Região
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A arte de ser avó 

    Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...
    E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é “devolvido”. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração. 
    Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
    No entanto – no entanto! – nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do garoto. Não importa que ela, hipocritamente, ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de “vovozinha”, e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.
    Já a avó, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, “não ralha nunca”. Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café – café! –, mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser. Riscar a parede com o lápis dizendo que foi sem querer – e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó, e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna...
    E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade... 
    Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho – involuntariamente! – bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague...

(QUEIROZ, Rachel. – Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 – Texto adaptado.)

A alternativa em que a palavra sublinhada tem seu significado corretamente indicado é:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: B

    Enlevo:

    Sensação de êxtase; arroubo, deleite.

  • GABARITO - B

    A)  lisonjas - Elogio feito com intuito de bajular;

    exaltação feita de modo exagerado.

    B) – enlevos

    sensação de êxtase; arroubo, deleite.

    C) – objeção

     óbice, obstáculo, oposição, repulsa, repulsão

    D)o ônus  - sobrecarga; carga, peso.

  • IDECAN já gosta de pegar essas palavras que nunca nem vi na vida KKKK

  • São lisonjas ( carinhos exagerados ), nada mais. comentários (opinião expressa sobre um fato) ❌

    ... deixado pelos arroubos (encantamentos) juvenis. enlevos (sensação de prazer, êxtase, contentamento)

    ... mas oferece a sedução ( promessas e encantos) do romance... objeção ( oposição, contestar algo) ❌

    ... obrigação de educar e o ônus (carga e obrigação) de castigar. mérito ( pessoas digna de elogios) ❌

  • A questão é sobre sinônimos e quer que marquemos a alternativa em que a palavra sublinhada tem seu significado corretamente indicado. Vejamos: 

     .

    A) “São lisonjas, nada mais.” (4º§) – comentários

    Errado.

    Lisonja: ato ou efeito de lisonjear; adulação, lisonjaria. Louvor fingido com que se pretende obter favores ou privilégios; louvaminha, rapapé, servilismo.

     .

    B) “... deixado pelos arroubos juvenis.” (3º§) – enlevos

    Certo.

    Arroubar: tornar(-se) arrebatado; enlevar(-se), extasiar(-se)

    Enlevo: ato ou efeito de enlevar(-se); arroubo, deslumbramento, êxtase. Pessoa ou coisa que provoca sensação de arroubo; encanto, perfeição, maravilha.

     .

    C) “... mas oferece a sedução do romance...” (5º§) – objeção

    Errado.

    Sedução: ato de seduzir ou de ser seduzido; seduzimento. Dom de atrair ou de seduzir, próprio de certas pessoas; fascínio, magnetismo.

    Objeção: ato ou efeito de objetar; contestação, contra.

     .

    D) “... obrigação de educar e o ônus de castigar.” (4º§) – mérito

    Errado.

    Ônus: aquilo que pesa ou sobrecarrega; carga, peso. Aquilo de que se é obrigatoriamente incumbido; dever, encargo, obrigação.

    Mérito: condição que torna alguém digno de prêmio ou castigo.

     .

    Referência: MICHAELIS. Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, versão online, acessado em 3 de julho de 2021.

     .

    Gabarito: Letra B

  • Não sabia nem o que era arroubos, muito menos enlevos kk

  • Eu sei lá

    Espero ter ajudado

  • Como faz pra acertar essas questões com palavras que ninguém usa? Sério mesmo, já errei umas 10 e queria muito uma ajuda, videoaula, qualquer coisa que possa auxiliar. Difícil!

  • isso nao mede conhecimento de ninguem... palavras que ja ninguem usa a maioria vai acerta chutando

  • Eu acertei por saber o significado de todas, exceto da B