SóProvas


ID
4172566
Banca
FUMARC
Órgão
Prefeitura de Carneirinho - MG
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

UM EXEMPLO 

Sírio Possenti 

Publicado em 25 de novembro de 2016

Ref.: https://blogdosirioblog.wordpress.com/ [adaptado] 


    Uma amiga mexicana me mandou uma imagem: dois homens de terno (o terno indica uma classe social que não é a popular) conversam. Um diz: – Me corrigieran “Ler”. O outro responde: – No lo puedo “Crer”. 
    Não me dei conta, imediatamente, do que estava em jogo (tratando-se de outra língua, a presteza nunca é muito grande). Perguntei detalhes (não vou me imolar aqui…). Ela me deu o contexto, que é o seguinte: 
    Um Secretário de Instrución Pública falava a um grupo de alunos em uma escola e os incentivava a “ler” (ele disse “ler” mais de uma vez). Ao final, uma menina o chamou de lado e lhe informou que não se diz “ler”, “pero ‘leer’”. Ele achou graça, elogiou a aluna etc.
    Depois disso é que surgiu a piada narrada no primeiro parágrafo, uma montagem. A graça está no fato de que, na resposta (no lo puedo “crer”), ocorre o mesmo fenômeno que ocorre em “ler”. 
    Que é o seguinte: em espanhol “culto”, as formas do infinitivo destes dois verbos são “leer” e “creer”. O fato de o Secretário dizer “ler” indica, evidentemente, que esta pronúncia está desaparecendo: “ler” e “crer”.
    Observe-se que o fenômeno ocorre nos dois casos, o que favorece a tese dos sociolinguistas que defendem que, nos mesmos contextos, ocorrem as mesmas variações (ou mudanças).
    Observe-se, também, que esta mudança em curso no espanhol (do México, pelo menos), como o indica a fala do secretário, e depois, a montagem com “crer”, já ocorreu no português.
    Mesmo quem não conhece linguística histórica ou não tem um manual que descreva as mudanças ocorridas pode ver o registro em dicionários como o Houaiss, que fornece uma etimologia mínima (eu grifo leer e creer): 
    ler: cf. esp. leer, it. lèggere, fr. lire; ver le- e leg- e as remissivas aí citadas; f.hist. 1258-1261 leer, sXIII liia, sXIII leer, sXIV leendo, sXIV lyi, sXV le, sXV leese, sXV lia
    crer: pelo lat. vulg. *credére > port. arc. creer; ver cred-; f.hist. sXIII creer, sXIII creo, sXIV creyo, sXV crer, sXV creio

    O fato histórico pode ser atestado. E a variação no espanhol deve ser bem óbvia, pelo menos para muitos falantes. Se não fosse, a piada não funcionaria (como não funcionou comigo). 
    Observe-se, também, por muito relevante, que uma aluna de uma escola modesta aprendeu que se deve dizer “leer”.
   É um fato conhecido que instituições diversas (a escola, a imprensa, a própria escrita) retardam mudanças linguísticas. Pode-se apostar que, se essas instituições não existissem, ou se sua política fosse outra, ninguém mais saberia que as formas verbais em questão são (?) “leer” e “creer”. Aliás, para os falantes menos letrados, e mesmo para letrados em situação informal, já não são essas. 
    A piada seria impossível.
    O que seria lamentável. 

Em “Aliás, para os falantes menos letrados, e mesmo para letrados em situação informal, já não são essas.”, o pronome essas tem valor:  

Alternativas
Comentários
  • A questão em tela discorre sobre elementos de coesão referencial.

    Pode-se apostar que, se essas instituições não existissem, ou se sua política fosse outra, ninguém mais saberia que as formas verbais em questão são (?) “leer” e “creer”. Aliás, para os falantes menos letrados, e mesmo para letrados em situação informal, já não são essas. 

    Notem que o pronome demonstrativo faz referência a algo que já foi dito, embora no enunciado deveria ter colocado o trecho inteiro, sabemos que está no texto e por isso fiz questão de trazê-lo e por em negrito. Sabendo que o termo se refere ao trecho "as formas verbais em questão" iremos analisar as alternativas. Vejamos:

    a) anafórico.

    Correta. Os anafóricos referem-se ao que ainda vai ser enunciado, bem como ao que já foi mencionado no texto e faz isso por meio de pronomes demostrativos (essa, nessa, aquela...)

    b) catafórico.

    Incorreta. Será anafórica se aponta para um elemento já enunciado ou concebido, ou catafórica, se o elemento ainda não foi enunciado ou não está presente no discurso. Utilizamos os pronomes (este, neste, isto).

    Ex: Queremos isto: arroz, feijão, carne.

    c) dêitico.

    Incorreta. O elemento dêitico costuma situar proximidade no tempo e espaço.

    (Moderna Gramática Portuguesa do Bechara). A necessidade de avivar a situação dos objetos e pessoas tratados pelo falante o leva a reforçar os demonstrativos com os advérbios dêiticos aqui, aí, ali, acolá: este aqui, esse aí, aquele ali ou acolá. Eu cá tenho minhas dúvidas. Ele lá diz o que pensa

    d) determinante.

    Incorreta. Não está determinando nada, essa refência é usada para chamar os adjetivos que determinam o substantivo.

    Ex: João é magro, alto e simpático.

    GABARITO: B

  • Anafórico, pois retoma um termo anterior.

  • De forma bem resumida e complementando a explicação do colega Lucas Araújo:

    Anafórico: faz referência a um termo anterior.

    Catafórico: faz referência a um termo que ainda será explicitado.

    Dêitico: faz referência a algo fora do contexto.

    Determinante: especifica o sentido de um outro termo.

  • Este,Esta(s): informação que virá adiante no texto

    Esse,Essa(s): informação que já apareceu no texto

    aprendi aqui com os comentários de colegas no QC

  • Anaforico= Antes

  • Catafórico = Catapulta (pra frente - termo à frente)

  • GAB: A

    essas tem valor: anafórico: retoma um termo anterior.

    Esse,Essa(s): informação que já apareceu no texto.

    obs: SIGO DE VOLTA NO INSTA "carolrocha17" S2.. Tô sempre postando motivação nos storys