SóProvas


ID
4893907
Banca
FUMARC
Órgão
Câmara de Santa Luzia - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Quantos amigos seus estão na cracolândia?
                       
                                               Antônio Prata

    Carl Hart é psicólogo, psiquiatra e foi o primeiro negro a alcançar o posto de professor titular de neurociências na Universidade de Columbia, em Nova York. Em 2015, Hart veio ao Brasil divulgar seus estudos sobre drogas e vício. Numa entrevista ao Drauzio Varella, falou sobre sua pesquisa com ratos e macacos, em laboratório. Quando se coloca um animal sozinho numa jaula, capaz de acionar uma alavanca e receber uma dose de cocaína ou meta-anfetamina na veia, o bicho acionará a alavanca até morrer. Quando, porém, há mais estímulos na jaula, além da alavanca, como um outro animal sexualmente ativo, uma rodinha (no caso dos ratos) ou doces, as cobaias sobrevivem.
    Extrapolando seus insights para humanos, o que Hart prega é que não adianta combater o vício sem apresentar alternativas à droga. A cracolândia, ele insistiu em entrevistas e palestras, por aqui, não pode ser pensada pela perspectiva do vício sem ser pensada antes pela perspectiva da miséria.
    Imagine que você é um mendigo viciado em crack. Seus pertences são uma calça esfarrapada, uma camiseta imunda, um par de Havaianas, um isqueiro. Você se lembra vagamente de ter tido metade de um pente, num passado não muito distante, mas não sabe onde foi parar. Sua existência se resume a pedir dinheiro no farol e a fumar crack. Nos minutos que duram a viagem, você se esquece de tudo. O resto do tempo é o inferno.
    Um belo dia você decide parar com o crack. Você luta, faz um esforço sobre-humano e depois de meses está curado. Você deita sob uma marquise na rua Helvétia, apoia a cabeça num paralelepípedo, dá um gole numa poça d'água e pensa: agora eu sou um mendigo saudável! Pensa no futuro. Posso arrumar um trapo para limpar os vidros dos carros, no farol. Quem sabe, vender Suflair? Se me esforçar bastante, consigo um carrinho e um cachorro, virarei catador. Talvez você seja uma pessoa mais solar do que eu, mas devo admitir que, se estivesse naquela situação, escolheria o crack. Ficaria na minha jaula acionando a alavanca até morrer. 
    É verdade que muitas das pessoas que estão na cracolândia chegaram à mendicância por causa da droga, mas não vieram de muito longe. A maioria, segundo censo da prefeitura, não completou o ensino fundamental. São pobres, negros e pardos. Quando aparece alguém de fora desse estrato é um espanto, como foi a suspeita de que o irmão da Suzane Richthofen era viciado. Claro que parte da comoção com a notícia tem a ver com a tragédia daquele garoto. Mas uma parte do susto é: meu Deus, um loiro na cracolândia! Um descendente de alemães! Que estudou em escola particular!
    Quantas pessoas do seu círculo consomem álcool regularmente? E maconha? Aposto que você conhece pessoas profissionalmente ativas e bem-sucedidas que consomem cocaína. E crack? Quantos viciados em crack há na sua família, na sua turma de escola, dormindo no chão, na praça Princesa Isabel? Princesa Isabel, veja só. 
    Em 2015, Carl Hart, negro, com dreads, foi barrado na entrada de um hotel, em São Paulo. Questionado a respeito, disse não entender por que as pessoas estavam tão chocadas por ele ter sido barrado no hotel, mas não se chocavam com o fato de não haver um só negro no público de suas palestras.
    Infelizmente, entre nós, o choque mais comum diante da desigualdade é a tropa.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2017/06/1890076-quantos-amigosseus-estao-na-cracolandia.shtml Acesso em: 30 set. 2017.    
    
    

O propósito do texto é

Alternativas
Comentários
  • (E ) A chamar a atenção da sociedade para o problema do crack.não é o foco principal

    (E ) B chamar a atenção para o preconceito racial existente em nossa sociedade.mostra sem ser o foco principal.

    (C ) C demonstrar que não adianta combater o vício sem apresentar alternativas à droga.

    (E ) D demonstrar que o crack não é usado em classes sociais mais altas.Ao contrário mostra sim situações em que os mais afortunados usam sim.

  • Letra C - demonstrar que não adianta combater o vício sem apresentar alternativas à droga.

    Extrapolando seus insights para humanos, o que Hart prega é que não adianta combater o vício sem apresentar alternativas à droga. A cracolândia, ele insistiu em entrevistas e palestras, por aqui, não pode ser pensada pela perspectiva do vício sem ser pensada antes pela perspectiva da miséria.

  • Entendo totalmente ao contrário ao gabarito. Usou do assunto "cracolândia" para levantar questões raciais.

    Observe:

    Introduz o texto dizendo: "Carl Hart é psicólogo, psiquiatra e foi o primeiro negro..."

    Conclui o texto dizendo: "Em 2015, Carl Hart, negro, com dreads, foi barrado na entrada de um hotel, em São Paulo."

    Durante o desenvolvimento do texto:

    "É verdade que muitas das pessoas que estão na cracolândia [...]  São pobres, negros e pardos. "

    "Quando aparece alguém de fora desse estrato é um espanto"

  • Falou muito mais de questão racial do que de alternativa para a droga!

  • Que a letra C tá no texto todo mundo já sabe, bastava ler. Porém, dizer que chamar a atenção da sociedade para o problema do crack, sendo que a palavra "crack" e "cracolandia" foram usadas 11 vezes no texto, está errado, voce só pode ta de brincadeira comigo examinador...