A hipercapnia permissiva é uma nova estratégia de ventilação mecânica envolvendo redução do volume corrente (4-8 mL/kg) sem alteração da freqüência respiratória, levando a uma redução da hiperdistensão alveolar, diminuição da pressão nas vias aéreas e aumento da PaCO2, com conseqüente acidose respiratória, a fim de diminuir a pressão transalveolar. Vários estudos clínicos demonstraram que níveis elevados da PaCO2, são bem tolerados, além de comprovarem declínio nas taxas de mortalidade em doentes com SARA. Feihl e Perret, após detalhada revisão dos efeitos fisiológicos e fisiopatológicos da hipercapnia e do estudo e avaliação da tolerância à acidose respiratoria grave, concluíram que a hipercapnia representa uma interessante opção para doentes em ventilação mecânica, uma vez que permite adequada oxigenação e previne os efeitos adversos relacionados a excessivas pressões na via aérea (barotrauma). Entretanto, há necessidade de um ajuste intracelular aos níveis elevados da PCO2, razão pela qual a elevação do CO2 plasmático deve ocorrer de forma gradual, geralmente em 12 horas, e não superior a 10 mmHg/hora até um nível máximo de 80 ¾ 100 mmHg, mantendo oxigenação adequada com SaO2 > 90% e um Ph tolerável (7,2 ¾ 7,3).
Entretanto, existem efeitos deletérios decorrentes da hipercapnia, tais como a elevação aguda da pressão intracraniana em doentes com lesão cerebral, a ocorrência de hipertensão moderada, aumento do trabalho cardíaco e aumento da resistência vascular pulmonar. Assim, a utilização deste método está contra-indicado em doentes com traumatismo crânio-encefálico grave, alterações cérebro-vasculares, doença arterial coronariana grave e insuficiência cardíaca congestiva