SóProvas


ID
5036284
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
CODEVASF
Ano
2021
Provas
Disciplina
Psicologia
Assuntos

Caso clínico 13A1-I

         Denis, de 15 anos de idade, estudante, foi encaminhado pela escola para avaliação psicológica. De acordo com os pais dele, Denis sempre foi um menino muito agitado e “esquisito”, mas que "fazia o que precisava fazer" e parecia conseguir lidar bem com isso. No atendimento psicológico, a mãe iniciou com o seguinte relato: “Doutor, as coisas foram só piorando. Primeiro, ele nunca gostou de dormir. Mexia e remexia a noite toda desde pequeno. Sempre muito agressivo e impaciente. A gente percebia que ele era mais agitado que o normal, pois temos outra filha e ela era completamente diferente dele quando tinha a mesma idade. O medo, Denis só apresentou depois; na verdade, o pavor veio depois que a irmã se trancou, sem querer, no quarto. Denis ficou incontrolável. Chorava e se batia, dizendo que nunca mais veria a irmã. Nessa época, ele tinha 4 anos. Depois dessa situação, ficou com muito medo de tudo. Certa vez, ele disse que não entraria no carro, pois tinha medo de que colidisse contra um ônibus. Mas cada dia era uma coisa diferente. Procuramos ajuda na época, e ele foi acompanhado por psiquiatra e psicólogo. Depois de 1 ano, recebeu alta. Mas ele sempre foi um menino diferente. Na escola, as coisas pioraram de um ano pra cá: o rendimento dele caiu, ele não consegue acompanhar as aulas e não faz tarefas. Esse ano mesmo, já é repetente... é a terceira vez que faz. Nunca teve amigos. Seu círculo social é pobre e não se sustenta. É imaturo demais. Chama de amigo o garoto que conheceu há dois dias na Internet. Passa muito tempo trancado no quarto, envolvido com jogos e redes sociais. Está mais calado e na dele. Já peguei Denis falando sozinho algumas vezes. Tem uns comportamentos estranhos: há 3 meses, aproximadamente, estávamos todos dormindo em casa. Era tarde da noite. Nossa filha sentiu o cheiro de velas e correu pro quarto dele. A única coisa que ele dizia era: 'Frente à treva, só a luz... Eu sou a luz do mundo!’, enquanto segurava velas — e tinha mais umas 15 acessas em toda a casa. Foi preciso chamar o Corpo de Bombeiros. Ninguém segurava ele" (sic). 
        O pai de Denis acrescentou: "Tem épocas que ele está mais tranquilo. Mas já me disse que tem algo na sua cabeça que não o deixa descansar, mas que não pode falar muito a respeito ‘por motivos de segurança’. Ontem, a coordenadora da escola nos contatou. Pensávamos que tivesse relação com a queda de rendimento, mas ela nos pediu que comparecêssemos à escola. Na reunião agendada, nos contou que Denis foi pego se autolesionando na hora do intervalo. Ao ser interrompido, não falava coisa com coisa. Só dizia: 'Não me interrompam. Tenho uma missão! Vocês saberão qual será minha verdadeira identidade'" (sic).

Considerando o caso clínico 13A1-I, julgue o item seguinte, com base no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e na psicopatologia.


Denis não apresenta critérios para diagnóstico de psicose funcional.

Alternativas
Comentários
  • A psicose orgânica refere-se a uma condição reversível ou não de disfunção mental, que pode ser identificada como um distúrbio da anatomia, fisiologia ou bioquímica do cérebro.    A psicose funcional refere-se a uma condição de disfunção mental, identificada como esquizofrenia, uma doença afetiva maior, ou outros distúrbios mentais com características psicóticas

    Vide Dalgalarrondo.

    http://www.psiquiatriageral.com.br/emergencia/urgencia.htm#:~:text=A%20psicose%20funcional%20refere-se,distúrbios%20mentais%20com%20características%20psicóticas.

  • Alguém explica o erro dessa questão rs

    Denis possui possíveis hipóteses diagnóstica de esquizofrenia... E de acordo com o comentário da colega a baixo: ''A psicose funcional refere-se a uma condição de disfunção mental, identificada como esquizofrenia, uma doença afetiva maior, ou outros distúrbios mentais com características psicóticas''

    Não entendi essa questão rs

  • Eu errei também, por achar que ele apresenta sim um quadro de esquizofrenia. Porém não consegui achar um motivo para não ser esquizofrenia (comparei com outros transtornos psicóticos e transtorno de personalidade esquizotípica....) e nada.

    Agora eu penso que a questão pode está certa por dois motivos: ou não se fecha diagnóstico de psicose funcional até que seja adulto (e por isso não apresenta o critério) ou o disgnóstico de psicose funcional ser muito abrangente e não constituir um diagnóstico, devendo estar escrito "esquizofrenia" por ser o termo mais específico.

    Mas não achei nada que comprovasse essas duas hipóteses.

  • Tailla, não acho que seria suficiente, já que a esquizofrenia pode ser diagnosticada na adolescência ou no início da vida adulta. É uma questão de difícil compreensão do gabarito ou está errada. :(

  • Não entendi!

  • É importante ressaltar que o diagnóstico é evolutivo, sendo necessário um mínimo de 6 meses de doença, incluindo a fase ativa. ("Psicoses Funcionais na Infância e Adolescência". Tegan, Sergio K. Maia, Anne K)
  • Acredito que está errada devido ao tempo de apresentação dos sintomas. No DSM é colocado que são necessário 6 meses para fechar o diagnóstico.

    No texto, os comportamentos que apontam uma psicose são apresentados com o lapso temporal de "há 3 meses".

    Acredito que seja isso.

  • Vamos solicitar comentário do professor pessoal. Muitos ficaram na dúvida!

  • Gente... questãozinha capciosa essa, viu... 

    Primeiro uma dica: em questões de Psicopatologia assim, em especial da banca CESPE, em que um mesmo caso clínico é utilizado para várias questões, é importante que o candidato analise todas elas conjuntamente. Isso porque uma questão pode ajudar na resposta de outra e agregar informações para um entendimento mais completo do caso.

    Agora vamos lá...

    As psicoses funcionais são assim denominadas por oposição às psicoses ditas orgânicas (para as quais se poderia detectar uma causa orgânica) e às psicoses psicogênicas (que estariam claramente associadas a um fator psicodinâmico desencadeante). Nesta classificação, o enfoque é consistente com a etiologia do quadro, sendo a esquizofrenia a principal representante deste grupo.

    Daí... você que respondeu todas as questões da prova crente que se caracteriza por um quadro de esquizofrenia escorregou nessa questão aqui, não é mesmo?!?

    Pois é... não é um quadro de esquizofrenia... não ainda... E por que não é, prof? Bom... Primeiro porque a banca está aqui te afirmando que não é com está afirmativa correta. Segundo, porque não está muito claro a configuração dos sintomas clássicos da esquizofrenia: não há uma conclusão concisa sobre sintomas alucinatórios; não há um delírio constituído, estando os acontecimentos mais para ideação paranoide; não acredito num afeto embotado do paciente, visto as manifestações em relação à irmã relatadas; nem apresenta anedonia ou avolia, visto seu interesse por jogos e redes sociais. E cá pra nós... ao menos em se tratando de questões de concurso, quando se tratar de um transtorno esquizofrênico, a banca focará nos sintomas psicóticos, em especial os positivos, mais especificamente ainda, deixando claras as alucinações auditivas.... Vai, por mim...

    Assim sendo, minha hipótese diagnóstica é de Transtorno da Personalidade Esquizotípica. Pessoas com tal transtorno apresentam um padrão, ao longo da vida, de aspectos da personalidade em que há desconforto em relacionamentos pessoais, sobretudo à medida em que a intimidade aumenta. Elas têm dificuldades e desconfianças nas relações interpessoais e apresentam, com certa frequência, distorções cognitivas (na forma de perceber e interpretar os fatos) e perceptivas (têm sensações estranhas, percebem coisas no seu corpo, ao seu redor), relacionadas, às vezes, à paranormalidade, a percepções anômalas.

    Para o diagnóstico são necessárias cinco ou mais das seguintes características:



    Lembrando que esse transtorno da personalidade também consta no rol do espectro da esquizofrenia, pela similaridade do quadro. O transtorno da personalidade esquizotípica pode ser diferenciado de esquizofrenia por sintomas sublimiares associados a características persistentes de personalidade, no nosso caso manifestos desde a infância do paciente.

    Agora tal transtorno pode sim, algumas vezes, anteceder o início da esquizofrenia, o que pode até ser o caso de Denis que está começa a apresentar sintomas que podem se configurar, após um acompanhamento mais profundo, como psicóticos. Quando um indivíduo tem um transtorno psicótico persistente (p. ex., esquizofrenia), antecedido de transtorno da personalidade esquizotípica, o transtorno da personalidade deve ser também registrado, seguido de “pré-mórbido" entre parênteses.


    GABARITO: CERTO.