SóProvas


ID
4873246
Banca
IDIB
Órgão
CRM-MT
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO I
Os outros que ajudam (ou não)

    Muitos anos atrás, conheci um alcoólatra, que, aos quarenta anos, quis parar de beber. O que o levou a decidir foi um acidente no qual ele, bêbado, quase provocara a morte da companheira que ele amava, por quem se sentia amado e que esperava um filho dele.
    O homem frequentou os Alcoólicos Anônimos. Deu certo, mas, depois de um tempo, houve uma recaída brutal. Desanimado, mas não menos decidido, com o consenso de seu grupo do AA o homem se internou numa clínica especializada, onde ficou quase um ano – renunciando a conviver com o filho bebê. Voltou para casa (e para as reuniões do AA), convencido de que nunca deixaria de ser um alcoólatra – apenas poderia se tornar, um dia, um "alcoólatra abstêmio".
    Mesmo assim, um dia, depois de dois anos, ele se declarou relativamente fora de perigo. Naquele dia, o homem colocou o filhinho na cama e sentou-se na mesa para festejar e jantar. E eis que a mulher dele chegou da cozinha erguendo, triunfalmente, uma garrafa de premier cru de Château Lafite: agora que estava bem, certamente ele poderia apreciar um grande vinho, para brindar, não é? O homem saiu na noite batendo a porta. A mulher que ele amava era uma idiota? Ou era (e sempre foi) não sua companheira de vida, mas de sua autodestruição? Seja como for, a mulher dessa história não é um caso isolado. Quem foi fumante e conseguiu parar quase certamente já encontrou um amigo que um dia lhe propôs um cigarro "sem drama": agora que parou, você vai poder fumar de vez em quando – só um não pode fazer mal.
    Também há os que patrocinam qualquer exceção ao regime que você tenta manter estoicamente: se for só hoje, massa não vai fazer diferença, nem uma carne vermelha. Seja qual for a razão de seu regime e a autoridade de quem o prescreveu, para parentes e próximos, parece que há um prazer em você transgredir.
    Há hábitos que encurtam a vida, comprometem as chances de se relacionar amorosa e sexualmente e, mais geralmente, levam o indivíduo a lidar com um desprezo que ele já não sabe se vem dos outros ou dele mesmo. Se você precisar se desfazer de um desses hábitos, procure encorajamento em qualquer programa que o leve a encontrar outros que vivem o mesmo drama e querem os mesmos resultados. É desses outros que você pode esperar respeito pelo seu esforço – e até elogios (quando merecidos).
    Hoje, encontrar esses outros é fácil. Há comunidades on-line de pessoas que querem se livrar do sedentarismo, da obesidade, do fumo, do alcoolismo, da toxicomania etc. Os membros registram e transmitem, todos os dias, os seus fracassos e os seus sucessos. No caso do peso, por exemplo, há uma comunidade cujos integrantes instalam em casa uma balança conectada à internet: o indivíduo se pesa, e os demais sabem imediatamente se ele progrediu ou não.
    Parêntese. A balança on-line não funciona pela vergonha que provoca em quem engorda, mas pelos elogios conquistados por quem emagrece. Podemos modificar nossos hábitos por sentirmos que nossos esforços estão sendo reconhecidos e encorajados, mas as punições não têm a mesma eficácia. Ou seja, Skinner e o comportamentalismo têm razão: uma chave da mudança de comportamento, quando ela se revela possível, está no reforço que vem dos outros ("Valeu! Força!"). Já as ideias de Pavlov são menos úteis: os reflexos condicionados existem, mas, em geral, se você estapeia alguém a cada vez que ele come, fuma ou bebe demais, ele não vai parar de comer, fumar ou beber – apenas vai passar a comer, fumar e beber com medo.
    Volto ao que me importa: por que, na hora de tentar mudar um hábito, é aconselhável procurar um grupo de companheiros de infortúnio desconhecidos? Por que os nossos próximos, na hora em que um reforço positivo seria bem-vindo, preferem nos encorajar a trair nossas próprias intenções?
    Há duas hipóteses. Uma é que eles tenham (ou tivessem) propósitos parecidos com os nossos, mas fracassados; produzindo o nosso malogro, eles encontrariam uma reconfortante explicação pelo seu. Outra, aparentemente mais nobre, diz que é porque eles nos amam e, portanto, querem ser a nossa exceção, ou seja, querem ser aqueles que nós amamos mais do que a nossa própria decisão de mudar. Como disse Voltaire, "que Deus me proteja dos meus amigos. Dos inimigos, cuido eu".

CONTARDO, Calligaris. Todos os reis estão nus. Org. Rafael Cariello. São Paulo: Três Estrelas, 2014.

Em “Também os que patrocinam qualquer exceção ao regime que você tenta manter estoicamente...”, o verbo em destaque foi empregado corretamente, obedecendo às regras de concordância verbal. Assinale a alternativa em que a obediência a essas regras não foi observada

Alternativas
Comentários
  • A temática presente na questão refere-se ao verbo "haver" cuja ocorrência em prova é bastante larga. Além disso, tal verbo apresenta uma miríade de acepções e aplicações. É muito comum que apareça, sobretudo, no sentido impessoal, ou seja, quando não apresenta sujeito. Nesse caso particular, há que se ter atenção: poderá ter sentido de existência, equivalendo ao verbo "existir", ou de tempo passado, cuja substituição é possível pelo verbo "fazer".

    Dispensando mais pormenorizações, inspecionemos os itens:

    a) Havia muitas pessoas que gostariam de provar novos sabores.

    Correto. Constata-se o sentido de existência, logo o verbo "haver" não varia;

    b) Revisei o artigo que me foi entregue havia duas semanas.

    Correto. Constata-se o sentido de tempo transcorrido, logo o verbo "haver" não varia;

    c) Devem haver muitos amigos que colaboram com o nosso fracasso.

    Incorreto. Note que o verbo "haver" é impessoal porque tem o sentido de "existir" e sua impessoalidade emana-se para o verbo auxiliar. Dessa forma, este também não sofrerá variação. Correção: "Deve haver muitos amigos (...)";

    d) Hipóteses haverão de existir sobre as causas desses insucessos.

    Correto. Ao contrário do caso recém-visto, o verbo "haver" ocupa posição secundária, de verbo auxiliar. Nesses casos, ele sofrerá normalmente a variação, tendo em vista que o verbo "existir" é pessoal, ou seja, apresenta sujeito (hipóteses) e com este concorda o verbo "haver".

    Letra C

  • Assertiva C

    Devem haver muitos amigos que colaboram com o nosso fracasso.

  • GABARITO -C

    Se o verbo PRINCIPAL é impessoal o AUXILIAR é impessoal por tabela.

    DEVE haver...

    Bons estudos!

  • GAB.: C

    Complementado:

    O verbo "haver" é pessoal noutros casos, por exemplo:

    > Os malcriados se haverão comigo (prestar contas)

  • Dúvida, na alternativa D o verbo haver sai do singular por não ter o sentido de "existir", mas sim o sentido de "dever"?

  • Gab C

    Os conceitos da galera estão certos, porém enormes vai de cada um.

    Verbo HAVER impessoal transforma o verbo anterior impessoal também, então não irá variar.

    Ex: Deviam haver meninos. (ERRADO)

    Ex: Deve haver meninos. (CERTO)

    Caso algum erro neste meu comentário notifiquem-me.

  • Gabarito C, a frase correta é "Deve haver muitos amigos...." Pronto! Próxima questão....

  • Só pra lembrar que na alternativa B, o verbo haver no sentido de tempo decorrido é invariável somente na pessoa, mas é variável no tempo verbal, por isso "... me foi entregue havia duas semanas...." está correta.

  • GABARITO: LETRA C

    O verbo “haver” nos sentidos de “existir”, “acontecer”, “ocorrer” é um verbo impessoal, ou seja, não possui sujeito, e é empregado na terceira pessoa do singular, independente do tempo verbal.

  • Haver no sentido de existir não varia, no entanto a palavra existir varia. Nesse caso o verbo auxiliar acompanha o principal, então se acompanha o "haver" não varia, mas isso não serve quanto ao "existir".

    Ao menos foi assim que aprendi!

    Força guerreiros(as)!

  • GAB. C

    Sobre a D

    Hipóteses haverão de existir sobre as causas desses insucessos.

    O verbo "haver" ocupa posição de verbo auxiliar. Sendo assim, sofrerá normalmente a variação, tendo em vista que o verbo "existir" é pessoal, ou seja, apresenta sujeito (hipóteses) e com este concorda o verbo "haver".

  • O verbo HAVER no sentido de TER, OBTER, COMPORTAR-SE e CONSIDERAR poderá ser FLEXIONADO de acordo com o sujeito, pois são verbos pessoais.

  • 1 verbo HAVER ----> SENTIDO ----> REALIZAR, ACONTECER:--------> IMPESSOAL SINGULAR É INVARIÁVEL

    2verbo HAVER ----> SENTIDO ----> ANOS ------> TEMPO DECORRIDO---------> É INVARIÁVEL

    3verbo FAZER ----> SENTIDO ---->TEMPO DECORRIDO-----> É INVARIÁVEL

    4verbo IR ----> SENTIDO ---->TEMPO DECORRIDO --------> É INVARIÁVEL

    #ESTUDA GUERREIRO

    FÉ NO PAI QUE SUA APROVAÇÃO SAI !

  • A) Havia muitas pessoas que gostariam de provar novos sabores.

    CORRETO: VERBO HAVER NO SENTIDO DE FAZER ACONTECER É REALIZAR É IMPESSOAL : SINGULAR

    B)Revisei o artigo que me foi entregue havia duas semanas.

    CORRETO: VERBO HAVER NO SENTIDO DE TEMPO TRANSCORRIDO É IMPESSOAL : SINGULAR

    C)Devem haver muitos amigos que colaboram com o nosso fracasso.

    ERRADO

    CORRETO SERIA :Deve haver muitos amigos que colaboram com o nosso fracasso.

    COMO O VERBO HAVER ESTA NO SINGULAR OBRIGATORIAMENTE SEU VERBO TAMBÉM DEVE ESTA

    D)Hipóteses haverão de existir sobre as causas desses insucessos.

    CORRETO: VERBO EXISTIR É PERMITIDO SINGULAR /PLURAL

    #ESTUDA GUERREIRO

    FÉ NO PAI QUE SUA APROVAÇÃO SAI !

  • a BANCA idib CONSIDEROU LETRA B COMO CORRETA, MAS A CORRETA PARA A QUEsTAÕ (QUE PEDE A INCORRETA) É a C. não entendi porque a banca considerou B como gabarito da questão.

  • O VERBO HAVER QUANDO FUNCIONA COMO PRINCIPAL EM LOCUÇÃO VERBAL, O VERBO AUXILIAR, OBRIGATORIAMENTE, DEVE FICAR NO SINGULAR.

    DEVE HAVER

  • Referente à afirmativa E:

    Hipóteses haverão de existir sobre as causas desses insucesso

    locução verbal: Um verbo auxiliar e + um verbo no infinitivo chamado de principal (final ar, er, ri or)

    _______________x_______________

    O verbo principal não faz NADA!! ele somente da ordem ao auxiliar. O auxiliar é o que vai flexionar.

    Mesmo que esse verbo seja o ''haver''. Pois aqui ele não é principal, aqui ele é auxiliar.

  • Gabarito: C

    Numa locução verbal, o determinante é sempre o verbo principal (o último). O verbo auxiliar limita-se a seguir as "vontades" do principal.

    a) Verbo haver + verbo auxiliar = a impessoalidade do haver é emanada para o auxiliar

    > Deve haver muitas pessoas contaminadas. (CERTO)

    > Devem haver muitas pessoas contaminadas. (ERRADO)

    Como o verbo principal é haver no sentido de existir, ele será impessoal. Seu auxiliar também assume a impessoalidade do verbo principal, já que este é a a determinante da locução.

    b) Verbo principal + verbo haver como auxiliar

    > Hão de existir soluções melhores. (CERTO)

    > Hipóteses haverão de existir sobre as causas desses insucessos. (CERTO)

    Como o verbo principal é “existir”, que nunca será impessoal, o seu auxiliar também deverá se comportar como o principal. 

  • Deve haver muitos amigos que colaboram com o nosso fracasso.

  • O verbo "HAVER" no sentido de EXISTIR, OCORRER, ACONTECER e TEMPO DECORRIDO, ficará no singular e significa oração com sujeito inexistente e contamina os demais na locução verbal.

    O verbo auxiliar deve concordar com o sujeito. Neste caso, por não haver sujeito, o verbo auxiliar não precisa "trabalhar" = ficará no singular da mesma forma que o verbo principal.

  • 1 verbo HAVER ----> SENTIDO ----> REALIZAR, ACONTECER:--------> IMPESSOAL SINGULAR É INVARIÁVEL

    2verbo HAVER ----> SENTIDO ----> ANOS ------> TEMPO DECORRIDO---------> É INVARIÁVEL

    3verbo FAZER ----> SENTIDO ---->TEMPO DECORRIDO-----> É INVARIÁVEL

    4verbo IR ----> SENTIDO ---->TEMPO DECORRIDO --------> É INVARIÁVEL

    #ESTUDA GUERREIRO

    Sigam: @direitocomcarijessi

  • Quando o verbo HAVER for o principal da locução verbal. O auxiliar sempre estará no singular.

    Exemplo letra C

    "Deve haver muitos amigos que colaboram com o nosso fracasso"

  • Se o verbo impessoal for o principal da locução verbal, ela toda ficará invariável.

  • Verbo HAVER como PRINCIPAL, o seu AUXILIAR NÃO FLEXIONA.

  • Locução verbal: Quando dois ou mais verbos exercem função de um único verbo.

    Tem um verbo principal e um ou mais verbos auxiliares.(Normalmente o auxiliar vem antes do principal)

    Ex: Bolsonaro já tinha comprado dois parlamentares. tinha (Verbo auxiliar) + Comprado (Verbo principal)

    Se o verbo for impessoal, ele é invariável, sempre na 3ª pessoa do singular.

    Se o verbo for pessoal, ele pode ser plural ou singular, a depender da quantidade de sujeitos.

    A regra é a seguinte: Quem manda é o verbo principal

    Se o verbo principal for impessoal, os verbos auxiliares se tornam impessoais.

    Se o verbo principal for pessoal, os verbos auxiliares se tornam pessoais.

    Indo para a questão:

    Verbo "haver" equivalente a "existir" é um verbo impessoal, portanto, se ele for o verbo principal, seus auxiliares se tornam impessoais.

    Item C é o único errado.

    Devem Haver muitos amigos que... Verbo principal (Haver) é impessoal, então o auxiliar (Dever) deve se tornar impessoal, invariável, ficando assim:

    Deve haver muitos amigos que...

    Próxima

  • DEVE HAVER!

  • O verbo haver, no sentindo de existir, ele é impessoal, fica na terceira pessoa do singular e não tem sujeito.

  • Tendo em vista que o verbo Haver, no sentindo de existir é impessoal, fica na terceira pessoa do singular e não tem sujeito, ele “contamina” o verbo auxiliar que o antecede para ficar também no singular, na locução verbal.