SóProvas


ID
4521913
Banca
CONTEMAX
Órgão
Prefeitura de Pedra Lavrada - PB
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Cultura clonada e mestiçagem

    Levantar hoje a questão da cultura é colocar-se em uma encruzilhada para a qual convergem, embora também se oponham, o avanço da globalização e a persistência das identidades nacionais. Mas a cultura não pode mais, presentemente, construir-se sem uma tensão constitutiva, existencial e vital entre o universal, o regional, o nacional e o comunitário.

     Apesar de as culturas se manterem arraigadas em seus contextos nacionais, torna-se cada vez mais difícil acreditar que os conceitos tradicionais de identidade, povo ou nação sejam "intocáveis". De fato, jamais nossas sociedades conheceram ruptura tão generalizada com tradições centenárias. Devemos, porém, indagar se as evoluções contemporâneas, em geral apresentadas como possíveis ameaças a essas tradições, inclusive a do Estado-nação, não constituiriam terrenos férteis para a cultura, ou seja, favoráveis à coexistência das diversidades. Um duplo obstáculo seria então evitado: a coesão domesticada e a uniformização artificial.

      O primeiro obstáculo advém da fundamentação do modelo hegemônico de identificação em uma cultura única, total, dominante, integrativa. Esta era percebida como algo estático e definitivo. Era brandida como uma arma, cujos efeitos só hoje avaliamos: neste século, vimos as culturas mais sofisticadas curvarem-se à barbárie; levamos muito tempo até perceber que o racismo prospera quando faz da cultura algo absoluto. Conceber a cultura como um modo de exclusão conduz inevitavelmente à exclusão da cultura. Por isso, o tema da identidade cultural, que nos acompanha desde as primeiras globalizações, é coisa do passado.

        Mas a cultura não deve emancipar-se da identidade nacional deixando-se dominar pela globalização e pela privatização. As identidades pós-nacionais que estão surgindo ainda não demonstraram sua capacidade de resistir à desigualdade, à injustiça, à exclusão e à violência. Subordinar a cultura a critérios elaborados nos laboratórios da ideologia dominante, que fazem a apologia das especulações na bolsa, dos avatares da oferta e da demanda, das armadilhas da funcionalidade e da urgência, equivale a privá-la de seu indispensável oxigênio social, a substituir a tensão criativa pelo estresse do mercado. Neste sentido, dois grandes perigos nos ameaçam. O primeiro é a tendência atual a considerar a cultura um produto supérfluo, quando, na realidade, ela poderia representar para as sociedades da informação o que o conhecimento científico representou para as sociedades industriais. Frequentemente se esquece que reparar a fratura social exige que se pague a fatura cultural: o investimento cultural é também um investimento social.

     O segundo perigo é o "integrismo eletrônico". Das fábricas e dos supermercados culturais emana uma cultura na qual o tecnológico tem tanta primazia que se pode considerá-la desumanizada.

     Mas como "tecnologizar" a cultura reduzindo-a a um conjunto de clones culturais e pretender que ela continue a ser cultura? A cultura clonada é um produto abortado, porque, ao deixar de estabelecer vínculos, deixa de ser cultura. O vínculo é seu signo característico, sua senha de identidade. E esse vínculo é mestiçagem - portanto o oposto da clonagem. A clonagem é cópia; e a mestiçagem, ao contrário, cria um ser diferente, embora também conserve a identidade de suas origens. Em todas as partes onde se produziu, a mestiçagem manteve as filiações e forjou uma nova solidariedade que pode servir de antídoto à exclusão.

         Parafraseando Malraux, eu diria que o terceiro milênio será mestiço, ou não será.


PORTELLA, Eduardo. Texto apresentado na série Conferências do Século XXI, realizada em 1999, e publicado em O

Correio da Unesco, jun., 2000

Todas as formas verbais destacadas nas opções abaixo estão flexionadas em tempos ou modos que são empregados discursivamente quando se quer expressar dúvida, desejo ou possibilidade; a EXCEÇÃO está apontada na alternativa:

Alternativas
Comentários
  • A)“é colocar-se em uma encruzilhada para a qual convergem, (...)”

    → O verbo em destaque está conjugado na terceira pessoa do plural do presente do modo indicativo, o indicativo é o modo que indica certeza de um fato.

    GABARITO. A

  • A) convergem = presente do indicativo

    B) sejam = presente do subjuntivo

    C) construiriam = futuro do pretérito

    D) seria = futuro do pretérito

    E) poderia = futuro do pretérito

  • Fiquei em dúvida entre A e B.

    Marquei B! :(

    Errei.

  • Fiquei em dúvida entre A e B.

    Marquei B! :(

    Errei.

  • GABARITO - A

    i) O Futuro do pretérito expressa um acontecimento que poderia ter ocorrido após um fato passado.

    A terminação é ( RIA )

    Ele deseja uma que expresse possibilidade

    ii) O subjuntivo expressa uma hipótese, possibilidade ....

    ----------------------------------------------------------------------

    A) “é colocar-se em uma encruzilhada para a qual convergem, (...)” (1º parágrafo)

    Convergem - presente do indicativo

    --------------------------------------------------

    B) “(...) que os conceitos tradicionais de identidade, povo ou nação sejam "intocáveis".” (2º parágrafo)

    ( Subjuntivo )

    C) “(...) não constituiriam terrenos férteis para a cultura, (...) (2º parágrafo)

    D) “Um duplo obstáculo seria então evitado: (...)” (2º parágrafo)

    E) “(...) ela poderia representar para as sociedades da informação (...)” (4º parágrafo)

  • GABARITO: A

    O enunciado já expõe que os verbos indicam "possibilidade/dúvida", ou seja, não há certeza.

    Com essa informação, resolvi a questão pondo um "Talvez..." antes dos verbos destacados. O único que saiu do padrão dos demais foi o verbo "convergir" (Alternativa A).

  • Questão bem fácil se você souber quais tempos e modos exprimem dúvida/hipótese, que são:

    Futuro do Pretérito do modo Indicativo (terminação ria/rie)

    Verbos no modo Subjuntivo (tem sempre um conector antes do verbo: que, talvez... ; letra b - que (...) sejam...