SóProvas


ID
5051929
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Câmara de Arcos - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

    Como é sabido, a infância não é algo que tenha existido desde sempre. Crianças sempre existiram, obviamente, mas o que entendemos por infância é um conceito recente em termos históricos. Basta lembrar que muitos de nós tiveram avós que trabalhavam na roça desde cedo e que se casavam aos 12, 13 anos. E só não se casavam antes porque o ato de casar estava ligado ao ato de engravidar. Assim, era necessário esperar a primeira menstruação não da menina, mas da mulher.

    É comum pessoas que visitam povos indígenas ou comunidades ribeirinhas da Amazônia se espantarem com a diferença do que é ser uma criança para esses povos e comunidades. O primeiro espanto costuma ser o fato de que meninos e meninas mexem com facas, em geral bem grandes, no cotidiano. Fazem quase tudo o que um adulto faz. Nadam sozinhas no rio, escalam árvores altas, cozinham, caçam e pescam. Aprendem com os adultos e com as crianças mais velhas.

    Não é que não se tenha cuidado com as crianças, mas o cuidado tem outras expressões e significados, obedece a outro entendimento da vida, variando de povo a povo. Dias atrás um amigo estava numa aldeia indígena e viu um menino pequeno ligando um motor de barco. Ele de imediato avisou ao pai que o filho estava mexendo com algo que poderia ser perigoso. O pai limitou-se a dizer, devolvendo o espanto: “Mas este é o motor dele”.

    É possível concluir que, nesta aldeia, para este povo, assim como para outras comunidades que vivem uma experiência diversa de ser e de estar no mundo, ser criança é outra coisa. O que quero sublinhar aqui é que nada é dado e determinado no campo da cultura. A infância foi inventada pela sociedade ocidental e continua sendo inventada dia após dia. Não existe nenhuma determinação acima da experiência de uma sociedade – e dos vários conflitos e interesses que determinam essa experiência – sobre o que é ser uma criança.

    Nesta época, na sociedade ocidental, a criança deve ser protegida de tudo. Mas não só. Há um esforço de apagamento de que a criança tem um corpo. Não um corpo para o sexo. Mas um corpo erotizado, no sentido de que meninos e meninas têm prazer com seu próprio corpo, têm um corpo que se experimenta.

    Esse apagamento do corpo da criança se entranha na vida cotidiana e também na linguagem. Eu mesma costumava escrever nos meus textos: “homens, mulheres e crianças fizeram tal coisa ou estão sofrendo tal coisa”, ou qualquer outro verbo. Até que uma amiga me chamou a atenção de que crianças têm sexo, e eu as estava castrando no meu texto. Então, passei a escrever: “homens e mulheres, adultos e crianças...”. Conto isso apenas para mostrar que rapidamente internalisamos uma percepção geral como se fosse um dado da natureza e, na medida que a assumimos como fato, paramos de questioná-la.

    Quando os adultos tentam apagar o corpo das crianças, criam um grande problema para as crianças. E para si mesmos. É um fato que as crianças têm sexualidade. Não é uma escolha ideológica. Essa experiência é parte da nossa espécie e de várias outras. Qualquer pessoa que tenha filhos saudáveis ou acompanhe crianças pequenas próximas sabe que elas se tocam e descobrem que seus pequenos corpos podem lhes dar prazer. E esta já se mostrou uma experiência fundamental para uma vida adulta responsável e prazerosa no campo da sexualidade, que respeite o corpo e o desejo do outro, assim como o próprio corpo e o próprio desejo.

    Qualquer adulto que não recalcou sua memória destas experiências com o corpo se vai lembrar delas se for honesto consigo mesmo. Quem tem corpo, tem sexualidade. O que não pode ter é violência contra esses corpos.


(Texto especialmente adaptado para esta prova. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/12/opinion/1520873905_5719 40.html. Acesso em: 12/12/2019.)

Considerando a grafia de palavras situadas no texto, analise as afirmativas a seguir.

I. “erotizado” (5º§) está escrita corretamente.

II. “internalisamos” (6º§) está escrita incorretamente, pois o correto é escrever “internalizamos”.

III. “prazerosa” (7º§) está escrita incorretamente, pois o correto é escrever “prazeirosa”.

Está correto o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • Emprego do s

    Emprega-se a letra s:

    - nos sufixos -ês, -esa e –isa, usados na formação de palavras que indicam nacionalidade, profissão, estado social, títulos honoríficos.

    Chinês, chinesa, burguês, burguesa, poetisa.

    - nos sufixos –oso e –osa (qua significa “cheio de”), usados na formação de adjetivos.

         delicioso, gelatinosa.

    - depois de ditongos.

       coisa, maisena, Neusa.

    - nas formas dos verbos pôr e querer e seus compostos.

       puser, repusesse, quis, quisemos.

    - nas palavras derivadas de uma primitiva grafada com s.

        análise: analisar, analisado

        pesquisa: pesquisar, pesquisado.

    Emprego do z

    Emprega-se a letra z nos seguintes casos:

    - nos sufixos -ez e -eza, usados para formar substantivos abstratos derivados de adjetivos.

      rigidez (rígido), riqueza (rico).

    - nas palavras derivadas de uma primitiva grafada com z.

        cruz: cruzeiro, cruzada.

       deslize: deslizar, deslizante.

    Emprego dos sufixos –ar e –izar.

    Emprega-se o sufixo –ar nos verbos derivados de palavras cujo radical contém –s, caso contrário, emprega-se –izar.

       análise – analisar                              eterno – eternizar

    Fonte:

  • gaba b

    I. “erotizado” (5º§) está escrita corretamente. (correto)

    II. “internalisamos” (6º§) está escrita incorretamente, pois o correto é escrever “internalizamos”. (certo)

    III. “prazerosa” (7º§) está escrita incorretamente, pois o correto é escrever “prazeirosa”. (errado)

    pertencelemos!

  • GABARITO - B

    Pode ajudar na resolução:

    Quando a palavra de origem tem " s" repetimos o " s".

    Análise - Analisar

    Improviso - Improvisar

    Se a palavra de origem não possui " s" usamos " z".

    Internalizar - Internalizamos

    economia - economizar

    III. “prazerosa”.