SóProvas


ID
4989028
Banca
FCC
Órgão
Câmara dos Deputados
Ano
2007
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

    Nas formas de vida coletiva podem assinalar-se dois princípios que se combatem de morte e regulam diversamente as atividades dos homens. Esses dois princípios encarnam-se nos tipos do aventureiro e do trabalhador. Já nas sociedades rudimentares manifestam-se eles, segundo sua predominância, na distinção fundamental entre os povos caçadores ou coletores e os povos lavradores. Para uns, o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assume relevância tão capital, que chega a dispensar, por secundários, quase supérfluos, todos os processos intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore.

    Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mundo tudo se apresenta a ele em generosa amplitude e onde quer que se erija um obstáculo a seus propósitos ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo em trampolim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos horizontes distantes.

    O trabalhador, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o triunfo a alcançar. O esforço lento, pouco compensador e persistente que, no entanto, mede todas as possibilidades de esperdício e sabe tirar o máximo proveito do insignificante, tem sentido bem nítido para ele. Seu campo visual é naturalmente restrito. A parte maior que o todo.

     Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro − audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem −, tudo, enfim, quanto se relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo.

    Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam estabilidade, paz, segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador.

    Entre esses dois tipos não há, em verdade, tanto uma oposição absoluta como uma incompreensão radical. Ambos participam, em maior ou menor grau, de múltiplas combinações e é claro que, em estado puro, nem o aventureiro, nem o trabalhador, possuem existência real fora do mundo das idéias. Mas também não há dúvida que os dois conceitos nos ajudam a situar e a melhor ordenar nosso conhecimento dos homens e dos conjuntos sociais. E é precisamente nessa extensão superindividual que eles assumem importância inestimável para o estudo da formação e evolução das sociedades.

Na obra da conquista e da colonização dos novos mundos coube ao espírito do trabalho, no sentido aqui compreendido, papel muito limitado, quase nulo. A época predispunha aos gestos e façanhas audaciosos, galardoando bem os homens de grandes vôos. E não foi fortuita a circunstância de se terem encontrado neste continente, empenhadas nessa obra, principalmente as nações onde o tipo do trabalhador, tal como acaba de ser discriminado, encontrou ambiente menos propício.

(Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1948, p. 36-39)

Para uns, o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assume relevância tão capital ... (1° parágrafo)


O verbo está flexionado no singular porque

Alternativas
Comentários
  • GABARITO OFICIAL - D

    Consultando a obra de F. Pestana (2020)

    Há possibilidade de dupla concordância quando temos termos sinônimos ou de sentido equivalente.

    Amor e felicidade cercava o casamento.

    Amor e felicidade cercavam o casamento.

    o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assume relevância tão capital 

    o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assumem relevância tão capital 

    ----------------------------------------------------------------

    Outras possibilidade de dupla concordância :

    Núcleos de maneira gradativa ou em gradação:

    A falta de companhia , a solidão , a angústia levou-o ao desespero

    A falta de companhia , a solidão , a angústia levaram-no ao desespero. ( 348)

    Bons estudos!

  • Pode haver concordância dupla quando os termos são sinônimos ou equivalentes, como ocorre na frase: "o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada"

    Gabarito D

  • Questão "zinha" marota ... Esse é um conteúdo que a gente estuda , mas não vê muito por aí. Ao menos na minha percepção.. muito boa !

  • Em Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, de Domingos P. Cegalla, p.454, consta a seguinte lição: o verbo concorda no SINGULAR (destaque meu) quando os núcleos do sujeito designam a mesma pessoa ou o mesmo ser:

    "Aleluia! O brasileiro comum, o homem do povo, o joão-ninguém agora é cédula de Cr$ 500,00!" (Carlos Drummond de Andrade)

    Dessa forma, o verbo dessa questão fica no singular por se referir à mesma ideia e haver uma série de expressões equivalentes.

    Letra D

  • Aposto resumitivo? O verbo concorda com o termo resumitivo.

  • Palavras sequenciadas em que elas são sinônimas, a concordância pode ser singular ou plural.

  • "o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada", todos são termos sinônimos nesse contexto. Por isso, o verbo pode ser empregado no singular.

  • Via de regra, quando o sujeito é composto e está anteposto, o verbo fica no singular.

    Ex.: O homem e a mulher constroem a vida juntos. --> (Verbo, obrigatoriamente, no singular)

    Contudo, a norma oculta admite que quando houver sujeito composto cujos núcleos são sinônimos, a concordância é facultativa.

    Ex.: O medo e a angústia assustam o homem. --> (Admitido verbo no singular ou plural)

    O medo e a angústia assusta o homem.

  • Pensei da D, depois troquei pela E... ERRO POR FALTA DE RACIOCÍNIO.....

    Alguém pode comentar o erro da letra E?