Atenção: A questão de refere-se ao texto
seguinte.
Nosso jeitinho
Um amigo meu, estrangeiro, já há uns seis anos morando no Brasil, lembrava-me outro dia qual fora sua principal dificuldade − entre várias − de se adaptar aos nossos costumes.
“Certamente foi lidar com o tal do jeitinho”, explicou. “Custei a
entender que aqui no Brasil nada está perdido, nenhum impasse é definitivo: sempre haverá como se dar um jeitinho em
tudo, desde fazer o motor do carro velho funcionar com um pedaço de arame até conseguir que o primo do amigo do chefe da
seção regional da Secretaria de Alimentos convença este último
a influenciar o Diretor no despacho de um processo”.
Meu amigo estrangeiro estava, como se vê, reconhecendo a nossa “informalidade” − que é o nome chique do tal do jeitinho. O sistema – também batizado pelos sociólogos como o do
“favor” − não deixa de ser simpático, embora esteja longe de ser
justo. Os beneficiados nunca reclamam, e os que jamais foram
morrem de inveja e mantêm esperanças. Até o poeta
Drummond tratou da questão no poema “Explicação”, em que
diz a certa altura: “E no fim dá certo”. Essa conclusão aponta
para uma espécie de providencialismo místico, contrapartida divina do jeitinho: tudo se há de arranjar, porque Deus é brasileiro. Entre a piada e a seriedade, muita gente segue contando
com nosso modo tão jeitoso de viver.
É possível que os tempos modernos tenham começado
a desfavorecer a solução do jeitinho: a informatização de tudo, a
rapidez da mídia, a divulgação instantânea nas redes sociais,
tudo se encaminha para alguma transparência, que é a inimiga
mortal da informalidade. Tudo se documenta, se registra, se formaliza de algum modo − e o jeitinho passa a ser facilmente desmascarado, comprometido o seu anonimato e perdendo força
aquela simpática clandestinidade que sempre o protegeu. Mas
há ainda muita gente que acha que nós, os brasileiros, com
nossa indiscutível criatividade, daremos um jeito de contornar
esse problema. Meu amigo estrangeiro, por exemplo, não perdeu a esperança.
(Abelardo Trabulsi, inédito)
O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se de modo a concordar com o termo sublinhado na frase: