Leia os trechos a seguir, extraídos de A hora da estrela, de Clarice Lispector, e responda à questão
(Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso
mesmo: não tinha. Se der para me entenderem, está bem. Se não, também está bem. Mas por que trato
dessa moça quando o que mais desejo é trigo puramente maduro e ouro no estio?)
[...]
(Ela me incomoda tanto que fiquei oco. Estou oco desta moça. E ela tanto mais me incomoda quanto menos
reclama. Estou com raiva. Uma cólera de derrubar copos e pratos e quebrar vidraças. Como me vingar? Ou
melhor, como me compensar? Já sei: amando meu cão que tem mais comida do que a moça. Por que ela
não reage? Cadê um pouco de fibra? Não, ela é doce e obediente.)
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 10. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 32-33.
Com base nos trechos e na leitura do romance, considere as afirmativas a seguir.
I. O uso da primeira pessoa explica-se por se tratar de uma fala do narrador-personagem dirigida à outra
personagem da história.
II. A referência à intransitividade deliberada do verbo “ter” no trecho corresponde tanto a um uso peculiar da
linguagem em outras passagens do livro quanto à insignificância da protagonista.
III. O fato de haver referência à personagem como “a moça” deve-se ao recurso de retardar o momento de
informar seu nome, o que ocorre apenas quando ela encontra Olímpico.
IV. O “trigo puramente maduro” constitui uma imagem de esplendor que se caracteriza como o contrário do
perfil da personagem da moça.
Assinale a alternativa correta.