A arte de escrever
1. Há, portanto, uma arte de escrever, que é a produção de
um texto escrito. Não é uma prerrogativa dos literatos,
senão uma atividade social indispensável, para a qual falta,
não obstante, muitas vezes, uma preparação preliminar
adequada.
2. A arte de falar, necessária à exposição oral, é mais fácil
na medida em que se beneficia da prática da fala cotidiana,
de cujos elementos parte, em princípio. O que há de
comum, antes de tudo, entre a exposição oral e a escrita é
a necessidade de uma boa composição, isto é, uma
distribuição metódica e compreensiva de ideias.
3. Impõe-se igualmente a visualização de um objetivo
definido. Ninguém é capaz de escrever bem se não sabe
bem sobre o que vai escrever. Justamente por causa disso,
as condições para a escrita de um texto, no exercício da
vida profissional ou no intercâmbio social amplo, são muito
diversas das da redação escolar. A convicção do que
vamos dizer, a importância que há em dizê-lo, o domínio de
um assunto da nossa especialidade tiram da redação
escolar o caráter negativo de mero exercício formal.
4. Qualquer um de nós, senhor de um assunto é, em
princípio, capaz de escrever sobre ele. Não há um dom
inato, especial, para escrever, ao contrário do que muita
gente pensa. Há apenas uma falta de preparação especial,
que o esforço e a prática continuada e persistente vencem.
5. Por outro lado, a arte de escrever, na medida em que
consubstancia a nossa capacidade de expressão do pensar
e do sentir, tem de firmar raízes na nossa própria
personalidade e decorre, em grande parte, de um trabalho
nosso para desenvolver a personalidade por este ângulo.
[...]
6. A arte de escrever precisa assentar numa atividade
preliminar já radicada, que parte do ensino escolar e de um
hábito de leitura inteligentemente conduzido. Depende
muito, portanto, de nós mesmos, de uma disciplina mental
adquirida pela autocrítica e pela observação cuidadosa do
que outros, com bons resultados, escreveram.
CAMARA, J. Mattoso. Manual de expressão oral e escrita.
Petrópolis, Vozes, 1983. Adaptado.
Considerando o núcleo da temática desenvolvida no
Texto, foi decisiva para a coesão e a coerência do
texto: