SóProvas


ID
4923880
Banca
IF Sul Rio-Grandense
Órgão
IF Sul Rio-Grandense
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto a seguir, para responder às questão.


O direito à tristeza


Contardo Calligaris


    As crianças têm dois deveres. Um, salutar, é o dever de crescer e parar de ser crianças. O outro, mais complicado, é o de ser felizes, ou melhor, de encenar a felicidade para os adultos. Esses dois deveres são um pouco contraditórios, pois, crescendo e saindo da infância, a gente descobre, por exemplo, que os picolés não são de graça. Portanto, torna-se mais difícil saltitar sorrindo pelos parques à espera de que a máquina fotográfica do papai imortalize o momento. Em suma, se obedeço ao dever de crescer, desobedeço ao dever de ser feliz. A descoberta dessa contradição pode levar uma criança a desistir de crescer. E pode fazer a tristeza (às vezes o desespero) de outra criança, incomodada pela tarefa de ser, para a família inteira, a representante da felicidade que os adultos perderam (por serem adultos, porque a vida é dura, porque doem as costas, porque o casamento é tenso, porque não sabemos direito o que desejamos).

    A ideia da infância como um tempo específico, bem distinto da vida adulta, sem as atrapalhações dos desejos sexuais, sem os apertos da necessidade de ganhar a vida, é recente. Tem pouco mais de 200 anos. Idealizar a infância como tempo feliz é uma peça central do sentimento e da ideologia da modernidade. É crucial lembrar-se disso na hora em que somos convidados a espreitar índices e sinais de depressão nas nossas crianças.

    O convite é irresistível, pois a criança deprimida contraria nossa vontade de vê-la feliz. Um menino ou uma menina tristes nos privam de um espetáculo ao qual achamos que temos direito: o espetáculo da felicidade à qual aspiramos, da qual somos frustrados e que sobra para as crianças como uma tarefa. “Meu filho, minha filha, seja feliz por mim.” É só escutar os adultos falando de suas crianças tristes para constatar que a vida da criança é sistematicamente desconhecida por aqueles que parecem se preocupar com a felicidade do rebento. “Como pode, com tudo que fazemos e fizemos por ela?” ou “Como pode, ele que não tem preocupação nenhuma, ele que é criança?”. A criança triste é uma espécie de desertor: abandonou seu lugar na peça da vida dos adultos, tirou sua fantasia de palhaço.

    Conselho aos adultos (pais, terapeutas etc.): quando uma criança parece estar deprimida, o mais urgente não é reconhecer os “sinais” de uma doença e inventar jeitos de lhe devolver uma caricatura de sorriso. O mais urgente, para seu bem, é reconhecer que uma criança tem o DIREITO de estar triste, porque ela não é apenas um boneco cuja euforia deve nos consolar das perdas e danos de nossa existência; ela tem vida própria. 

    Mais uma observação para evitar a precipitação. Aparentemente, nas últimas décadas, a depressão se tornou uma doença muito comum. Será que somos mais tristes que nossos pais e antepassados próximos? Acredito que não. As más línguas dizem que a depressão foi promovida como doença pelas indústrias farmacêuticas, quando encontraram um remédio que podiam comercializar para “curá-la”. Mas isso seria o de menos. É mais importante notar que a depressão se tornou uma doença tão relevante (pelo número de doentes e pela gravidade do sofrimento), porque ela é um pecado contra o espírito do tempo. Quem se deprime não pega peixes e ainda menos sobe no bonde andando.

    Será que vamos conseguir transformar também a tristeza infantil num pecado? Claro que sim. Aliás, amanhã, quando seu filho voltar da escola, além de verificar se ele não está com frieiras, veja também se ele não pegou uma deprê. E, se for o caso, dê um castigo, pois, afinal, como é que ele ousa fazer cara feia quando acabamos de lhe comprar um gameboy? Ora! E, se o castigo não bastar, pílulas e terapia nele. Qualquer coisa para evitar de admitir que a infância não é nenhum paraíso.

Disponível em: <https://laboratoriodesensibilidades.wordpress.com/2012/08/08/o-direito-a-tristeza-contardo-calligari-2/> Acesso em: 20 nov. 2018.



Com base nas convenções relativas a regência e crase, leia as afirmações a seguir, marcando (V), para as verdadeiras, e (F), para as falsas.

( ) No 1° parágrafo, em “...se obedeço ao dever de crescer, desobedeço ao dever de ser feliz.”, é obrigatório o emprego da preposição “a” após os verbos “obedecer” e “desobedecer”, ainda que seu uso não seja observado em situações comunicativas informais.
( ) No 1° parágrafo, em “... pode levar uma criança a desistir de crescer.”, se substituíssemos a palavra em destaque por “desistência”, o “a” permaneceria sem crase, por essa palavra originar-se de um verbo.
( ) No 3° parágrafo, em “...o espetáculo da felicidade à qual aspiramos...”, o uso do acento indicador de crase diante do pronome relativo é facultativo, pois, nesse contexto, o verbo “aspirar” pode apresentar-se transitivo direto ou indireto.
( ) No 5° parágrafo, em “... a depressão foi promovida como doença...”, caso o termo “como” fosse substituído por “a”, o emprego do acento indicador de crase não seria necessário.

A sequência correta, de cima para baixo, é

Alternativas
Comentários
  • Por que a última alternativa é V? promovida A alguma coisa... não?

  • Errei porque marquei "D" se "como" q é preposição fosse substituído pela preposição "a" entendo que doença é subst. Feminino sing. E haveria crase. Ledo engano meu pelo visto.

  • Não consegui entender esse gabarito, como assim não vai crase no último item ?

  • No último item não leva crase porque a questão fala em substituir o termo "como" (preposição) pela preposição "a". Na sentença não existe um artigo "a" após o "como" que justifique a ocorrência da crase, nesse caso, temos apenas a substituição de uma prep "como" por outra, "a".

  • Minha dúvida também foi na última afirmativa. Vamos pedir comentários do professor!

  • Verbo promover é verbo direto e bitransitivo

    Ex: Subir de posição; ocupar um cargo mais elevado: promoveram-na a gerente

  • (V) No 1° parágrafo, em “...se obedeço ao dever de crescer, desobedeço ao dever de ser feliz.”, é obrigatório o emprego da preposição “a” após os verbos “obedecer” e “desobedecer”, ainda que seu uso não seja observado em situações comunicativas informais.

    Ambos os verbos, "obedecer" e "desobedecer" são, segundo a norma culta, transitivos indiretos, sendo necessário o emprego da preposição quando em contextos formais.

    (F) No 1° parágrafo, em “... pode levar uma criança a desistir de crescer.”, se substituíssemos a palavra em destaque por “desistência”, o “a” permaneceria sem crase, por essa palavra originar-se de um verbo.

    Não se faz necessário analisarmos a ocorrência ou não da crase na construção em questão. A afirmação de que a não ocorrência de crase dever-se-ia ao fato de o termo "desistência" originar-se de verbo já torna a assertiva desprovida de correção.

    (F) No 3° parágrafo, em “...o espetáculo da felicidade à qual aspiramos...”, o uso do acento indicador de crase diante do pronome relativo é facultativo, pois, nesse contexto, o verbo “aspirar” pode apresentar-se transitivo direto ou indireto.

    O verbo "aspirar" adota sentidos diferentes quando em transitividades diferentes. No contexto apresentado, a transitividade indireta é imutável.

    (V) No 5° parágrafo, em “... a depressão foi promovida como doença...”, caso o termo “como” fosse substituído por “a”, o emprego do acento indicador de crase não seria necessário.

    O emprego de crase diante da substituição não é necessário, vez que o termo "doença" está empregado em sentido genérico, não antecedido de artigo.

    "Foi promovido ao cargo superior" - O substantivo está definido, é especifico.

    "Foi promovido a cargo superior" - O substantivo é genérico, não se especifica.

    Gabarito, correto, na alternativa A

  • A questão exige o conhecimento dos assuntos crase e regência. Vejamos o conceito:

    "Emprega-se o acento grave nos casos de crase e aqueles indicados em emprego do à acentuado.

    1.º) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo o ou pronome demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as).

    2.º) Na contração da preposição a com o a inicial dos demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas, e aquilo ou ainda da mesma preposição com compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo, àqueloutro(s), àqueloutras(s).

    3.º) Na contração da preposição a com os pronomes relativos a qual, as quais: à qual, às quais."

    Analisaremos agora cada item. Vejamos

    () No 1° parágrafo, em “...se obedeço ao dever de crescer, desobedeço ao dever de ser feliz.”, é obrigatório o emprego da preposição “a” após os verbos “obedecer” e “desobedecer”, ainda que seu uso não seja observado em situações comunicativas informais.

    Verdadeiro. O verbo "obedecer" com sentido de cumprir ou executar é transitivo indireto e rege a preposição A e o mesmo vale para o verbo "desobedecer" em sentido de não cumprir ou não executar.

    (F ) No 1° parágrafo, em “... pode levar uma criança a desistir de crescer.”, se substituíssemos a palavra em destaque por “desistência”, o “a” permaneceria sem crase, por essa palavra originar-se de um verbo.

    Falso. O verbo "levar" rege dois complementos, um direto e um indireto. O segundo objeto é regido pela preposição A. Ao trocar o verbo desistir pelo substantivo desistência, a crase seria imediatamente usada, ocorreria a contração da preposição A + A artigo = À.

    ...pode levar uma criança à desistência...

    (F ) No 3° parágrafo, em “...o espetáculo da felicidade à qual aspiramos...”, o uso do acento indicador de crase diante do pronome relativo é facultativo, pois, nesse contexto, o verbo “aspirar” pode apresentar-se transitivo direto ou indireto.

    Falso. O evento da crase acima ocorre pela união da preposição A exigida pelo verbo aspirar, que em sentido de desejar é transitivo indireto, e artigo A.

    (A + A= À).

    Não há o que se falar em emprego facultativo e sim obrigatório já que a preposição é exigida e o artigo está inserido.

    (V ) No 5° parágrafo, em “... a depressão foi promovida como doença...”, caso o termo “como” fosse substituído por “a”, o emprego do acento indicador de crase não seria necessário.

    Verdadeiro. Na redação original não há artigo definido antes da palavra doença, ao trocar o "como" pela preposição "a", não força a aparição do artigo...

    A depressão foi promovida como doença/ A depressão foi promovida a doença (não existe artigo). O artigo é posto para particularizar um substantivo, quando isso não ocorre é dispensável o seu uso.

    Referências bibliográficas:

    LUFT, Celso Pedro, 1921-1995. Dicionário prático de regência verbal / Celso Pedro Luft. - 8.ed., 12.impr. - São Paulo : Ática, 2008.

    BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 39 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

    GABARITO: A

  • A opção 4 é falsa. Óbvio que tem que ter crase. Se fosse uma palavra masculina, só colocaria "foi promovida o..."

  • Questão com gabarito errado

    O ultimo item é FALSO.

    Portanto, GABARITO D

    Solicitem ao QC a correção desta questão

  • #Oda 88

    Não vai crase no último item:

    Ex: se trocar a frase "Ela foi promovida a diretora"

    PARA: Ele foi promovido a diretor"

    ***Nota-se que na troca por um substantivo masculino não ocorre o"AO" , desta forma, fica bem mais simples compreender que não é caso de crase.

  • Na última alternativa, não há artigo antes do vocábulo doença, por isso não há crase, visto que só foi empregado a preposição A no lugar da preposição acidental como.

  • O último item realmente está correto, basta substituir por palavra no masculino:

    "A depressão foi promovida a sintoma"

    Não tem artigo, não tem crase